quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ADEUS


Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos
céus:
tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e
tempo para arrancar o que foi plantado;
tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo
para construir;
tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo

para dançar;
tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar
abraços, e tempo para apartar-se.
Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e
tempo para jogar fora;
tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo
para falar;
tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo
para a paz.

Eclesiastes, Capitulo 3, Velho Testamento




Não é uma despedida a este blogue - pelo menos por enquanto.

São outras coisas. Coisas minhas. Afinal como todas as que aqui escrevo. Mas, esta, por alguma razão que não sei explicar convenientemente, parece tão minha que não tenho arte e meios de me fazer entender. Porque adeus nestes dias é uma palavra que me pesa como a essência de um buraco negro; abrasa como o fogo da Geena. Hoje ela pertence aqueles miseráveis bandos de palavras que se têm de arrancar para fora de nós senão destroem-nos metódica e impiedosamente. A ver se abandonada aqui ela perde um pouco da sua intensidade.



[Adeus. Entalado entre o ter/querer partir e as raízes que me prendem. Sei que possivelmente estou a dizer até á próxima sabendo que não vai haver próxima. Sei que estou a dizer voltarei, sabendo que, com certeza, não o farei.

Quando um dia souberem… Sim, porque por mais que queiramos esconder certas coisas, elas um dia fogem do nosso controlo tal como uma mola de caneta que nos escapa da mão. Saberão então…

Se eu pudesse… se eu arriscasse a explicar… Mas, não. Se calhar até é melhor assim.

Como gostava tanto que tudo fosse diferente. Como gostava que eu fosse diferente. Tentei cumprir o que me foi confiado o melhor possível, e nem imaginam a que custo, em certas alturas! Se errei - claro que errei - tive a mesma sorte de todos os mortais, mesmo aqueles que são melhores que eu. Se era taciturno ou distante em certas alturas, era porque simplesmente vos estava a proteger de mim.


Adeus. Desculpem. Perdoem. Esqueçam. Esqueçam tão bem, como eu gostava de me esquecer de mim mesmo também. Mas, não me odeiem. Para isso já estou cá eu e, podem crer, que o sei fazer muito bem.]



Agora é tempo de dizer a quem tem a santa paciência de me aturar aqui: até daqui a uns tempos!





19 comentários:

Anónimo disse...

É um adeus de catarse ou é um adeus a um cordão quebrado? É um adeus-ó-vai-te embora ou é um adeus-eu-vou-ali-e-já-volto?

...É um adeus a horizontes, não é?
Virão outros, mais promissores e, provavelmente, mais aconchegantes.
Sinto que não andarás por aqui, mas sei que virás sempre.

Sócrates: um abraço até ao teu regresso! ;)

João Roque disse...

O Catatau já disse tudo e já acertou na razão da tua "partida"; aliás e tu sabes os laços de amizade que me unem a ele, e ao Paulo, para saberes que és sempre motivo das nossas conversas, pois todos gostamos muito de ti, te apoiamos incondicionalmente e queremos que tenhas a força que tens mostrado ter.
Por outra via já te disse tudo isto.
Até breve, "estou seguro".
Abração.

João disse...

A_Deus, mas principalmente a Ti e a todas as mudanças que em Ti efectuarás para que em Ti possas de novo voltar a acreditar! Nós acreditamos... Até breve, até_já!

(um grande, forte, apertado e prolongado abraço)

Violeta disse...

A vida às vezes pesa-nos. Devíamos fazer como os rituais antigos judeus: num determinado dia arranjavamos uma cabra (imaginário que não gosto de sacrificar animais)e deitavamos tudo o que de mau ocupava anossa mente durante esse ano. Depois deitavamos a cabra montanha abaixo como sinal de sacrifício aos deuses. Em simultãneo arranajavamos outra cabra e aí agradecíamos tdo d ebom com oferendas...
Este ritual libertava a mente daquilo a que nós, devido à igreja católica, sentimos como peso da consciência, castigo...
Acredito em deus, independentemente do nome que lhe queiramos dare naõ existe nenhum deus castigador, isso é coisa dos homens, da leis terrenas hipócritas e de uns senhores que de há 2000 anos para cá resolveram atormentar a espécie humana.
Não te castigues tu que deus naõ te castigará.
Temes magoar quem te é próximo? se te amarem, mesmo com a mgoa resolverão aceitar e perdoar. Esta sim é um actitude divina: a do perdão.
Sê feliz tu, perdoa-te tu, o resto firá por acrescímo "Não caias antes de te empurrarem".

Violeta disse...

desculpem o texto tem erros ma stou com sono, naõ me apetece corrigir. Naõ me castiguem que eu tb não...

paulo disse...

ah, é no Eclesiastes... não sabia onde situar esta passagem do há um tempo para tudo (quer dizer: atirar pedras não tem piada, odiar é feio... mas a verdade é que o Velho Testamento tem assim umas pérolas esquisitas de conduta...). mas primeiro foi o susto: o título é daqueles que arrepia logo à partida. não sei se fiquei mais descansado perante a explicação, mas só espero que, como diz o Catatau, mesmo partindo estás sempre presente. e isso é uma verdade inquestionável e certa. afinal, também há um tempo para partir, para sarar, para ter saudades, mesmo que a despedida seja um acto difícil. sempre que me despeço com a perspectiva de que não voltarei, fico comovido. portanto, agora não me despeço até porque a tua não é uma despedida daqui, mas pelo que percebo de outros lugares.
apoiamos-te incondicionalmente, pois claro, o Pinguim tem toda a razão!
um abraço

carpe diem disse...

Acabei de ficar sem palavras perante tanta beleza!!!

Obrigada por isso!!!

beijinhos e fica bem...

SP disse...

Oh!
Que aconteceu???
Fiquei assim...

Então quando pensei sair do meu sítio foste tu quem tanto me demoveu de pensar assim e agora tu vens pela calada e fazes isso?!?
Não está certo, mesmo que tenhas razões de peso!
Espero por ti.
Um abraço como sempre foi!

Tongzhi disse...

É um adeus com retorno...
Tem mesmo de ser!
Somos pacientes e esperamos que "assentes" de novo e voltes ao nosso convívio.
Abraço

com senso disse...

Caro Amigo…

Permita-me que o trate assim!

Leitor habitual do magnífico blog do Amigo “Pinguim”, os seus comentários lá inseridos despertaram-me a curiosidade de vir até aqui.

E foi assim que passei por aqui, pela primeira vez, aquando do seu post de 19 de Maio deste ano!

Um acaso terá feito que essa minha visita ocorresse exactamente em dia de um post muito especial que, decerto, não deixou ninguém indiferente!

Um post tocante pelo que de muito íntimo transporta. Um texto simultaneamente lúcido e emotivo, o que lhe dá uma imensa riqueza humanística, acrescida do facto de estar também muito bem escrito!

Acho que a reflexão que nos trouxe nesse dia traduz um momento de vivência íntima extraodinário, um desabafo raro e surpreendente. Um desabafo que estremece, um desabafo de um Homem!

Voltei cá várias vezes, quase sempre de forma silenciosa e sobretudo com o interesse de recuperar o tempo perdido, lendo posts de datas anteriores.

Realço alguns dos que publicou nos últimos 6 meses que, pelas mais variadas razões, me impressionaram.

As temáticas podem ser diferentes, mas em todos eles se encontram inteligência, sensibilidade e sobretudo ALMA.

Dia 28 de Fevereiro – Em memória de todos os que continuam a acreditar
Dia 3 de Março _ Sinto cada vez mais a tua falta
Dia 19 de Março – Manhã Submersa
Dia 24 de Março – A “Carolina Michaelis” fez-me mal à saúde
Dia 13 de Abril – Nem sei que título dar a isto
Dia 23 de Abril – Alentejo da minh’alma

Após a primeira visita, e com a revisão dos seus posts mais antigos, confesso que comecei a olhar para os seus escritos de uma forma diferente do que olho normalmente para a blogosfera.

Este blog, não é daqueles que se visite para dar uma vista de olhos, é um blog que muitas vezes toca no íntimo dos seus leitores e que merece ser lido e relido com atenção, por toda a humanidade que encerra e pelo prazer que a sua leitura nos dá.

De Maio em diante os Posts que aqui foram colocados vieram apenas confirmar as impressões positivas que os mais antigos me causaram.

Destaco dois, pelo quanto de sensibilidade e autenticidade encontrei neles:

11 de Julho – I’m a junkie I have to confess

28 de Julho – Sócrates sem óculos e sem bigode

Destaco um terceiro, que achei de um humor inteligente e criativo notável:

20 de Agosto – 1978/2008: 30 anos de evolução!

Destaco ainda um quarto (de 30 de Junho) pela generosidade com que se referiu ao meu pequeno espaço e que eu, por estar de férias, não pude agradecer com a oportunidade que merecia! Penitencio-me fortemente desta minha deselegante desatenção!

E chego agora a este último, que me deixou tão perturbado, que fiquei sem saber se deveria ou não dizer algo.

Decidi dizer! E ao fazê-lo senti-me um pouco intruso, no âmbito dos seus amigos, pois percebe-se naturalmente que existem vários companheiros da blogosfera, com os quais possui já uma forte empatia e sã amizade.

Mas, mesmo assim, correndo o risco de ser tão excessivo, como irrelevante, resolvi deixar aqui o meu testemunho, porque este post é diferente! Para mim, bastante perturbador!

Se há coisas de que me vou arrepender para o resto da vida, é o ter deixado por dizer algo que deveria ter dito, em tempo certo, a algumas pessoas, a quem muito prezei!

Embora não o saiba, olho o seu blog, como se olhasse um amigo! Este mundo virtual, tem destas coisas….

Por isso, quebrando o meu silêncio habitual, gostaria hoje de lhe deixar a palavra de um amigo.

De lhe dizer que os seus posts têm tido o condão de fazer perceber a muita gente que não se encontra só!

Que as suas palavras têm sempre um eco muito forte! Um eco que se ouve repetidamente com gosto, sem nunca cansar! Um eco que vem dum som que faz falta na blogosfera!

E que, para que essa falta não seja demasiado pesada, é importante que a pausa não seja longa. Sejam quais forem as razões do interregno!

Espero que não considere abusivo tratá-lo por amigo! Mas é assim que me surge o pensamento sobre alguém que tem escrito algo do que de mais profundo e interessante se encontra no reino dos blogs.

E como amigo, desejo-lhe a maior sorte do mundo e, naturalmente, um rápido regresso!

Um abraço!

Socrates daSilva disse...

Catatau,
Como vês foi um “adeus-eu-vou-ali-e-já-volto”. Foi um adeus muito multifacetado, muito esquisito, muito dorido, muito incompleto.
Horizontes? Vamos a ver se me posso dar a esse luxo.
:-)
Obrigado e um abraço.

Socrates daSilva disse...

Pinguim,
Como sempre, sabes ser encorajador no que escreves. Sei que, no que podes, tentas-me transmitir toda a força deste mundo. Creio que por vezes posso não estar à altura das expectativas. Mas, essa expressão de “apoio incondicional” é muito bonita mesmo. Obrigado. Vamos caminhando…
Abração

Socrates daSilva disse...

Ophiuchus,
As mudanças…
Creio que as principais aconteceram dentro da minha cabeça. Mudei muito. Confesso que me deixou mais em paz comigo mesmo. O resto. O resto é que vamos a ver, como diz o cego! Obrigado pela tua confissão de fé.
Outro abraço igual.

Socrates daSilva disse...

Violeta,
Primeiro, obrigado pela visita e pelas palavras significativas.
Muito interessante a tua citação da tradição judaica da cabra ou do “bode expiatório”. De facto, temos despejar o saco do acúmulo de frustração e de culpa que na vida acumulamos. Mas o lixado é que tem que ser cíclico, que voltamos sempre ao mesmo não é?
Ai Deus, ai Deus! … Se não responde claramente a perguntas tão simples, ia agora dar-se ao trabalho de castigar? Acho que a vida se encarrega de nos punir pelo que fazemos, pelo que deixamos de fazer, e por aquilo que nem soubemos que fizemos.
Eu estou, estranhamente, em paz comigo. Sei muita coisa sobre mim que desconhecia ou fingia que desconhecia. Só preciso perdoar-me por não ter feito este caminho interior mais cedo.
Gostei dessa frase: Não caias antes de te empurrarem. Muito gira!
Bjs

Socrates daSilva disse...

Paulo,
Este fragmento do Eclesiastes nem é tão esquisito assim, no meu modesto ponto de vista. Está a registar aquilo que se passa no dia-a-dia. Existe um tempo determinado para cada coisa, até para algumas mais tristes ou desagradáveis. Tudo tem o seu lugar e razão. Pegando nos teus exemplos, por vezes temos de atirar pedras para cães que nos querem morder, para nos defender de quem nos ataca, se essa for a nossa única arma. Não é agradável, mas tem que ser. Odiar é feio? Creio que nem sempre. Odiar a guerra, odiar a discriminação, odiar o mal que se faz a alguém indefeso ou inocente tem o seu lugar. Que seria de nós se não abominássemos certas coisas malévolas?
Em relação às tuas palavras relativas ao meu adeus tenho que te dizer obrigado. Repetindo o que disse à pouco, agradeço o apoio que aqui nos vossos comentários sinto e só espero que o tempo revele se estou à altura dele.
Um abraço.

Socrates daSilva disse...

Carpe diem,
Como me fazes corar…
És tão exagerada, minha amiga! Obrigado eu.
Bjs

Socrates daSilva disse...

Sp,
O que aconteceu foi mais um intervalo que um adeus. Teve mesmo que ser…
Obrigado pela espera.
Abraço!

Socrates daSilva disse...

Tongzhi,
És muito perspicaz!
:-)
E tem mesmo que ser. Nem imaginas a falta que me fez deixar de estar aqui uns tempos!
Obrigado pela paciência.
Abraço

Socrates daSilva disse...

Com Senso,
O seu comentário emocionou-me pelos detalhes. (Tenho que me alongar um pouco.)
Como decerto já transpirou no que escrevo, tenho uma grande insegurança talvez devido a falta de amor-próprio ou a outras questões. Assim, quando iniciei o blogue sempre fiquei com a ideia de que ia cair no ridículo devido, quer aos assuntos expostos, quer à falta de experiência de escrita a nível público.
Quando alguém me escreve um elogio sobre algum post, sempre fico com a ideia de que simplesmente está a ser simpático. O seu comentário teve o condão de ser tão específico no que achou de positivo naquilo que tenho escrito, que eu próprio fiquei espantado com o que tenho conseguido escrever. E realço que vindo de si, que tem um excelente nível de escrita, quer ao nível de temas, quer ao nível do desenvolvimento do texto, no seu blogue “IN SENSO”, tem uma força para mim muito grande. Obrigado!

Quanto á questão da minha situação pessoal, não me move mais nada senão uma enorme angústia e uma vontade enorme de me entender. Creio, que como já assumi, que cheguei a um ponto insustentável a nível emocional e o escrever tem sido um balão de oxigénio que consegui construir. Sei que me tem ajudado a entender assuntos que eram tabus até há pouco tempo, mas ao mesmo tempo todo o conhecimento trás consequências, e é com elas que tenho que lidar. Se ao falar delas em público encontro eco e pessoas que ao ler se vão identificar, fico muito contente. Pois eu antes de iniciar o blogue tentei encontrar algum ponto de apoio assim e não o consegui.

Termino por pedir que me trate por “tu” pois, dentro deste espaço virtual que é a blogosfera, considero-o um amigo. E assim, se permitir, também estarei à vontade para o fazer, o que me faz ser mais natural no trato.

Um abraço!