Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
7 comentários:
Sou um grande apreciador do Caeiro mas nunca deixo de me maravilhar com o Álvaro de Campos.
Um grande abraço
Pois!
"A nossa realidade é o que não conseguimos nunca."
Um abraço amigo.
Álvaro de Campos será sempre o meu "engenheiro" favorito.
(É pela falha do que seríamos que se deve valorizar sempre o que somos...) ;)
Álvaro de Campos, perfeito como sempre, mais palavras para quê...
special k,
sp,
catatau,
unfurry,
Fico contente que também compartilhem o meu gosto em ler e citar este poeta.
Poderosas as suas palavras!
Abraço aos 4
Atrasado, mas com "atenuantes" venho dar o meu total aval a Álvaro de Campos e a este poema que tem muito a ver com todos nós, e contigo de uma forma mais incisiva.
Abraço.
Pinguim,
Nada atrasado, meu amigo. Tens a melhor das justificações...
Abraço
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