sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Tenho saudades de ti.

Sinto a tua falta.

Tenho saudades da cadência dos teus passos, do rumor das tuas chaves, da alegria do teu cumprimento.

Não consigo o que substitua

o calor do teu abraço, o arranhar da tua barba, os arrepios das tuas cócegas.

Faltas…

Que raio de filmes são estes em que não existe a tua cabeça no meu colo? (que bom a minha mão sentir o teu cabelo)

Que sabor pode ter este jantar se não o vens cheirar e dizer (só para me chatear) que perdeste o apetite?

Que noites são estas sem o calor do teu abraço e o compasso da tua respiração?

Sinto-me só.

Sem alguém que me diga que sou preocupado demais, que devo esquecer as chatices do trabalho, que os outros é que não me dão o real valor.

Sem quem me garanta que não sendo perfeito, sou perfeitamente transparente e desejado.

Sem uma pessoa que me dê abanão (se for preciso, um estalo) quando o pânico me quiser dominar.

Continuo a sentir a tua falta.

Que musica pode ser esta se não estás aqui para a compartilhar?

Que praias posso ir sem a marca dos teus pés descalços?

Que castelo visitar onde não tenha que te contar a história dele?

Tenho saudades tuas.

E, (por ironia) tu não as podes sentir de mim.

Se tu não sabes…

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

“O poeta é um fingidor”. Será o único?

Todas as pessoas fingem q.b. Se alguém nos mostra a roupa que comprou e que vemos que é feio como o breu, mas dizemos: é giro!

Quem não já foi comer na casa de um amigo e após um repasto intragável e insípido disse: “Que bom! Tens que me dar a receita…”

E estas são, pese o respeito pela moda e pela culinária, coisas insignificantes, decerto. Fingir pode ser uma saída para uma situação socialmente embaraçosa, mas também pode ser um modo de vida para simplesmente sobreviver. Sim, porque dizer aos que nos rodeiam os nossos reais sentimentos pode ser mais que embaraçoso. Pode enviar alguém para o hospital com o desgosto.

Dizer que se sente atraído por alguém do mesmo sexo, em certos meios, é pior do que a morte.

Assim, desde que me dei conta da complexidade do jogo social e familiar, que aprendi a arte do fingidor. Não por gosto. Por estratégia de sobrevivência. Não havia alternativa.

Ás vezes sinto que de tanto fingir, já não sei o que é sincero e o que é artificial.

Tenho a sensação de que fui congelando gradualmente os meus sentimentos. Gradativamente, os relacionamentos com as pessoas começam a não me importa. Aconteça o que acontecer.

Os laços familiares, as amizades, os contactos quotidianos. Parecem apenas personagens de uma peça de teatro onde estou a representar. Ando por andar.

Acho que vou explicar com uma comparação. É como dizer que fui perdendo o paladar. Posso comer o que seja que não me sabe a nada. Alimento-me porque sei que necessito. Mas, o prazer que alguém tem por estar a saborear algo que gosta, ou sentir que certo alimento necessita de mais um acerto no tempero, isso não tenho.

Nos sentimentos perdi o paladar. É esquisito.

No entanto, por vezes sou surpreendido por mim mesmo. Certas situações e certas pessoas fazem despertar esses sentimentos. Parece que é um choque que levo. Alguém que me atrai fisicamente, algum gesto que me agita interiormente, um cenário humano que me sensibiliza. Como que uma mensagem interior que me diz: “Este é o teu caminho, a tua sensibilidade congelada”. (Raios a partam!)

Claro, que se deixa-se guiar por esses impulsos estava tudo estragado. Esses sentimentos têm que ser “maquilhados”. Tem que continuar fechados num armário.

Mas, não adormecem. Continuam a dar sinais de vida como algo que quer sair de dentro de mim.

Ser um fingidor resolve o problema. Temporariamente. E cansa. Estou cansado.

Não sei durante quanto tempo vou ter forças, arte e engenho para continuar assim. Para fingir mais valia ser poeta.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Post scriptum

Alguém, que por algum erro do Google, veio dar a esta página deve estar a pensar que para tanta depressão ia ver um filme do Manuel de Oliveira acompanhado de um ceguinho e a escutar um fado. Acho que tem toda a razão. Eu sou o primeiro a querer falar (digo, escrever) de algo positivo e construtivo para quem queima as pestanas num computador e os euros na Internet.

Mas, tudo tem uma explicação. Tudo tem uma razão de ser.

(Tenho que deitar isto cá para fora.)

Anos de silencio. Ninguém que possa entender o meu dilema. Ninguém que por mais amigo fosse pudesse ter uma pequena solução. Cada um carrega as suas penas como pode.

Mas, aqui posso falar, explicar, gritar. Mesmo que ninguém leia, isto faz bem. Mesmo que esteja detrás de uma mascara, serve.

Quando tudo começou?

Vou começar pela primeira sensação estranha que tive. Bem cedo na adolescência, estranhava que as minhas preferências não eram bem iguais ás dos meus amigos. As meninas bonitas que tanto chamavam a atenção deles a mim não me diziam nada. Fixava a atenção nos do mesmo sexo.

Tinha duas teorias:

Primeiro, visto que tinha sofrido abuso quando criança por parte de rapazes mais velhos, imaginava que o meu cérebro agora a desenvolver a consciência do libido ligava a ideia de rapazes a prazer sexual.

Segundo, podia ser que visto estar em crescimento e muita insegurança sobre a minha imagem, fixava a atenção nos homens que eu achava que seria o modelo do que eu queria ser, fisicamente, quando crescesse.

Pensei que conseguia lidar com esta situação. Aprenderia a ver as raparigas como possibilidade de satisfação sexual e assim “treinaria” o meu cérebro qual cão. (“busca, busca…”)

Também, cresceria, tornar-me-ia um esbelto moço e deixaria de invejar os outros “machos”.

Mas, pelo sim e pelo não, fiz um pacto comigo: Se chega-se aos 20 anos com as mesmas tendências… Acabaria com a minha vida, pois seria uma mancha para a minha família e não saberia lidar com a situação. Antes morrer um que deixar os outros a morrer de vergonha.

Bem, o tempo passou e não cumpri o meu pacto. Tenho angústia de imaginar como isto poderá acabará um dia.

Imaginam o que é a minha vida. Uma fachada completa. Fugas para a frente a todo o tamanho.

Por isso este peso.

Já vi que não sou o único. Talvez seja é dos mais ingénuos a falar do assunto.

(Paciência!)

Assumi que pelo menos não vou mentir a mim mesmo. (Já é um começo…)

Pensar que tenho um problema sem solução deixa-me bloqueado. Não há maneira. Não há fórmula mágica. Não há milagre.

Existe um passo. Este espaço. Passo para quê? Nem eu sei. Talvez um testemunho silencioso, anónimo e ingénuo. Talvez um epitáfio perdido num cemitério virtual.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Castelo de Areia

Verão. Praia. Areia. Eis os ingredientes que em criança me faziam sonhar. Materializava esse sonho em horas dedicadas a construir na areia. Os castelos eram temas obrigatórios. Fascinava-me a ideia de fortaleza, de segurança, de controlo. Bem, mas sabia que primeiro tinha de investir no fosso. Uma primeira linha defensiva contra o inimigo: a maré. Um fosso capaz de conter as primeiras vagas “assassinas”. Depois dos fossos vinha a obra de arte: Um imponente, sólido e atraente castelo. Claro que com a prática ia modelando melhores torres, muralhas com ameias trabalhadas, pontes sobre os fossos, torre de menagem que se preze, e um espaço para mim no interior.

Ainda hoje, quando estou numa praia, a tentação de fazer castelos de areia é grande. Mas, sinceramente, um adulto entretido nesse passatempo, cria uma imagem patética a quem passa… Invejo quem tem filhos e pode, com a desculpa de ajudar o seu petiz, estar entretido nessa magnifica actividade. No meu subconsciente deve haver uma explicação para este meu gosto. Não tenho a certeza de qual é.

Mas, tenho uma teoria: a minha vida agora é um castelo de areia. Disso não tenho duvidas. Vivo num castelo de areia que construí com os anos. Tenho muralhas e fossos meticulosamente colocados. Evito que os outros me surpreendam e me magoem. Escondo atrás de portas trancadas quem eu realmente sou. Mas, não o esqueço, é um castelo de areia. Não é duradouro.
Que vaga o vai deitar abaixo? Quando? Vale a pena pensar nisso?



Ele nasceu para ser o melhor
Seus pais projetaram o futuro ideal
Nada lhes daria mais prazer do que vê-lo crescer bem

Mas naquela manhã encontraram um bilhete
Com palavras de dor e adeus
Daquele menino que agora queria ser alguém

É... pois é, meu bem...
Castelos de areia derretem quando a onda vem

O crente rezou durante toda a sua vida
Para ter um sinal do Senhor
Dias e dias dizendo a mesma oração: Amém

E quando seu peito doeu como luz
Ele pensou: Agora vou ver Jesus!
Mas a luz se foi e ficou só a dor no seu coração

É... pois é meu bem...
Castelos de areia derretem quando a onda vem

O cientista descobriu
Que o cérebro humano tem mais poder
Do que toda a vida na Floresta Amazônica

Mas tanta droga ele consumiu
Que seu pensamento o diluiu
E agora ele chora sua lágrima atômica

É... pois é, meu bem...
Castelos de areia derretem quando a onda vem

Estamos no ano 4 mil
Não existe mais calor nem frio
Ninguém morre, ninguém fica mais doente

Só uma coisa nos tira o sossego
É que apesar de sermos eternos
O medo é que neste fim sem fim
Seremos sugados pelo buraco negro

(Castelos de Areia - Paulinho Moska)

sábado, 24 de novembro de 2007

Falhar.

Esta é a palavra que mais se repete na minha existência. Falhar. Deixar de atingir objectivos, alvos, o que se deve ou se tem que fazer. Mas, por que falho?

Que "ganda" confusão…
Desconfio que é porque aquilo que devia atingir não é aquilo que quero. Sei que ser de determinada maneira é aquilo que os outros esperam de mim. Aquilo que produziria melhores benefícios. Aquilo que é consensualmente considerado certo.

Mas, após tanto tempo entendi que tenho uma camada de verniz que é para consumo público e que oculta o que sou, o que quero e o que considero importante. Conseguirei continuar assim? Valerá a pena continuar assim? Para quê? Será isso verdadeiramente falhar? Será que afinal consigo atingir o objectivo de ocultar-me?

Por vezes considero que o único fim da minha existência é ocupar um lugar. Tipo uma prateleira, que lá serve para segurar livros, ou um pneu que serve para o carro andar. Tenho que fazer coisas para segurar e fazer andar os que estão á minha volta. Mais nada…

E mesmo nisso estou a falhar.
Se calhar tinha mesmo que falhar. Não é vida para ninguém. Ninguém pode viver assim.

Bem vindo ao meu mundo. (Que maneira tétrica de começar… Imagine-se os próximos episódios.)