terça-feira, 27 de outubro de 2009

Jean



A boa música não têm prazo de validade.
Esta está no meu Top ten!


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Quanto vale um abraço?



Proveniente do blogue Por Detrás do Muro recebi “um muito grande, e verdadeiramente fraterno” abraço, representado pelo desenho acima.

O André Couto é o autor de uns textos impregnados de substância, de carácter e, simultaneamente, temperados com as inquietações de quem observa e sente o mundo que nos rodeia, e deslumbra-se com as pequenas/grandes maravilhas que a vida, nos seus mistérios, proporciona.

Gostei do desenho. É bonito. Gosto de gatos e de ilustrações assim. Fofinhas e de traços cândidos.

Por todas estas razões recebo com muito estima e gáudio este abraço virtual, ainda mais com a generosidade das palavras que o acompanham.

 

O acto de receber este prémio implica um exercício de escrita para responder a três questões. São elas:

 1 - Quem mais gostas de abraçar no presente?

2 - Quem nunca abraçarias?

3 - Quem davas tudo para poder abraçar?"

 

Bem, aqui vão as respostas:

1 – Primeiro tenho que dizer que não sou propriamente uma pessoa efusiva. Considero o abraço um acto exclusivo para com quem tenho uma forte amizade e confiança. Dou um abraço quando tenho mesmo vontade de o dar. Admito que, por outro lado, tenho abraçado pouco a algumas pessoas a quem o desejava fazer mais.

2- Sendo vago, nunca abraçaria alguém sem apetecer-me. Por nenhuma razão senão a de que não existiria sinceridade da minha parte. O abraço não é para mim, um panfleto que se entrega à entrada da estação de metro. Para a maioria das pessoas com quem lido diariamente um educado aperto de mão chega, e em alguns casos raros, até acho demais.

3- (Ui… Que maneira dramática de colocar a questão! Dar tudo…)

Vou embarcar na ideia de que, na resposta, devo referir a quem gostaria de abraçar um dia. Tenho que mudar o tom do meu discurso, pois realmente, existem alturas em que gostava de ser de outra maneira. Acho que realmente devo expressar um pouco mais os meus sentimentos. Mas, são hábitos instintivos de autodefesa, acumulados durante muito tempo. Que se há-de fazer?

Comecemos. Gostaria de dar um abraço a algumas pessoas que têm conquistado a minha admiração e amizade no decorrer destes quase dois anos de blogosfera.

Gostava de dar um abraço ao meu pai, aos meus irmãos e a três amigos em especial. Um abraço dado depois de uma certa conversa. Um abraço dado mesmo após sofrerem uma decepção. Um abraço apenas. Nem eram precisas palavras.

 

Agora, ditam as regras que devo reenviar este abraço. Já tive oportunidade de em outras ocasiões mencionar, com destaque, alguns blogues que merecem a minha elevada estima. Deixo regularmente abraços neles quando comento. Hoje queria dedicar este prémio, um abraço e um beijinho aos blogues de meninas (perdoem a familiaridade…) que, com a sua presença, alegram o meu Castelo d’areia.

 

Violeta

Free_Soul

Carpe Diem

Paula Cristina Rocha

Cristina Siqueira

Jasmim (este com saudade…)


(E a resposta à pergunta colocada no título é, para mim: quando sincero, pode valer a vida!)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A verdade do espelho

Dei comigo, ao tentar enfunar o nó da gravata, a observar-me fixamente ao espelho. Não porque me preocupasse a conjugação das cores da roupa, queria simplesmente olhar-me olhos nos olhos. Pode parecer um exercício ridículo, e de facto, pensando bem, é. Com espectadores não atrevo-me a tal figura.

Quem recorde Aparição de Virgílio Ferreira, talvez não estranhe tal gesto. Recordo bem a parte em que Alberto, enquanto criança, tem a surpreendente visão de si mesmo perante o espelho.

Até ler o livro pensava que esta coisa absurda era mais um exclusivo meu. Desde cedo, desde que lembra-me ser gente crescida, que custava olhar-me fixamente no espelho. Verdade. Não sei porquê, apenas não me sentia confortável. Fazia os habituais rituais de higiene mecanicamente e mal podia, o olhar era automaticamente dirigido para os lados ou para baixo. Havia latente um mal-estar que não sabia explicar bem. Apenas existia e não sabia lidar com aquele misto de vergonha, medo e alguns outros pequenos ingredientes. Ali perdia todo o meu poder e pose.

Por vezes ousava desafiava-me. Olhava-me com um ar sério, enquanto agarrava tensamente o lavatório, e formulava mentalmente a pergunta: quem és? Repetia-a e repetia-a até sentir a cabeça vazia. Então era como se tudo ao redor do espelho gira-se num gigantesco caleidoscópio que deformava a realidade. Doía.

Fui com o passar do tempo suspeitando que por trás deste estranho espectáculo solitário existia uma inconformidade com a vida; ali estava, sem tirar nem pôr, a evidência de que não era eu quem vivia. Ali estava a pessoa a quem eu não podia enganar com tretas; ali estava a pessoa quem eu tentava sufocar cada dia; ali estava a pessoa de quem eu não podia fugir, nem que fosse para o ermo mais isolado da Terra.

Foram todas essas coisas que recordei num ápice, ao voltar a confirmar que o nó da gravata estava a meu gosto. Sorri. Continuei a olhei-me ao espelho. Estou num processo de reconciliação com o rapaz daquele lado. Já percebemos que estamos no mesmo lado. Somos amigos, confidentes e cúmplices. Por nossa causa o mundo já não gira à maluca. Mesmo que venham tempos difíceis - que virão! - pelo menos estamos em paz, e isso é uma mais-valia.