terça-feira, 30 de setembro de 2008

Hoje apetece-me escutar esta música


Hoje estou com esta música na cabeça. Não sei se foi por a escutar na rádio e colou-se, por motivos óbvios, aos meus neurónios. Embala-me. Provoca-me a agridoce sensação de olhos húmidos.

Hoje devia ter nomeado algum facto da blogosfera para o meu “prémio” PorQueMeApeteceum. Mas, não consegui. Foi um mês sem margem de manobra, sem concentração, sem bússola. Assim, hoje apetece-me esta música. E, divagar um pouco.

Se alguém não tiver paciência para ver o vídeo, pela razão que seja, destaco aqui uma parte da letra.


(…)


Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.

Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada


(…)


Começo pelo Abrunhosa. Quando este senhor começou a sua carreira, embirrei com ele. Tendo um estilo que trouxe alguma originalidade ao panorama musical português, no entanto, demonstrava alguns tiques irritantes de pedantismo. Mas, com o tempo fui dando conta que começava a gostar de escutar com muito prazer algumas das suas músicas, quer pelos seus poemas, quer pela melodia lenta e envolvente. Algumas delas tornaram-se incontornáveis mesmo.


Esta diz-me muito. Porque eu vivo com fantasmas. Porque durante muito tempo esperei que alguém um dia mos levasse embora e eu depois apenas pagava a conta pelo serviço prestado. Agora sei que não existe esse tipo de prestação de serviços quer nas páginas amarelas, quer em algum ShoppingCenter. Tenho que fazer o trabalhinho pessoalmente. Com o meu tempo, com a minha habilidade e com as minhas ferramentas. Ou faço eu o trabalho ou aprendo a viver com os fantasmas e não me queixo.

Quando muito posso perguntar, refazendo a pergunta da canção, quem assiste a eu tratar da saúde aos meus fantasmas?; ou quem me conta como despachou os seus fantasmas?; ou ainda quem me apoia enquanto eu trato da saúde aos meus fantasmas? Apenas isso. E, deixem que vos confesse, já essas hipóteses são muito boas.

Depois há o vídeo (antigamente dizia-se o teledisco). Mexe com um dos meus mais profundos medos. Retrata rostos de sem-abrigos da cidade do Porto. Um dos meus piores pesadelos é ao cuidar dos meus fantasmas, corroer os laços que me unem à sociedade e acabar assim. Só. Arriscar e perder.


(…)


Apetece-me escuta-la mais uma vez.


De que serve ter o mapa

Se o fim está traçado,

De que serve a terra à vista

Se o barco está parado,

De que serve ter a chave

Se a porta está aberta,

De que servem as palavras

Se a casa está deserta?

(lá, lá, lá, lá... - sou eu a fazer coro)



quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Mar


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

(Mar Português, Fernando Pessoa)


Hoje é o Dia do Mar. Amo o mar, numa relação de atracção e temor. Poucas coisas existem que exprimam mais poder e destruição do que a fúria oceânica. Poucas coisas são mais intrinsecamente belas do que o mar conjugado com um sol nascente ou poente. O mar separa, o mar une.

Há mar e mar, há ir e voltar. Voltei.

(Ao limpar o pó a este quartinho deparei-me com comentários que merecem da minha parte uma atenção mais detida. Isto por cá ainda anda tudo muito atordoado. É preciso calminha. Agir impetuosamente tal como as ondas é bom mas é mesmo para o mar.)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ADEUS


Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos
céus:
tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e
tempo para arrancar o que foi plantado;
tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo
para construir;
tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo

para dançar;
tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar
abraços, e tempo para apartar-se.
Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e
tempo para jogar fora;
tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo
para falar;
tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo
para a paz.

Eclesiastes, Capitulo 3, Velho Testamento




Não é uma despedida a este blogue - pelo menos por enquanto.

São outras coisas. Coisas minhas. Afinal como todas as que aqui escrevo. Mas, esta, por alguma razão que não sei explicar convenientemente, parece tão minha que não tenho arte e meios de me fazer entender. Porque adeus nestes dias é uma palavra que me pesa como a essência de um buraco negro; abrasa como o fogo da Geena. Hoje ela pertence aqueles miseráveis bandos de palavras que se têm de arrancar para fora de nós senão destroem-nos metódica e impiedosamente. A ver se abandonada aqui ela perde um pouco da sua intensidade.



[Adeus. Entalado entre o ter/querer partir e as raízes que me prendem. Sei que possivelmente estou a dizer até á próxima sabendo que não vai haver próxima. Sei que estou a dizer voltarei, sabendo que, com certeza, não o farei.

Quando um dia souberem… Sim, porque por mais que queiramos esconder certas coisas, elas um dia fogem do nosso controlo tal como uma mola de caneta que nos escapa da mão. Saberão então…

Se eu pudesse… se eu arriscasse a explicar… Mas, não. Se calhar até é melhor assim.

Como gostava tanto que tudo fosse diferente. Como gostava que eu fosse diferente. Tentei cumprir o que me foi confiado o melhor possível, e nem imaginam a que custo, em certas alturas! Se errei - claro que errei - tive a mesma sorte de todos os mortais, mesmo aqueles que são melhores que eu. Se era taciturno ou distante em certas alturas, era porque simplesmente vos estava a proteger de mim.


Adeus. Desculpem. Perdoem. Esqueçam. Esqueçam tão bem, como eu gostava de me esquecer de mim mesmo também. Mas, não me odeiem. Para isso já estou cá eu e, podem crer, que o sei fazer muito bem.]



Agora é tempo de dizer a quem tem a santa paciência de me aturar aqui: até daqui a uns tempos!





terça-feira, 2 de setembro de 2008

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Hoje





Só hoje senti
que o rumo a seguir
levava pra longe
senti que este chão
já não tinha espaço
pra tudo o que foge
não sei o motivo pra ir
só sei que não posso ficar
não sei o que vem a seguir
mas quero procurar


e hoje deixei
de tentar erguer
os planos de sempre
aqueles que são
pra outro amanhã
que há-de ser diferente
não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu


só hoje esperei
já sem desespero
que a noite caísse
nenhuma palavra
foi hoje diferente
do que já se disse
e há qualquer coisa a nascer
bem dentro no fundo de mim
e há uma força a vencer
qualquer outro fim


não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu


Estas palavras não são fruto da minha inspiração. Estas palavras foram, e continuam a ser, escutadas numa canção. Tantas vezes.


Arrepio-me quando a escuto. Questiono-me como poderá alguém saber tão bem como estou cá dentro - eu que sou inexistente para quem a escreveu - naquilo que mais interior e terrivel guardo. Afinal o que deve acontecer é que dilemas semelhantes devem existir aos milhões!

Hoje. Claramente hoje. Entender que não se pode brincar com a vida. Não se pode arriscar e sair como se nada tivesse acontecido. E tudo porquê? Eu não queria o imenso universo, tampouco o sol, nem a porra das estrelas. Nem sequer o céu inteiro eu queria para mim. Apenas e tão somente um pequeno pedaço. Pequeno mesmo, um pouco só que fosse...

Será justo pagar um preço tão grande por algo que afinal deveria ser normal possuir?