Há alguns anos li um livro de Miguel Esteves Cardoso cujo nome já não me lembro, mas um dos capítulos com o tema “Os amigos e os amigalhaços” impressionou-me tanto que as fotocópias dessas páginas ainda hoje me acompanham para as reler de vez em quando. Com o devido respeito pelos direitos de autor, vou tomar a liberdade de transcrever algumas passagens:
“...nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar – todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas.”
“O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão.”
“Quando se é amigo de alguém, também se está a dizer «Toma – eis este poder sobre mim». Quanto maior for o poder de fazer alguém feliz, maior também é o poder de magoar.”
“A amizade é uma condição que nunca pode ser excepcional. Tem de ser habitual e eterna e previsível. E a economia dela nota-se mais quando reparamos que, sempre que não estamos com os nossos amigos, estamos sempre a falar deles. É bom dizer bem de um amigo, sem que ele venha a saber que dissemos. E ter a certeza que ele faz o mesmo, pensando que nós não sabemos.”
“A amizade vale mais que a razão, o senso comum, o espírito crítico e tudo o mais que tantas vezes justifica a conversação, o convívio e a traição. A amizade tem de ser uma coisa à parte, onde a razão não conta. Ter um amigo tem que ser como ter uma certeza. Num mundo onde certezas, como é óbvio, não há.”
“Ser amigo sem esforço, sem sacrifício, é ser amigo sem amizade. Gostar das pessoas é fácil. Ser amigo delas não é. Mas, as coisas que valem a pena não podem deixar de ter a pena que valem. É pena não se poder ser amigo de toda a gente, mas um só amigo vale mais do que toda a gente. Porquê? Sei lá. Mas vale”
Ámen