Primeiro, vi a notícia na telegráfica frase colocada em rodapé no programa informativo da manhã. Pisquei com força os olhos e decidi esperar por uma segunda leitura, para ter a certeza de que não se tratava de uma alucinação, provocada pelo sono que teimava em abandonar o cérebro. A repetição da frase, passados uns minutos, veio confirmar a surpresa. Michael Jackson morreu.
Não acho que alguém - relembrando as palavras da sabedoria popular - só pelo simples facto de ir embora ou morrer se torne inexoravelmente boa. O conceito que tenho de alguém, enquanto vive e age, continua a ser válido, pese qualquer mudança na sua situação, por mais dramática que seja. No entanto, sempre é lamentável o desaparecimento de um ser humano. Representa a derrota diária da tentativa de dar um sentido á nossa existência; anuncia repetidamente a grandiosa incoerência deste grão de pó que navega, ou não, no universo.
Filosofias á parte, o desaparecimento de MJ deixou-me abatido. Como artista, fazia parte das boas coisas da minha vida; daquelas coisas que adornam, que dão som e cores, que estão suavemente presentes. Como não ficar triste, se, para complicar, sou muito conservador de memórias?
Thriller foi um álbum que marcou a minha vida. Para lá das músicas, pois claro! Recordo que adquiri-o usando a técnica do cravanço, sustentado por um choradinho meio infantil, que usava na época. Foi encomendado na revista do Circulo de Leitores e, acto posterior, passei dias a perguntar se ele já tinha chegado. Quando finalmente chegou, instalei-me no sofá, depois de certificar-me que ninguém entraria na sala, e estreei solenemente a nova aparelhagem de casa (auscultadores fofinhos incluídos). Ainda hoje lembro o susto que apanhei quando a música que deu o nome ao álbum iniciou-se com o barulho de uma porta a abrir lentamente, e eu pensei que era a porta da sala…
E o MJ estará sempre ligado a esta pequena história da minha vida.
Mais recentemente vi um programa da BBC acerca dele, em que se deixou filmar no seu quotidiano e até respondia a algumas questões, inclusive acerca da hipotética acusação de molestar crianças. Deu-me pena. Parecia um desafortunado que não sabia em que mundo andava. Tive a sensação de ver alguém perdido na vida e a quem toda a gente queria estar perto para sacar alguma coisa. Não acredito que fosse feliz. Se o era disfarçou bem.
Pode ser pecado dizer o que vou dizer, mas tenho mais pena pelo que viveu do que pela sua morte. Gostava que continuasse vivo, que a sua tournée fosse um sucesso enorme, que renascesse das cinzas qual Fénix, que encontra-se alguém que o amasse pelo que era como pessoa, que muda-se a sua vida e, fosse feliz. Nem que fosse por um instante. Acho que merecia...
Creio que a sua morte dói para quem fica. A saudade, a falta, as memorias. Quem morre, já não deve preocupar-se com essas coisas.
Paz á tua alma MJ! Que a tenhas agora, porque parece-me que em vida não foste bafejado pela sorte!