quarta-feira, 25 de março de 2020

Cadências

Gosto da palavra cadência. Gosto do seu som, da semântica, do sentimento que me dá. Faz-me pensar na métrica do tempo. Do andar que tenho pelas sombras dos meus dias. Porque acho que a importância não está no chegar, mas no andar. E na maneira em que se anda. (Cá está!) Na cadência.

Estes dias estão a dar oportunidade de pensarmos nas cadências que tínhamos. Tudo era urgente, imperativo, sem hipóteses de trilhar outros caminhos e ritmos. Tretas! Tretas. Andávamos como os outros queriam. Agora, algo fora do guião, virou tudo de pernas para o ar. E, quando pensamos, descobrimos que pode haver outra coisa. É prematuro saber o quê, mas que esta cadência pode ser outra, pode.

domingo, 22 de março de 2020

Confissões


(O Evangelho segundo Lázaro, Richard Zimler)

quarta-feira, 18 de março de 2020

we can light up the dark / everyone has a spark


terça-feira, 17 de março de 2020

Cada lugar


Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
E o mundo nos leve pra longe de nós
E que um dia o tempo pareça perdido
E tudo se desfaça num gesto só
Eu Vou guardar cada lugar teu
Ancorado em cada lugar meu
E hoje apenas isso me faz acreditar
Que eu vou chegar… 


Hoje voltei à Mafalda Veiga.  Volto sempre. Por tudo e por nada. Desde o início da sua carreira musical que a acompanho (ou será ela que me acompanha?). Sinto um consolo em muitos dos seus versos, sinto um calor empático em muitas cadências. Mesmo sem explicação, sinto. E, isso basta. Tenho o seu primeiro LP em vinil com a esperança de um dia a encontrar e pedir o seu autografo.

Hoje devido a alguns dos versos da música "Cada lugar teu", a minha cabeça fugiu-me e demorei um bocado a encontrá-la. Quando a encontrei, estava fragmentada em mil pensamentos que custaram a encaixar. Por exemplo, falavam de como eu gostaria de ter sido entendido na minha incoerência. Se fosse certinho, corajoso e organizado, para que eu necessitava de apoio? Se fosse, como tudo na vida devia ser, porque procuraria longe, o que está disponível à mão? Se, se, se...

Passou. Foi o que foi. Caminhou-se o que se tinha que caminhar. Ficou que ficou, foi-se quem se foi. Saí da caverna onde vivia de sombras e olho para o sol. Guardei cada lugar em que passei. São meus agora também. Por isso não sou quem era, mas sinto que sou melhor. Apenas admito que não há nenhum lugar para chegar. Existe apenas o chão que vou pisando. E esse já vale a pena.

segunda-feira, 16 de março de 2020

Coçar

Numa rua sem gente, é que temos vislumbres do que somos. Ou do que não somos. É desalentador sentir os vazios dos espaços. Causam-nos verdades na pele. Senti uma delas a subir-me pelas costas e instalar-se na nuca e até ousar pensar em tentar dominar o cume da minha cabeça. Cocei a pele afligida com ansiedade. Mas não é assim que se dá cabo das verdades incómodas. Coça-se, alivia um pouco, mas volta o seu latejar e a sua ambição.

Esta já é uma coceira antiga, mas que, de vez em quando, larga-me, vai passear por ruas largas cheias de gentes e luzes. Mas acaba por voltar e saltar-me para cima, sem cerimónias. Especialmente quando estou só. Só de sozinho ou só de acompanhado. Também.