terça-feira, 27 de novembro de 2007

Castelo de Areia

Verão. Praia. Areia. Eis os ingredientes que em criança me faziam sonhar. Materializava esse sonho em horas dedicadas a construir na areia. Os castelos eram temas obrigatórios. Fascinava-me a ideia de fortaleza, de segurança, de controlo. Bem, mas sabia que primeiro tinha de investir no fosso. Uma primeira linha defensiva contra o inimigo: a maré. Um fosso capaz de conter as primeiras vagas “assassinas”. Depois dos fossos vinha a obra de arte: Um imponente, sólido e atraente castelo. Claro que com a prática ia modelando melhores torres, muralhas com ameias trabalhadas, pontes sobre os fossos, torre de menagem que se preze, e um espaço para mim no interior.

Ainda hoje, quando estou numa praia, a tentação de fazer castelos de areia é grande. Mas, sinceramente, um adulto entretido nesse passatempo, cria uma imagem patética a quem passa… Invejo quem tem filhos e pode, com a desculpa de ajudar o seu petiz, estar entretido nessa magnifica actividade. No meu subconsciente deve haver uma explicação para este meu gosto. Não tenho a certeza de qual é.

Mas, tenho uma teoria: a minha vida agora é um castelo de areia. Disso não tenho duvidas. Vivo num castelo de areia que construí com os anos. Tenho muralhas e fossos meticulosamente colocados. Evito que os outros me surpreendam e me magoem. Escondo atrás de portas trancadas quem eu realmente sou. Mas, não o esqueço, é um castelo de areia. Não é duradouro.
Que vaga o vai deitar abaixo? Quando? Vale a pena pensar nisso?



Ele nasceu para ser o melhor
Seus pais projetaram o futuro ideal
Nada lhes daria mais prazer do que vê-lo crescer bem

Mas naquela manhã encontraram um bilhete
Com palavras de dor e adeus
Daquele menino que agora queria ser alguém

É... pois é, meu bem...
Castelos de areia derretem quando a onda vem

O crente rezou durante toda a sua vida
Para ter um sinal do Senhor
Dias e dias dizendo a mesma oração: Amém

E quando seu peito doeu como luz
Ele pensou: Agora vou ver Jesus!
Mas a luz se foi e ficou só a dor no seu coração

É... pois é meu bem...
Castelos de areia derretem quando a onda vem

O cientista descobriu
Que o cérebro humano tem mais poder
Do que toda a vida na Floresta Amazônica

Mas tanta droga ele consumiu
Que seu pensamento o diluiu
E agora ele chora sua lágrima atômica

É... pois é, meu bem...
Castelos de areia derretem quando a onda vem

Estamos no ano 4 mil
Não existe mais calor nem frio
Ninguém morre, ninguém fica mais doente

Só uma coisa nos tira o sossego
É que apesar de sermos eternos
O medo é que neste fim sem fim
Seremos sugados pelo buraco negro

(Castelos de Areia - Paulinho Moska)

sábado, 24 de novembro de 2007

Falhar.

Esta é a palavra que mais se repete na minha existência. Falhar. Deixar de atingir objectivos, alvos, o que se deve ou se tem que fazer. Mas, por que falho?

Que "ganda" confusão…
Desconfio que é porque aquilo que devia atingir não é aquilo que quero. Sei que ser de determinada maneira é aquilo que os outros esperam de mim. Aquilo que produziria melhores benefícios. Aquilo que é consensualmente considerado certo.

Mas, após tanto tempo entendi que tenho uma camada de verniz que é para consumo público e que oculta o que sou, o que quero e o que considero importante. Conseguirei continuar assim? Valerá a pena continuar assim? Para quê? Será isso verdadeiramente falhar? Será que afinal consigo atingir o objectivo de ocultar-me?

Por vezes considero que o único fim da minha existência é ocupar um lugar. Tipo uma prateleira, que lá serve para segurar livros, ou um pneu que serve para o carro andar. Tenho que fazer coisas para segurar e fazer andar os que estão á minha volta. Mais nada…

E mesmo nisso estou a falhar.
Se calhar tinha mesmo que falhar. Não é vida para ninguém. Ninguém pode viver assim.

Bem vindo ao meu mundo. (Que maneira tétrica de começar… Imagine-se os próximos episódios.)