domingo, 30 de novembro de 2008

A memória do coração

Com este post fica completa uma trilogia de reflexões sobre o ano de duração do meu blogue. Hoje quero destacar alguns blogues, e os seus autores, que me marcaram de diferentes maneiras. É que tal como qualquer pessoa, nenhum blogue é uma ilha; nenhum blogue tem sentido sem os outros. Os blogues geralmente reflectem no plano virtual a realidade de que todos necessitamos uns dos outros; todos interagimos uns com os outros; todos somos influenciados uns pelos outros.




A lista de blogues que constam no meu Google Reader é grande. Devido à falta de tempo, e por vezes devido ao esquecimento, não a tenho sintonizada com a enumeração que consta ao lado. (Está para breve, prometo…) Mas, ao mesmo tempo considero, paradoxalmente, a minha lista de blogues pequena perante o que gostava de aprender, descobrir e entender de outros.


O tempo e, verdade seja dita, um pouco de timidez, também limitam o número de comentários que deixo. No entanto asseguro, por tudo o que de mais sagrado existe, que TODOS esses blogues são um prazer regular que não dispenso; são uma espécie de janela que abro de par em par e por onde me chega um vento aprazível ao espírito.


No entanto, já aviso que hoje vou ser um pouco injusto nas referências. Injusto é apenas uma maneira de dizer, porque não se trata de avaliar a qualidade técnica ou o mérito académico dos blogues. Injusto porque vou falar dos meus sentimentos; e já sabemos que os sentimentos por vezes distorcem um critério mais científico e rigoroso. Dentre todos os excelentes blogues que acompanho, apetece-me destacar alguns que foram, neste ano, uma espécie de “vento debaixo das minhas asas”.

Perdoem-me assim uma parcialidade tão perceptível, mas eles merecem mesmo…


Para eles vai o prémio...






Eu confesso…

Foi o meu Génesis. O André Couto escreveu, num comentário recente deixado no meu blogue, que é por acaso que nos vamos descobrindo uns aos outros. Foi realmente por acaso que descobri o "Eu confesso...". Não me recordo que pesquisa estava a fazer com o Google, mas a certa altura um dos links atraiu a minha atenção e cliquei. Comparo o que senti ao começar a ler este blogue, com o que os relatos dizem que se passou na descoberta do túmulo de Tutankamon. Quando perguntaram a Howard Carter se estava a ver alguma coisa, ele apenas disse: "Sim, coisas maravilhosas!". Eu, á medida que explorava este blogue, ficava abismado. Nunca imaginei que aquelas “confissões” fossem-me tão familiares. Quando comecei também a explorar os blogues aí linkados começou para mim uma espécie de big bang: o início de um universo. Tenho pena deste blogue já há mais de um ano estar inactivo. Manuel, onde quer que estejas, obrigado e, volta, que fazes falta!


Maurice

Foi uma das primeiras direcções apontadas pelo blogue "Eu confesso...". Foi o segundo blogue que li quase todo. Foi para mim uma leitura atenta, deslumbrante e muito reflectiva. Fez-me sentir a dignidade que existe numa forma de sentir e amar que o preconceito do meio em que fui criado tinha pintado com cores horríveis. Conseguiu com notável eficiência eliminar estereótipos instalados na minha mente. Um blogue que, fosse um cantor, eu esperava horas e empurrões para agarrar um autógrafo; um blogue que reflecte, decerto, alguém de qualidades humanas notáveis além de um hábil escritor.


Whynotnow

Tudo o que elogiar neste blogue sinto que é pouco. O Pinguim viu-me nascer e dar os primeiros passos. Com a sua disponibilidade e perspicácia, nunca mais deixou de apoiar-me. O seu blogue é variado, muito interessante e sempre com uma faceta humana impressionante. É um autêntico “maestro” desta blogosfera. Está sempre disponível para os amigos e procura ajuntá-los todos, por exemplo, como organizador do jantar de bloguistas, e não só. É um credor ilimitado da minha amizade e apreço, por tudo e mais pela paciência com que entende o mundo de outros. (traduzido: o meu!)


Boa Noite e Um Queijo

Um dos blogues que mais me fidelizou nas minhas primeiras andanças na blogosfera. Tinha um “ambiente” muito bem conseguido em que imagens e palavras eram conjugadas brilhantemente. Um dos poemas que mais gostei de ler até agora foi lá publicado. Acompanhei os blogues que sucederam ao Boa Noite e Um Queijo. Neles, o então Arion, escreveu alguns dos textos que mais me fizeram pensar e, no plano mais pessoal, sempre teve a amizade suficiente para ser frontal comigo quando achou que o devia fazer. Como bloguista e pessoa tenho-lhe amizade, estima e admiração.


Felizes Juntos

O Paulo foi dos primeiros a comentar regularmente no meu blogue. Agradeço-lhe a sensibilidade, a clareza e o espírito positivo de muitos deles. O seu blogue caracteriza-se pela boa disposição e uma selecção de textos, imagens e vídeos notável; foi a primeira pessoa que utilizou o meu mail para incluir-me no grupo a quem envia coisas giras. Foi uma sensação muito agradável! Sempre ocupado, mas sempre disponível para palavras de ânimo e boa disposição.


O Melhor dos Dois Mundos

O Special K, que agora também anda mais ocupado por uma boa causa, também foi um dos primeiros e constantes comentadores do meu blogue, de uma forma muito significativa e solidária. Este seu blogue é muito cheio de humor, por vezes deliciosamente mordaz e referências musicais espectaculares, onde aprendi muito.


Tongzhi

Comecei por conhecer “o Imperador” pelos comentários bem dispostos que ia deixando em alguns blogues. Também pelas referências elogiosas que lhe eram feitas por outros. Gostava de ir ao seu blogue desfrutar dessa boa disposição, mas um dia achei-me com coragem para comentar e assim ganhei a possibilidade de complementar a faceta que já conhecia, com a de um “companheiro de estrada” sensato, disponível e bom cozinheiro. (isto pelo que se diz…)


In Senso

Um blogue onde me atraiu a excelente informação, conjugada com uma análise sensata e perspicaz. Junto a isso, acrescento que o Com Senso ao comentar algumas vezes no meu blogue tem sabido animar-me numa parte sensível e frágil de mim: a crónica falta de confiança no que escrevo. Soube, também recentemente, de uma maneira impecável, fazer-me sentir que não caminho sozinho.


Altares Privados

Um blogue basicamente de fotografias que, por razões muito pessoais, me chamou a atenção muito cedo. É um local de sensibilidade e descoberta que não abdico.




Além de blogues, ficaria incompleto este meu reconhecimento se não mencionasse dois comentadores sem blogues:


Fugitivo

Um excelente amigo que me entende muito bem. Mesmo que o tempo não lhe permita ser uma presença constante na blogosfera, não passo sem lhe deixar neste post um testemunho da minha imensa gratidão.


Catatau

Um comentador constante e fortemente animador do meu e de muitos outros blogues. Pelas palavras que me marcaram; pela situação difícil que ele está a passar; pela certeza de que é um vencedor na vida, o meu grande abraço solidário e grato.



A todos, além destes que desejei destacar hoje e aqui, fica o meu reconhecimento.

Obrigado!


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Agarrado a uma palha (ou seja, mais reflexões sobre um ano de blogar)

O ciclo que se encerrou teve que ver essencialmente comigo. Uma espécie de limpeza; ou de arrumação; ou até mesmo uma espécie de guerra civil, para esclarecer definições, ou, por outras palavras, para chamar as coisas pelos nomes. Na minha mente.



Como hei-de explicar?

Começo por recordar algo muito simples, mas que a certa altura foi uma pequena, mas providencial pedra no sapato. Pessoalmente, dou muito valor à amizade, acho que deve ser cultivada com empenho e não como cromos que juntamos e colamos numa caderneta. Certa vez li uma daquelas frases bonitas, uma citação, que dizia mais ou menos isto: “Um amigo é alguém com quem pensamos em voz alta”. Parei e pensei: comigo isso não acontecia. Não me atrevia a pensar em voz alta com nenhum dos meus amigos; só a mera ideia disso arrepiou-me transversalmente. Pouco tempo depois, sem conseguir deixar de pensar nessa frase, comecei a construir um amigo imaginário a quem eu contava tudo sobre mim, descomplexadamente. Comecei, sem dar por isso, a sorrir. Era uma ideia tão doce, com uma leveza enorme, que quase chorei de ser apenas uma imaginação minha.


Esse episódio fez-me chegar à conclusão que algo de profundamente errado passava-se comigo. (Era mais uma; eu parecia um íman de tragédias pessoais, de traumas bizarros e de complexos misteriosos. Caramba, como o universo devia estar na altura do meu nascimento! Devia ter existido um alinhamento maldito de planetas que nem o Hitler, se fosse vidente, conseguiria engendrar!)


Como qualquer pessoa de bom senso concorda, estar sem amigos, amigos íntimos, daqueles com quem podemos desabafar sem travões, é terrível, é doentio, é completamente demencial.


É apenas um pequeno relato, mas ilustrativo, do estado da minha mente. Por isso usei o termo guerra civil. Nada era linear e fácil. No fundo sabia o que eu era, mas meticulosamente formei uma linha de defesa contra isso. Não aceitava durante as horas racionais do dia o que no sossego da noite a minha cabeça pensava. Argumentava e esgrimia argumentos comigo próprio. Sentia-me continuamente esmagado pela sensação de culpa e frustração. Não sabia o que decidir senão seguir o que a maioria fazia; enquanto me diluísse na multidão estaria a salvo, pensava eu. Mas, não tinha paz nem verdade.



Assim o meu dilema shakespeariano - versão caseira – era: falar ou não falar, eis a questão.

Tinha que decidir. Ou falar ou desistir. Este foi o ponto de partida deste blogue. Comecei a chamar as coisas por nome, assumi as minhas paixões, declamei os meus poemas preferidos, cantarolei algumas músicas da minha vida, tive as minhas “arrancadas” humorísticas e compartilhei as minhas receitas de culinária. Aqui fui eu. Aqui falei do que realmente pensava! Aqui sou a pessoa que gostava de ser no meu dia-a-dia, no mundo real. A guerra civil acabou. As coisas estão arrumadas q.b. Tenho uma pequena e suficiente paz cá dentro da mioleira. Sou assim e não sou criminoso. Já não alinho em conceitos estereotipados.



Por fim a nota de rodapé, escrita em letras pequeninas; o “mas” que existe em todos os discursos triunfalistas. Como parte da minha maneira de ser está pensar nos que me rodeiam. Não sei se é bom, se é mau, se é um defeito ou uma qualidade; sou assim. Não sei como vou conjugar este esclarecimento mental com as minhas circunstâncias actuais. Não sei como pensar no melhor para os outros e como isso pode ser conjugado com o que é melhor para mim. Não sei como…



“Caminando”, diz o poeta. “Porque não?”, digo eu.





segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um ano impar

Era um sábado de tarde; dia solarengo, apesar de estar sob o signo outonal. Recordo bem aqueles precisos segundos em que infinitamente hesitei em premir o botão esquerdo do rato, cuja setinha estava sobre o botão “Publicar Mensagem”. Quando finalmente o fiz - não porque tivesse a certeza de o querer fazer, mas porque o dedo não obedeceu aos meus raciocínios prudentes - senti uma sensação electrizante tingida com uma cabeça atordoada. Estava “no ar” o blogue Castelo d’Areia, com o primeiro post denominado “Falhar”. Foi o primeiro termo que me veio à cabeça e representava muito bem o que era e, em certa medida continua a ser, a minha vida. Tinha escrito livremente o que sentia, o que estava cruelmente encravado em mim, e que, sem o poder exteriorizar, putrificava-me a alma, ano após ano.

Faz hoje um ano!


A metáfora mais fiel em explicar o que senti a partir daquele momento, é a de um miúdo que pontapeou uma bola contra uma janela, estilhaçando o vidro e, acto inconsciente e instintivo, encolhe-se todo, com os olhos fechados, a esperar que termine o ruído dos vidros partidos, a aguardar os gritos de alguém e os passos apressados de quem quer apanhar o meliante, e por fim receber a disciplina na forma de um sermão ou um tabefe bem dado.


Eu fiquei também com os olhos fechados à espera…
Á espera que, inesperadamente, alguém me abanasse e me desse um par de estalos porque, sabe-se lá como, descobriu que era eu o autor daquele blogue, e tinha feito uma grande estupidez. À espera de críticas anónimas e mordazes pela pobreza da escrita, de risos pelo ridículo da situação, do desprezo pela ousadia de tratar um assunto insólito. Á espera até de silêncios, tipicamente brindados a quem merece desdém pela postura imbecil. Mas nada disso aconteceu com o passar do tempo. Assim, fui, vagarosa e timidamente como que abrindo apenas um olho para ver o que se passava

Passo a passo chegam palavras. Palavras de presença, de empatia, de solidariedade e de cautela. Vou deixando de estar encolhido e tenso, e lentamente abro, por assim dizer, completamente os dois olhos. A vertigem vai diminuindo e vou sentindo os pés assentes numa terra firme, longe da base instável em que vivia os meus dias. Sim, eu usufruia de uma instabilidade enjoativa, onde tinha que medir constantemente o que dizia, o que respondia, para onde olhava; e mesmo assim, sem certezas; afinal, não queria, nem podia dar pistas. Apenas labutava para sobreviver como entidade, sem mais nenhumas pretensões.

Agora, incrivelmente, podia escrever o que realmente pensava e sentia. Sem receio de ser encarado como um doente mental. Mesmo sem o privilégio de dar a cara, isso tornou-se um luxo imenso! Conheci um mundo que não sabia que existia senão em nebulosas lendas urbanas e histórias de papões. Conheci, virtualmente, bem tenho disso consciência, pessoas de sentimentos normais, apenas tendo uma orientação sexual diferente da maioria, mas semelhante aquela que pulsava dentro de mim.


Um ano passou.


5…

4…

3…

2…

1…

O ciclo fechou-se!


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

As pontes (de Madison County ou de qualquer outro local)

Ontem na RTP1 passou o filme "As Pontes de Madison County".

Gostava um dia de escrever sobre este filme, a fabulosa Meryl Streep, a sensibilidade dos filmes realizados por Clint Eastwood, e a história de uma cruel dilema.
Hoje não estou para ai sintonizado...



Este filme ajuda a entender que, por vezes, não se trata apenas de escolher aquilo que gostamos ou que queremos. Que as hesitações, os medos, as indefinições, os recuos e demoras são baseados em sólidas fundações. E que cada pessoa é diferente da outra na sua personalidade e no seu universo.
(Claro que me lembrei de ti...)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

certas coisas

certas coisas que nós suportamos
não nos dizem respeito,
e nós lidamos com elas
devido ao tédio ou ao medo ou ao dinheiro
ou à pouca inteligência;
a nossa vontade e a nossa esperança
cada vez mais pequenas,
tão pequenas que nem as suportamos,
nós agarramo-nos ao Ideal
mas perdemos o Rumo:
muita parra e pouca uva,
e vemos nomes que antes significavam sabedoria,
como sinais em cidades fantasma,
onde só as campas são reais.

(Poema de Charles Bukowski, tirado do blogue "O amor é um cão do inferno")

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Escrever


Escreve para ser amado?
Escrever é uma forma de ser amado?

Pode ser entendido assim. O Gabriel García Márquez dizia que escrevia para que gostassem dele. É possível. É mais exacto dizer que a gente escreve porque não quer morrer. Ser amado pelo outro não está na nossa mão; podemos escrever para que isso aconteça, e depois acontecerá ou não. Já que temos que morrer, que alguma coisa fique. Não é imortalidade - isso seria um disparate; é um reconhecimento por algum tempo mais.

José Saramago

(in Jornal Público, Suplemento Ípsilon, 07.11.2008)


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Parabens ao Mickey!

80 anos!

Obrigado por alguns momentos de fantasia e risos...



segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Castanhas. Oh! castanhas...



Não resisto às castanhas. Comprar na rua, apesar do preço frequentemente exorbitante, uma dúzia de castanhas assadas e, com o frio no rosto, ir descascando-as meticulosamente, à medida que nos pincelam os dedos de carvão e calor, é das melhores marcas registadas de um Outono que se preze.



Mas, também sou adepto de colocar a castanha na mesa como parte da alimentação. Na verdade, antes da chegada da batata ao continente europeu, ela era básica na alimentação. (Segundo rezam as crónicas, não que eu me recorde, não sou tão antigo!)


Dei comigo a salivar por uma receita que, há uns anos li na revista domingueira do jornal “Público”. Experimentei-a, pois claro! Apesar de ter sido trabalhosa, estou a preparar-me para voltar “ao ataque”. Aliás, se foi custosa foi porque tive que golpear, cozer, tirar a casca e a pele de todas as castanhitas, e depois, por causa disso, fiquei com as unhas numa miséria! Mas, agora podendo ser compradas já descascaditas e congeladas, isto torna-se muito fácil.



Trata-se de um substancial pudim de castanhas. Quase vale por uma refeição devido à sua robustez, e pelos diversos ingredientes. Ora vamos lá…


Começamos por cozer um quilo de castanhas em água, com um pouco de sal e erva-doce.

Descascamos e cozemos à parte também duas batatas doces de tamanho médio.

Depois das castanhas estarem cozidas, levamo-las a ferver em meio litro de leite e cem gramas de açúcar.


Quando obtivermos as castanhas e as batatas cozidas passamo-las juntas pelo passe-vite.

Juntamos a raspa e o sumo de meia laranja e quatro folhas de gelatina previamente derretidas num pouco de água.


De seguida, batemos firmemente 2,5 dl de natas e acrescentamos.


Batemos três claras de ovo em castelo e cuidadosamente envolvemo-las com o puré.



Untamos então uma forma de bolo com óleo, e lá despejamos o preparado e levamos ao frigorífico onde deve ficar umas 4,5 horas a repousar.



Enquanto isso acontece, pegamos numa tablete de chocolate de culinária e derretemo-la em banho-maria com uma colher (de sobremesa) de manteiga e um pouco de leite. Juntamos depois o sumo de meia laranja.

Quando se desenformar o pudim, cubrimo-lo com este molho.



Viva a castanha!

(Viva!)