Tenho uma paixão por livros. Ainda pequeno, estudante, gostava de ir a uma livraria nos “furos” das aulas e passar lá o tempo a desfolhar livros. Hoje ainda me admira não me terem posto a andar por estar ali a ver livros e não os comprar. Deviam ter pena. (“Coitadinho, tão pequenino e já tão sozinho, quem tem que vir aqui…”) Mas, não. Não era esse o caso. Continuo tão apanhado por qualquer papel que tenha letras e bonecos que se me passam para a mão nem que seja uma publicidade de um hipermercado, acaba a vida á minha volta. Dependências…
Dessa época escolar lembro-me de um livro biográfico sobre Fernando Pessoa. Gostava de ver as fotografias sobre a vida daquele homem magro e tristonho. Folheei-o muitas vezes. Algo me atraía naquela história. Com o tempo fui conhecendo a sua poesia, tentando entender o seu mundo, no fundo, tinha a sensação de que algo na sua escrita tinha a haver comigo. Gosto de ler Pessoa, mas se tivesse que escolher um heterónimo, Álvaro de Campos ganhava o concurso.
Voltando ao livro já referido. Eu olhava para aquelas fotografias e pensava. Se me tivesse cruzado com um homem assim, de figura tão simples e deslavada, nem o notava.
Mas, como rendi-me ao poder da sua palavra escrita, á sua riqueza de expressão, á sua mente prodigiosa.
E tenho eu pensado nestes tempos todos:
Para que lhe serviu? Foi feliz assim? Que grandes questões ele pode responder? Ou simplesmente escreveu porque era a sua natureza escrever?
(Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim! )
Pessoa consegue expressar de uma maneira grandiosa e eloquente as duvidas que de um jeito mais pequeno também tenho. Reflecte desassombradamente em temas como a verdade, a existência e a identidade.
Mas, que me pareceu um homem triste e perdido neste mundo, parece…(Como eu)
(Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?)
Isso leva-me constantemente a pensar para que serve o conhecimento. Sou muito curioso, procuro insistentemente respostas, não me contento com o que toda a gente diz.
Mas, sempre há mais e mais para saber. E que respostas tenho?
Não tenho nem um pingo do enorme oceano que Pessoa é, mas entendo bem o seu cansaço da vida. Lembra-me uma expressão popular enuncia que “quem aumenta o seu conhecimento aumenta a sua dor.”
Será porque não há respostas? Será porque elas são infinitas? Sempre existirá um porquê no virar da esquina?
Consola-me que um génio como Pessoa escreva sobre algo que também é a minha preocupação. Bom para mim… (Afinal não sou maluco por pensar nisto)
Mas, para mim cada vez mais está falida a ideia de que tudo neste mundo tem um sentido á nossa medida. Tem que existir um sentido, uma razão, um porquê.
Mas, humildemente reconheço que não temos capacidade de o entender. Parece que somos apenas elos de uma cadeia de eventos que tem que seguir, doa a quem doer.
A natureza está-se completamente borrifando para os nossos sentimentos como humanos, e para as nossas noções de moral e ética. É fria, implacável no seu trajecto. Esmaga quem se atravessa no seu caminho. Os humanos poderiam desaparecer da face deste planeta e o curso da vida continuaria neste ponto de pó no universo.
Porque então temos consciência de nossos sentimentos? Para que servem?
Para sofrermos com a nossa impotência e sentimento de orfandade? Se estamos aqui apenas para passarmos os genes, porque não somos como os animais que o fazem com menos problemas existenciais?
(O único mistério do Universo é o mais e não o menos.
Percebemos demais as cousas — eis o erro, a dúvida.
O que existe transcende para mim o que julgo que existe.
A Realidade é apenas real e não pensada.)
Oh, Pessoa!
Obrigado por falares destes assuntos de uma forma tão bela. Obrigado por fazeres sentir ao comum e ignorante dos mortais, como eu, que as duvidas existências podem ser uma obra de arte.
(O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.)
(Este é um desabafo de um completo leigo em poesia de Pessoa. Apenas gosto de saboreá-la e pôr-me a inventar. Cruzei os sentimentos que me desperta a leitura da sua obra com os meus pensamentos. Não pretendo passar por entendido na analise de sua obra que é monumental e digna de sagrada reverência. Sendo ignorante neste estudo, escrevo como pessoa comum a ser iluminada por este génio. Tenham paciência comigo!)
6 comentários:
A leitura, tal como a música e o cinema é um bichinho que tenho cá dentro desde pequenino, o meu problema é que o vício da internet me rouba muito tempo à leitura.
O conhecimento nunca fez mal a ninguém, ainda que muita gente possa achar inútil aprender certas coisas que nunca terão qualquer utilidade práctica.
Um abraço.
special k,
também comungo das três paixões. mas, a leitura é especial devido aos momentos que me permite estar sozinho e aprender. Estar, no inverno, a ler num sofá enrolado num cobertor e com um chocolate quente... (bem, adiante). Também gosto imenso da net, mas chega a uma altura que me sinto farto e penso: "mas ando aqui ás voltas pra quê se já vi o que queria?"
abraço
Penso compreender-te tão bem nessas tuas viagens pelos livros... Abraço!
rato do campo,
bem hajas companheiro de viagens
abraço
A leitura tem sido desleixada por mim, ùltimamente, não só por culpa da net, mas também de jornais e revistas que normalmente leio; e quando digo leio, é que leio mesmo, não follheio, apenas; mas já estou a pôr ordem na casa...
Abraço.
pinguim,
bons planos sem duvida. Mas os jornais e revistas também são uma perdição.
abraço
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