Pouco tempo depois fui eu que entrei no hipermercado a cantarolar para os meus botões: “Onde estás? Vem cá fazer-me feliz…”
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Isto não é publicidade, é uma declaração de amor
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Façam de conta que ainda é dia 25
sábado, 20 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Negra Sombra
Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.
Cando maxino que es ida,
no mesmo sol te me amostras,
i eres a estrela que brila,
i eres o vento que zoa.
Si cantan, es ti que cantas,
si choran, es ti que choras,
i es o marmurio do río
i es a noite i es a aurora.
En todo estás e ti es todo,
pra min i en min mesma moras,
nin me abandonarás nunca,
sombra que sempre me asombras.
ROSALÍA DE CASTRO
Este poema cantado é um dos mais belos e populares da Galiza.
Aqui cantado por Luz Casal, uma das minhas vozes espanholas preferidas.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Direitos Humanos e Religião: um caminho de dois sentidos
Quando normalmente se conjuga os tópicos direitos humanos e religião, a ligação que mais facilmente se estabelece é o princípio de que cada pessoa tem o direito de ter e vivenciar a sua própria religiosidade, quer em sintonia com alguma instituição religiosa, quer à sua própria maneira. Evidencia disso é o artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos humanos. E, sem sombra de dúvida, tem este principio a força da razão!
Mas, continuando a navegar sob a égide dos direitos humanos, coloquemos a questão ao revés. Poderá alguém invocar o exercício de uma religião, ou a autoridade de princípios religiosos para limitar, impedir, ou até prejudicar a terceiros de usufruírem também dos seus naturais direitos como individuos?
Essa é uma questão assaz pertinente, que por vezes fica na meia penumbra. Foi esse ângulo da aplicação dos direitos humanos que me fez evocar o vídeo de Barac Obama no dia em que a Declaração Universal dos Direitos humanos fez 60 anos.
Religião, fé e Deus são assunto que, costuma-se dizer, não devem ser objecto de discussão, no sentido pejorativo da expressão. Mas, é um tema omnipresente, quer queiramos, quer não. Sejamos mais ou menos liberais, um pouco desinteressados, agnósticos ou até ateus, somos de alguma forma influenciados pelo que aqueles que nos rodeiam assumem e vivenciam neste campo.
Sempre me fez confusão, pontualmente, observar alguns focos, fosse em que religião fosse, de demonstrações de extremismo, de fanatismo e, de um modo geral, de falta de razoabilidade.
Creio que a intolerância enraizada em máximas religiosas é das formas mais eficazes de incitar humanos a encarar o seu próximo com um ódio fulminante. Nem sei se os preconceitos raciais serão tão eficientes! Quando activada, é uma maneira certeira de fomentar insultos, agressões, ódios assassinos e genocídios sem sequer se piscar os olhos de hesitação. Sem se sentir remorsos e, ainda por cima, sentir orgulho de se ter feito algo louvável.
Por serem levados a crer, equivocadamente, que estão respaldados na autoridade absoluta e inquestionável de Deus e da sua Palavra revelada, acham que todos os estão fora de uma obediência a essas directrizes já estão condenados. Na sua visão da vida, eles apenas limitam-se a cumprir a punição merecida. Encaram-se a si mesmos como uma espécie de “dedo de Deus”. São máquinas de guerra perfeitas. É assustador!
O bom senso e o proverbial amor divino deveriam fazer as pessoas pensarem que, o que para elas é realmente importante, e até pode ser encarado como sagrado, outro humano pode e tem realmente o direito - até de um ponto de vista teológico - dado por Deus de ter outra escolha, outra opção.
Se outra pessoa estiver errada, não há de Deus ter a suprema sabedoria e o infinito poder para corrigir ou punir os seus próprios filhos?
Mesmo que alguém tenha uma forte convicção na sua fé, não entende que existe um limite?
Não entende que desprezar, insultar e até promover ódios assassinos nada tem a ver com fé e na realidade nada resolve?
Como se pode exigir que se respeite o seu direito a assumir uma religião e não conceder a outros um direito semelhante quando têm visões diferentes da vida?
Por vezes existe o extremismo religioso oculto. Algumas pessoas ostentam uma polidez e uma conversa politicamente correcta, mas nos seus pensamentos aninham um preconceito cego contra o que é diferente.
Assim, um dia, quando por algum factor inesperado, “o verniz estalar”, essas pessoas não terão problemas em “punir” quem no seu ponto de vista merece esse castigo. São uma espécie de minas terrestres enterradas no solo; à primeira vista a paisagem parece bonita e inofensiva, até que alguém pisa o engenho e o efeito mortífero faz a sua aparição.
Por exemplo, na antiga Jugoslávia, a sã convivência entre católicos, muçulmanos e ortodoxos foi uma realidade durante décadas. As pessoas davam-se bem como vizinhos, colegas de trabalho e de escola. Mas, ao serem provocados e manipulados os seus sentimentos étnicos e religiosos, os mesmos com quem conviveram, foram alvo de actos cruéis. Violência e genocídios foram perpetrados por aqueles que antes pareciam não ser capazes de os demonstrar.
Eu sei que o que se passou nesta parte da Europa foi mais complexo do que apenas simples diferenças religiosas, mas é um facto que elas também estiveram no cerne do ódio e da matança. Foram invocadas e mobilizaram.
Não pretendo de maneira alguma com esta conversa diminuir o direito de alguém - se o desejar - viver, assumir e até ter um espírito missionário da sua fé. Também não embarco na ideia de que se pode falar de tudo, mas não de religião. Como qualquer assunto é um tema válido, interessante e, no mínimo, pedagógico.
A questão é relembrar que existe um limite entre sentir-se bem numa vivencia religiosa e, impô-la impiedosamente a outros; uma linha demarcatória entre acreditar e viver uma fé e, usar os meios à sua disposição para prejudicar quem não os compartilha; uma fronteira entre a religião poder ser uma força positiva numa comunidade - seja a família ou o mundo - e, ser uma energia geradora de preconceito e ódio.
A prática de uma religião é um direito fundamental de todo o ser humano, com a mesma intensidade que ele tem o dever de respeitar genuinamente quem não compartilha esses valores.
Admiro pessoas de convicções, sensatas e equilibradas; tenho medo, mesmo muito medo do fanatismo religioso. O que está visível e o que está encoberto!
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Porque ainda se morre de amor
Um sentido e profundo testemunho, Melões Melodia.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
60 anos
Veio-me à mente parte de um discurso de Barack Obama que recentemente vi. Clarividente e sensato quando teve que falar cerca de religião e de valores universais.
Para mim, três frases chaves:
“...a democracia exige que aqueles motivados pela religião traduzam suas preocupações em valores universais, ao invés de específicos de uma religião.”
“...o melhor que podemos fazer é agir de acordo com aquelas coisas que todos nós vemos, e que todos nós ouvimos. A jurisprudência é bom senso básico.”
“...as pessoas estão cansadas de ver a fé ser utilizada como ferramenta de ataque.”
Termino por transcrever parte da informação deixada junto ao vídeo no Youtube:
Uma advertência: Apesar do que possa parecer, Obama se declara cristão praticante, e o discurso na íntegra contém também passagens não tão sensatas quanto esta e de cunho pró-fé. Considere o trecho como uma espécie de melhores momentos, do ponto de vista secular.
Segue o endereço onde a íntegra do discurso, em inglês, pode ser vista:
Call to Renewal speech (proferido em 28 de junho de 2006, duração: 39m45s)
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Concerto de Aranjuez
Hoje apeteceu-me mesmo escutar esta melodia.
Será do feriado?
Será da pacatez do outono?
Seja lá qual for a razão, são uns minutos em a vida é tão linda!
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Tempos de crise (revisited)
Não sei o que fiz, mas dei cabo de um antigo post com esta fotografia. Azelhices!!!
Mas, como gosto muito dela volto a coloca-la outra vez aqui.
A legenda que fiz continua a mesma:
Foto de 1936, altura em que a palavra crise tinha um real significado.
Um dezembro pessoal
Dezembro.
Para mim é um mês que inflama a vontade de deixar embaciar a janela onde observo o mundo.
Um mês frio, em que só sabe bem estar em casa, enrolado numa manta a praticar desinteressadamente aquele desporto chamado zapping; ou então rever algum daqueles filmes onde já sabemos as falas e em que partes vamos rir ou chorar.
A ler um livro, também. Embora confesse que ultimamente tenho que ler três vezes a mesma coisa, para entender o que leio, porque a minha cabeça teima separar-se da visão e voar para outros mundos.
A fingir que se dorme, porque apetece apenas que não nos digam nada, que não nos façam perguntas, nem nos queiram envolver num diálogo. Talvez porque apenas sabe bem ter os olhos fechados.
Um mês que nos quer impingir dose maciças de alegria em conserva; que quer tecer um mundo imaginário em que existe música no ar, sorrisos nas pessoas, boa vontade e generosidade a abarrotar em cada esquina. Não suporto. Apetece-me subir acima de uma estátua, no meio de uma praça qualquer, e com um megafone questionar, como se fosse um profeta louco: “Onde estão no resto do ano?”
(Raios partam esta celebração que visa apenas apaziguar a nossa consciência colectiva…)
Um mês que nos quer convencer que vamos renascer em breve num novo ano, onde vamos todos, fingindo ingenuidade, dizer: “Feliz ano novo, este ano é que vai ser!”
Como se não soubéssemos que este ritual está gasto de milénios e que é apenas uma maneira de nos continuarmos a iludir num mundo em que ninguém está interessado em mudar nada.
Dezembro, Dezembro…
Mas, sabes que este ano estou a gostar mais de ti?