terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Isto não é publicidade, é uma declaração de amor

Nestes dias obsequiados por uma aragem glaciar, o consolo proveniente de qualquer coisa quente é um bem de primeira necessidade. Secretamente tenho a alegria de possuir o pretexto ideal para me enfrascar ainda mais de chocolates. O frio é que tem a culpa, argumento firmemente.


Nesta andança, recentemente tive uma sensação estranha ao passar na secção dos ditos cujos no hipermercado. Senti uma voz que chamava. Era fraca, mas impossível de ignorar. Dizia: “Sou tão bom; leva-me para casa; posso fazer-te imensamente feliz neste inverno tão rigoroso”. Franzi o sobrolho e pensei no que tinha bebido antes, não fosse estar a ser vítima das bebidas destiladas. Não, não era esse o caso! Decidi assim averiguar a proveniência do som. Fiquei surpreendido quando identifiquei a origem do som numa caixa de bombons de chocolate com pimenta. Uau! Isto nunca tinha provado. Mas, hesitei, pois decididamente não estava habituado a tal mistura. Pimenta?


Mas, cada vez que voltava às compras, lá soava-me o apelo. Incessantemente. Era muita insistência! Defendi-me com o poder da lógica. "Para mim, chocolate é para misturar, quando muito, com algo doce; a pimenta fica bem com o sal e é em bifes e saladas!" Não, não ousaria ultrapassar a linha conservadora do mundo dos sabores. Ponto final!

(Resultou durante uns dias)


Eu não era homem para ir às compras sem passar na secção de chocolates e a voz lá se mantinha, fiel como o canto do galo. Chegou o dia em que a minha lógica atingiu o prazo de validade. "Prontos, vou experimentar!" O pior que poderia acontecer era não gostar; talvez durante uns dias sentir um arrepio ao lembrar da mixórdia maluca a macular as minhas papilas gustativas. Pior que isso só se apanhasse uma intoxicação alimentar por o produto ter fugido à inspecção da ASAE.


Voltei resoluto ao famoso corredor. Quando o chocolate começou novamente a lengalenga do “leva-me para casa…” nem o deixei terminar a frase. Apanhei-o decidido.


Em casa, instalei-me. Abri a caixa e os papelinhos vermelhos escondiam um chocolate escuro como breu. Começamos bem, pensei. Saboreei o primeiro. O suave toque apimentado, mesmo que no inicio se estranhe, ao ter o dom de intensificar o sabor do cacau, – lá dizia com razão o Pessoa – entranha-se.

Entranhou-se tão bem, que o conteúdo da caixa desapareceu num ápice. Rendi-me.


Pouco tempo depois fui eu que entrei no hipermercado a cantarolar para os meus botões: “Onde estás? Vem cá fazer-me feliz…”

Depois de uns segundos, fiquei com os olhos arregalados! Já não estava lá nenhuma caixa! Corri com olhar desesperado todas as prateleiras, revolvi as caixas da frente para ver se havia alguma esquecida atrás. Nada, absolutamente nada…


Como posso viver sem ele?

(Malditas reposições que se atrasam tanto!)



sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Façam de conta que ainda é dia 25

Atrasei-me em colocar algo alusivo ao Natal no dia certo. Bem, assim, ao olharem para o cartoon imaginem por uns segundos que ainda é dia 25. Afinal, “no Natal ninguém leva a mal”.

(Ops! Acho que estou a trocar as comemorações…)





sábado, 20 de dezembro de 2008

Regresso

É bom ter-te de volta!


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Negra Sombra



Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.

Cando maxino que es ida,
no mesmo sol te me amostras,
i eres a estrela que brila,
i eres o vento que zoa.

Si cantan, es ti que cantas,
si choran, es ti que choras,
i es o marmurio do río
i es a noite i es a aurora.

En todo estás e ti es todo,
pra min i en min mesma moras,
nin me abandonarás nunca,
sombra que sempre me asombras.

ROSALÍA DE CASTRO


Este poema cantado é um dos mais belos e populares da Galiza. 

Aqui cantado por Luz Casal, uma das minhas vozes espanholas preferidas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Direitos Humanos e Religião: um caminho de dois sentidos

Quando normalmente se conjuga os tópicos direitos humanos e religião, a ligação que mais facilmente se estabelece é o princípio de que cada pessoa tem o direito de ter e vivenciar a sua própria religiosidade, quer em sintonia com alguma instituição religiosa, quer à sua própria maneira. Evidencia disso é o artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos humanos. E, sem sombra de dúvida, tem este principio a força da razão!


Mas, continuando a navegar sob a égide dos direitos humanos, coloquemos a questão ao revés. Poderá alguém invocar o exercício de uma religião, ou a autoridade de princípios religiosos para limitar, impedir, ou até prejudicar a terceiros de usufruírem também dos seus naturais direitos como individuos?


Essa é uma questão assaz pertinente, que por vezes fica na meia penumbra. Foi esse ângulo da aplicação dos direitos humanos que me fez evocar o vídeo de Barac Obama no dia em que a Declaração Universal dos Direitos humanos fez 60 anos.



Religião, fé e Deus são assunto que, costuma-se dizer, não devem ser objecto de discussão, no sentido pejorativo da expressão. Mas, é um tema omnipresente, quer queiramos, quer não. Sejamos mais ou menos liberais, um pouco desinteressados, agnósticos ou até ateus, somos de alguma forma influenciados pelo que aqueles que nos rodeiam assumem e vivenciam neste campo.


Sempre me fez confusão, pontualmente, observar alguns focos, fosse em que religião fosse, de demonstrações de extremismo, de fanatismo e, de um modo geral, de falta de razoabilidade. Diversas teorias podem ser dadas para tentar explicar o porquê de algumas criaturas entrarem nesse território nebuloso que são os desequilíbrios de fé. Mas, com o passar do tempo tenho começado a sentir cada vez mais suores gelados com a menção da palavra extremismo. Uma pessoa extremista faz a prática religiosa ultrapassar o seu universo pessoal, para, como um buraco negro, querer atrair tudo o que gravita à sua volta para ser alinhado, nem que seja à força, com o que considera serem as suas verdades.


Creio que a intolerância enraizada em máximas religiosas é das formas mais eficazes de incitar humanos a encarar o seu próximo com um ódio fulminante. Nem sei se os preconceitos raciais serão tão eficientes! Quando activada, é uma maneira certeira de fomentar insultos, agressões, ódios assassinos e genocídios sem sequer se piscar os olhos de hesitação. Sem se sentir remorsos e, ainda por cima, sentir orgulho de se ter feito algo louvável.


Por serem levados a crer, equivocadamente, que estão respaldados na autoridade absoluta e inquestionável de Deus e da sua Palavra revelada, acham que todos os estão fora de uma obediência a essas directrizes já estão condenados. Na sua visão da vida, eles apenas limitam-se a cumprir a punição merecida. Encaram-se a si mesmos como uma espécie de “dedo de Deus”. São máquinas de guerra perfeitas. É assustador!


O bom senso e o proverbial amor divino deveriam fazer as pessoas pensarem que, o que para elas é realmente importante, e até pode ser encarado como sagrado, outro humano pode e tem realmente o direito - até de um ponto de vista teológico - dado por Deus de ter outra escolha, outra opção.


Se outra pessoa estiver errada, não há de Deus ter a suprema sabedoria e o infinito poder para corrigir ou punir os seus próprios filhos?

Mesmo que alguém tenha uma forte convicção na sua fé, não entende que existe um limite?

Não entende que desprezar, insultar e até promover ódios assassinos nada tem a ver com fé e na realidade nada resolve?

Como se pode exigir que se respeite o seu direito a assumir uma religião e não conceder a outros um direito semelhante quando têm visões diferentes da vida?



Por vezes existe o extremismo religioso oculto. Algumas pessoas ostentam uma polidez e uma conversa politicamente correcta, mas nos seus pensamentos aninham um preconceito cego contra o que é diferente.


Assim, um dia, quando por algum factor inesperado, “o verniz estalar”, essas pessoas não terão problemas em “punir” quem no seu ponto de vista merece esse castigo. São uma espécie de minas terrestres enterradas no solo; à primeira vista a paisagem parece bonita e inofensiva, até que alguém pisa o engenho e o efeito mortífero faz a sua aparição.


Por exemplo, na antiga Jugoslávia, a sã convivência entre católicos, muçulmanos e ortodoxos foi uma realidade durante décadas. As pessoas davam-se bem como vizinhos, colegas de trabalho e de escola. Mas, ao serem provocados e manipulados os seus sentimentos étnicos e religiosos, os mesmos com quem conviveram, foram alvo de actos cruéis. Violência e genocídios foram perpetrados por aqueles que antes pareciam não ser capazes de os demonstrar. Parece que a intolerância e o ódio religioso estavam dentro das pessoas. Adormecido, mas latente. Apareceu a faísca e explodiu.


Eu sei que o que se passou nesta parte da Europa foi mais complexo do que apenas simples diferenças religiosas, mas é um facto que elas também estiveram no cerne do ódio e da matança. Foram invocadas e mobilizaram.



Não pretendo de maneira alguma com esta conversa diminuir o direito de alguém - se o desejar - viver, assumir e até ter um espírito missionário da sua fé. Também não embarco na ideia de que se pode falar de tudo, mas não de religião. Como qualquer assunto é um tema válido, interessante e, no mínimo, pedagógico.


A questão é relembrar que existe um limite entre sentir-se bem numa vivencia religiosa e, impô-la impiedosamente a outros; uma linha demarcatória entre acreditar e viver uma fé e, usar os meios à sua disposição para prejudicar quem não os compartilha; uma fronteira entre a religião poder ser uma força positiva numa comunidade - seja a família ou o mundo - e, ser uma energia geradora de preconceito e ódio.


A prática de uma religião é um direito fundamental de todo o ser humano, com a mesma intensidade que ele tem o dever de respeitar genuinamente quem não compartilha esses valores. A religião, ou os valores espirituais de alguém, só têm grandeza quando contribuem para que essa pessoa seja melhor; seja um bom membro da sociedade, mesmo para os que não compartilham as suas crenças e vivências. O resto é pura demagogia!


Admiro pessoas de convicções, sensatas e equilibradas; tenho medo, mesmo muito medo do fanatismo religioso. O que está visível e o que está encoberto!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Porque ainda se morre de amor

Tens toda a razão deste mundo, Pinguim!

Um sentido e profundo testemunho, Melões Melodia.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

60 anos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada há 60 anos.

Veio-me à mente parte de um discurso de Barack Obama que recentemente vi. Clarividente e sensato quando teve que falar cerca de religião e de valores universais.






Para mim, três frases chaves:


“...a democracia exige que aqueles motivados pela religião traduzam suas preocupações em valores universais, ao invés de específicos de uma religião.”


“...o melhor que podemos fazer é agir de acordo com aquelas coisas que todos nós vemos, e que todos nós ouvimos. A jurisprudência é bom senso básico.”


“...as pessoas estão cansadas de ver a fé ser utilizada como ferramenta de ataque.”



Termino por transcrever parte da informação deixada junto ao vídeo no Youtube:


Uma advertência: Apesar do que possa parecer, Obama se declara cristão praticante, e o discurso na íntegra contém também passagens não tão sensatas quanto esta e de cunho pró-fé. Considere o trecho como uma espécie de melhores momentos, do ponto de vista secular.


Segue o endereço onde a íntegra do discurso, em inglês, pode ser vista:
Call to Renewal speech (proferido em 28 de junho de 2006, duração: 39m45s)

Site


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Concerto de Aranjuez



Hoje apeteceu-me mesmo escutar esta melodia.
Será do feriado?
Será da pacatez do outono?

Seja lá qual for a razão, são uns minutos em a vida é tão linda!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Tempos de crise (revisited)





Não sei o que fiz, mas dei cabo de um antigo post com esta fotografia. Azelhices!!!
Mas, como gosto muito dela volto a coloca-la outra vez aqui.

A legenda que fiz continua a mesma:

Foto de 1936, altura em que a palavra crise tinha um real significado.

Um dezembro pessoal



Dezembro.

Para mim é um mês que inflama a vontade de deixar embaciar a janela onde observo o mundo.


Um mês frio, em que só sabe bem estar em casa, enrolado numa manta a praticar desinteressadamente aquele desporto chamado zapping; ou então rever algum daqueles filmes onde já sabemos as falas e em que partes vamos rir ou chorar.


A ler um livro, também. Embora confesse que ultimamente tenho que ler três vezes a mesma coisa, para entender o que leio, porque a minha cabeça teima separar-se da visão e voar para outros mundos.


A fingir que se dorme, porque apetece apenas que não nos digam nada, que não nos façam perguntas, nem nos queiram envolver num diálogo. Talvez porque apenas sabe bem ter os olhos fechados.


Um mês que nos quer impingir dose maciças de alegria em conserva; que quer tecer um mundo imaginário em que existe música no ar, sorrisos nas pessoas, boa vontade e generosidade a abarrotar em cada esquina. Não suporto. Apetece-me subir acima de uma estátua, no meio de uma praça qualquer, e com um megafone questionar, como se fosse um profeta louco: “Onde estão no resto do ano?”

(Raios partam esta celebração que visa apenas apaziguar a nossa consciência colectiva…)


Um mês que nos quer convencer que vamos renascer em breve num novo ano, onde vamos todos, fingindo ingenuidade, dizer: “Feliz ano novo, este ano é que vai ser!”

Como se não soubéssemos que este ritual está gasto de milénios e que é apenas uma maneira de nos continuarmos a iludir num mundo em que ninguém está interessado em mudar nada.




Dezembro, Dezembro…

Mas, sabes que este ano estou a gostar mais de ti?



(foto de Pedro Novo, site do Olhares)