segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Hoje





Só hoje senti
que o rumo a seguir
levava pra longe
senti que este chão
já não tinha espaço
pra tudo o que foge
não sei o motivo pra ir
só sei que não posso ficar
não sei o que vem a seguir
mas quero procurar


e hoje deixei
de tentar erguer
os planos de sempre
aqueles que são
pra outro amanhã
que há-de ser diferente
não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu


só hoje esperei
já sem desespero
que a noite caísse
nenhuma palavra
foi hoje diferente
do que já se disse
e há qualquer coisa a nascer
bem dentro no fundo de mim
e há uma força a vencer
qualquer outro fim


não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu


Estas palavras não são fruto da minha inspiração. Estas palavras foram, e continuam a ser, escutadas numa canção. Tantas vezes.


Arrepio-me quando a escuto. Questiono-me como poderá alguém saber tão bem como estou cá dentro - eu que sou inexistente para quem a escreveu - naquilo que mais interior e terrivel guardo. Afinal o que deve acontecer é que dilemas semelhantes devem existir aos milhões!

Hoje. Claramente hoje. Entender que não se pode brincar com a vida. Não se pode arriscar e sair como se nada tivesse acontecido. E tudo porquê? Eu não queria o imenso universo, tampouco o sol, nem a porra das estrelas. Nem sequer o céu inteiro eu queria para mim. Apenas e tão somente um pequeno pedaço. Pequeno mesmo, um pouco só que fosse...

Será justo pagar um preço tão grande por algo que afinal deveria ser normal possuir?

11 comentários:

SP disse...

"não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu"

só isto, assim...

e um abraço.

João Roque disse...

Amigo Sócrates
acho que vou comentar este teu texto, principalmente as tuas palavras, noutro local que não aqui; aliás e nesse campo, estou em dívida para contigo.
Abração.

Kokas disse...

Pode parecer ridículo vir para aqui comentar estas palavras. Não quero parecer demasiado ousado. Por isso, guardo aqui um pouco de silêncio...

... a ti que te basta um pouco de céu! Aquele abraço!

João disse...

Vem este sábado a Braga: queres vir cá?
Nosso, nosso mesmo só a vontade... Era bom podermos partilhar sem dividir por partes (mas é o que fazemos para dominar); E estamos cá todos, e só interessa o que fazemos em cada momento... presente!

Abraço

Catatau disse...

Sócrates, é claro que não é justo, mas se olhares à tua volta...
De qualquer forma, uma estrela me diz que tu ainda vais ser muito feliz. E se não fores muito, muito, ao menos terás um caminho seguro - cauteloso, claro - para trilhar e, quem sabe, partilhar com quem tu quiseres amar.

Ai Sócrates, Sócrates, também temos de dar um empurrãozinho ao futuro (a ver se ele nos sorri).

Um forte abraço de quem está debaixo do mesmo céu.

Socrates daSilva disse...

Sp,
Obrigado, mesmo…
Abraço


Pinguim,
Não tens dividas para comigo. Aprecio a tua sensibilidade perante este meu post…
Abração


Kokas,
Não é de nenhuma forma ridículo. Pelo contrário, o teu silencio, registado no teu comentário, é apreciado.
Abraço


Ophiuchus,
Quer pela MV, quer por Braga, iria com um alento revitalizador. Podes crer…
Quanto a “só interessar o que fazemos em cada momento presente”, isso, pelo menos no meu caso, como em outros, depende de tantas coisas, meu amigo!
Abraço


Catatau,
Eu sei que justiça não é a marca registada deste nosso mundo. Mas, cada um sente as suas dores. Obrigado pela perspectiva animadora! Eu sei que nada vai cair do céu ou oferecido de mão beijada. Mas, mesmo quando tentamos resolver “dignamente” as coisas, que dói, dói…
Abraço

Tongzhi disse...

Na vida não podemos ser um atleta que tem, porque assim o quer, ter umas boas marcas.
Seria bom ser o Nélson Évora e dar um grande salto...
Passinhos pequenos e seguros e chegamos lá...
Abraço

Special K disse...

E um dia vais conseguir o teu pedaço de céu.
Reparei em posts meus, já antigos, que a questão é polémica, mas gosto muito dos poemas e das canções desta senhora.
um abraço.

paulo disse...

não, não é justo! em todo o caso, não deves nem podes deixar de sonhar, caso contrário estarás a ceder a um fantasma qualquer que pode ser a infelicidade. há coisas de que nunca devemos desistir, sermos felizes faz parte desse lote!

grande abraço!

Anónimo disse...

Boa! eu não sou fã de poemas nem fã de Mafalda Veiga (lembro-se sempre do Herman a cantar os Pássaros do Sul)...
Mesmo assim fui procurar quem era a cantora e a música no YouTube, para ouvir... (gosto de poesia CANTADA ;) ) [não reparei que estava no imeem]

"e há qualquer coisa a nascer
bem dentro no fundo de mim
e há uma força a vencer
qualquer outro fim"

Procura o prazer infinito das coisas pequenas e banais... ;)
E tocar a almas das pessoas...
Mesmo que elas nem o sintam.

Todos NÓS estamos cá e tentamos fazer isso, umas vezes melhor, outras vezes ainda melhor... ;)

Hoje já conheço uma música da Mafalda Veiga que gosto! ;)

Socrates daSilva disse...

Tongzhi,
Uma excelente metáfora! Eu não queria apenas ir devagar para chegar longe, eu queria ir bem, sem tropeços, quedas, ou empurrões. Vamos a ver.
Abraço


Special k,
Obrigado pelo teu optimismo, meu amigo!
Quanto à Mafalda Veiga, eu gosto mesmo muito dos seus poemas e canções. Sei que não é um entusiasmo generalizado.
:-)
Mas, é como tudo na vida…

Olha, por seres tão simpático com esta senhora, vou deixar-te um dos primeiros poemas cantados dela e que gosto muito:

“e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração”

Abraço


Paulo,
Não podemos pedir justiça para nós num mundo em que não há justiça para ninguém, não é? Não sou mais que os outros.
Meu amigo, quando deixar de sonhar, um pouco que seja, acabou tudo. Mesmo tudo!
Abraço


Enginethrobs,
Nem sabes como o teu comentário me soube tão bem…
Por estares disposto a entenderes onde este poema cantado faz sentido para mim; por te dares ao trabalho de pesquisares algo que não conhecias bem; pelo conselho; por teres, pelo menos agora uma música da Mafalda que gostas.

Em agradecimento vou deixar aqui mais um fragmento de outro poema cantado dela, que me diz muito:


Aprende-se a calar a dor
A tremura, o rubor
O que sobra de paixão
Aprende-se a conter o gesto
A raiva, o protesto
E há um dia em que a alma
Nos rebenta nas mãos

Abraço