sexta-feira, 17 de abril de 2009

Raiva

Foi então que senti como era imensa a distância que eu teria de percorrer, se quisesse dominar o meu futuro. Mas, nesse mesmo instante, despedaçou-me uma súbita revolta mais alta e mais forte do que quantos destinos houvesse. E disse para mim: «Hei-de fugir, hei-de vencer. Que ninguém tenha pena de mim. Hei-de rebentar com tudo. Destruído de peste. De opróbrio. De trampa. Mas hei-de vencer.»

Não sabia como iria cumprir a minha jura. Mas estava certo, violentamente, de que ela tinha a verdade do meu sangue.

(Manhã Submersa, Virgílio Ferreira)

17 comentários:

Anónimo disse...

Conheço muito bem a sensação! Abraço!

Daniel C.da Silva disse...

Sócrateeeeeees...:) Há ja uns dias que nao vinhas...

Eu sou mais pacífico. Prefiro a pedagogia do autêntico, em detrimento dos instintos animais básicos aliados a um intelecto com pouca correspond~encia na sensibilidade.

Não páres. Continua. Fazes falta :)

Hugs

com senso disse...

Há na verdade momentos assim.
Creio contudo que se algumas vezes eles representa o ascender à verdade e à lucidez, outras vezes são sobretudo gritos de raiva, o virar a mesa, o extravazar de uma dor na alma, onde é a impulsividade pura que vem ao de cima.
Uma boa escolha literária, caro amigo.
Um abraço!

João Roque disse...

Acima de tudo, um livro que é fundamental na tua vida...e talvez agora mais que nunca...
Abraço grande.

Tongzhi disse...

Força para o percurso!!
Abraço

Violeta disse...

um excelente livro...
a sensação, essa bem a conheço!
mas nem sempre vencemos, ou quando o conseguimos, por vees, o preço é demasiado elevado
bjocas

Socrates daSilva disse...

Vasco,
Eu sei que sabes, e sei que sabes que eu sei.
(Desculpa lá, não resisti ao trocadilho, mas expresso algo muito sério e sentido)
;-)
Abraço!


Daniel,
Bem hajas pelas simpáticas palavras em relação à minha ausência.
No entanto em relação ao teu comentário sobre o trecho que escolhi da “Manhã Submersa” não me parece que a personagem, ao fazer esta afirmação, seja agressiva e falsa. Perdoa-me se o que vou dizer a seguir parecer pretensioso, mas é apenas para esclarecer o ponto acerca de um livro que gosto e me diz muito.

António, o personagem central é um miúdo de 12 anos que é pressionado a frequentar o seminário sem ter vocação ou vontade. O livro explora, com muito sentimento, a descoberta de si, a sua luta interior e do ambiente que o rodeia.
Trata-se, acima de tudo, de uma reflexão acerca da luta entre o corpo e o espírito. A parte que usei no post, antevê o final dramático da mutilação do corpo a fim de se poder libertar o espírito; o rapaz deixa arrebentar um foguete na mão a fim de ter uma desculpa “válida” para deixar honradamente o seminário.

Não me parece ser esta determinação expressa o reflexo de “instintos animais básicos” e falta de “sensibilidade”. Alguém com menos sensibilidade preocupar-se-ia apenas com ter “o pão de cada dia” assegurado e mandava “às favas” o bem estar interior. Quantos não seguiram caminhos de hipotética vocação religiosa apenas para terem um emprego confortável e um meio de sobrevivência económica?
Creio que todo o livro é um monumento, muito bem escrito, à luta pela dignidade, pelo amor-próprio e pela veracidade perante certas circunstancias que a vida coloca a muitas pessoas. Isso é do mais autêntico que existe no ser humano.

Citei-o porque me revejo em muito do que lá está relatado, embora com circunstâncias muito diferentes, é claro! Citei-o porque tento lutar para ser autêntico, pacífico e sensível. Citei-o porque cada vez entendo mais o caminho que me falta e o preço que tenho que pagar por isso.

Decerto que não recordavas o livro… Perdoa a minha “seca”!

Abraço!


Com senso,
Excelente leitura que fazes. Que mais posso mais dizer?
Bem hajas.

Abraço!


Pinguim,
Digamos que é uma referência a levar em conta. Como todos os livros, filmes e contos, a ficção é ficção e a vida real é a vida real. Mas é sempre inspiradora esta belíssima história.
Abraço!


Tongzhi,
Bem hajas…
Força é sempre preciso para tudo nesta vida.
Abraço!


Violeta,
Que verdade tão bem escrita!
Nem acrescento, nem tiro nada ao que afirmas.
Bjs

Daniel C.da Silva disse...

Sócrates, antes de mais, se antes folguei por te ver de novo, agora fico apreensivo (triste por ti, se quiseres) por me pareceres desencantado :(

A vida tem disto, amigo, tal como o dia de hoje, chuvento e melancólico, e quando escreves que "tento lutar para ser autêntico, pacífico e sensível", como eu te compreendo.

Pessoalmente isso traz-me dissabores porque julgo os outros assim e afinal revelam-se venenos humanos. Felizmente sao excepções mas qualquer pedrinha no caminho me faz tombar. Sou muito mais fraco do que a ideia que talvez possa dar.

E agora que falei de ti, de nós, comento entao a citação do livro.

Tens toda a razao. A memoria falhou-me. Li o livro ha tanto que tal como nao me lembro como terminam os "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes, também nao me lembrava desta parte crucial do livro. Assim contextualizado, o meu comentario seria diferente. Todavia, mantém-se actual em casos de pessoas que só porque criam uma enigmatica aversao a outros (ou problemas de auto-estima velados), a vontade é a de destruir e fulminar. Nesses casos prefiro o que disse no meu primeiro comentario. DE alguma forma falo disto no meu ultimo post.

E nao foi seca, nenhuma, Socrates. Eu é que agradeço teres-me lembrado a que se reportava a passagem.

Um grande abraço e tenta fazer sol na tua vida. Nao conheço os problemas, mas tenta um confidente. Escolhe de entre as pessoas que conheceres bem pessoalmente, aquela(s) a quem possas desabafar. Porque muitas ha que julgamos amigas e afinal têm muita pouca formaçao humana. Falar ajuda. É a função catartica das palavras.

Grande, grande abraço de silêncio,

Daniel Lobinho

Socrates daSilva disse...

Daniel,

Sinteticamente, quatro pontos:

1 - Escrevo posts sobre as minhas vivencias e coisas que no dia-a-dia me interessam e tenho prazer em compartilhar. Gosto muito de receber comentários dos visitantes sobre o tema exposto; com isso eu aprendo, reajusto-me, amplio horizontes e até elevo o meu ânimo quando as palavras encorajam e sorriem.

2- Quando ocorrem divergências, mal entendidos ou opiniões controversas com outros bloguistas – o que já me aconteceu! – trato o assunto nos respectivos blogues ou em privado, o que tem sido mais frequente. Nunca fui a terceiros blogues tratar desses temas. Como é lógico, espero o mesmo dos outros.

3- Quem aqui costuma comentar tem a minha estima e amizade, quer eu o conheça pessoalmente, quer não. Por isso, não me sinto confortável com a ideia de vires aqui criticar, mesmo que tacitamente, quem me visita e deixa mensagens. Teria exactamente a mesma opinião se, num cenário similar, o visado de algum “ataque” fosses tu.

4- Contigo não tenho nenhuma razão de queixa. Pelo contrário. Tens comentado de uma maneira muito agradável e animadora no meu blogue e serei sempre um leitor apreciativo do teu, mesmo que lá não deixe regularmente mensagens. És sempre bem-vindo e sentir-me-ei de igual maneira no teu blogue.

Abraço!

Daniel C.da Silva disse...

Sócrates

Porventura fiz-te algum reparo? SE sim, diz-me em quê, se não, porque me criticas? Tal como tu, não tenho qualquer queixa de ti, e não te disse se tinha havido queixas ou mal entendidos entre bloguistas. Logo, parece que ja te falaram de mim em particular.

Olha eu nao falo em particular com ninguém. É sempre tudo tratado em público, e depois posso passar ao privado, precisamente para evitar que apenas uma das partes dê a sua versão. Em público e nos respectivos blogues ou que estejam implicados, - que nao foi nem é o teu caso.

O que eu escrevi tem a ver com o que achei do post que colocaste e que chamaste a ti e sobre o qual discorri. O excerto da "Manhã Submersa" e os comentários seguintes como dizeres que "tento lutar para ser autêntico, pacífico e sensível", o que me levou a discorrer sobre isso dizendo que te compreendia e justificando com o meu exemplo: "Pessoalmente isso traz-me dissabores porque julgo os outros assim e afinal revelam-se venenos humanos. Felizmente sao excepções mas qualquer pedrinha no caminho me faz tombar. Sou muito mais fraco do que a ideia que talvez possa dar".

De seguida passei para o livro, e uma vez refeito o comentário disse que, apesar de te ter treslido, o que eu tinha entao escrito da primeira vez se mantinha actual "em casos de pessoas que só porque criam uma enigmatica aversao a outros (ou problemas de auto-estima velados), a vontade é a de destruir e fulminar. Nesses casos prefiro o que disse no meu primeiro comentario. DE alguma forma falo disto no meu ultimo post."

Não sei onde é que aqui estou a falar de algum teu amigo. Se estou, entao és tu quem traz o problema para este comentário, nao eu.

Se me disseres que coincide a tematica com problemas entre mim e alguns bloguistas, com certezxa, é diferente. Mas nao vim aqui escrever de ninguém, como dizes.

E quanto aos amigos, Sócrates,como me pareceste em baixo e isso o disse, referi que devias procurar um confidente, não sem antes dar a minha experiência: "Escolhe de entre as pessoas que conheceres bem pessoalmente, aquela(s) a quem possas desabafar. Porque muitas ha que julgamos amigas e afinal têm muita pouca formaçao humana. Falar ajuda. É a função catartica das palavras."

Aceito e acho bonito que defendas os amigos ainda que virtuais, não és melhor do que ninguém (suponho eu) nesse aspecto, mas como a minha recente experiência me tirou a virgindade de acreditar piamente nos outros, acrescentei isso.

Dei uma opinião, justifiquei porque te tinha treslido no início, e finalmente propus-me "ajudar" com a minha própria experiencia. Não fiz quaisquer reparos a amigos teus, ainda que possam existir em comum ou não.

Muito francamente não percebi esta tua acintosidade, e tal como és bem vindo no meu canto, espero ser bem vindo no teu.

Permite ainda dizer-te isto: nao sou do tipo de amigos que só diz o que gostamos. Como bem dizias no inicio: "Gosto muito de receber comentários dos visitantes sobre o tema exposto; com isso eu aprendo, reajusto-me, amplio horizontes e até elevo o meu ânimo quando as palavras encorajam e sorriem."

Como a minha experiencia recente (embora a excepção)deitou por água abaixo este teu sentir que julgo ser também o de muitos, ou seja, de sermos acolhidos, de acolhermos, de ampliarmos horizontes e crescermos também com os outros, achei por bem deixar esse infeliz testemunho.

Sabes, sou muito pouco de usar e-mails privados. Porque so se ouve uma versao. E tal como dizia mais acima, nao vejo onde é que aqui vim queixar-me do que quer que fosse.

Fica um abraço mas reforço tudo o que disse, ou seja: se alguém nao nos disser algo que gostamos de ouvir, nao o estará a fazer por mal (estou a julgar-me por mim) mas para nos ajudar a crescer ou a vencer determinadas dificuldades. Quem diz apenas o que queremos ouvir, não é verdadeiramente amigo. E nao digas que estou a insultar os teus amigos, porque tudo parte da minha experiência e nao de ti.

Um abraço, se ainda o quiseres.
Prefiro a solidão da inocência à festa da cumplicidade.

Daniel Silva (Lobinho)

Anónimo disse...

Eu sei que expressas. Fui sintético no comentário porque (isto vai parecer eco...) sabia que entenderias o que quis dizer. Abraço! (Cá estamos!)

Socrates daSilva disse...

Daniel,

Creio que entendeste o que quis dizer no meu comentário. Não coloques palavras que não disse.

Este assunto, da minha parte, acabou.

Abraço!

Daniel C.da Silva disse...

Sócrates

Da minha também. Mas convém ser-se mais prudente quando se ouvem e dizem determinadas coisas.

Outro abraço

Snl disse...

Gostei imenso! É bom que tenhamos essa fúria de vencer!

Socrates daSilva disse...

Vasco,
:-)
Cá estaremos...
Abraço!


Daniel,
Bem hajas pelo conselho. Realmente concordo que a prudência é uma das grandes virtudes.
Abraço!


F3lixP,
Bem hajas...
:-)
Abraço!

No Limite do Oceano disse...

O título do teu texto é "raiva" raramente sinto-a, e isso acho que quer dizer alguma coisa, mas porque há dias que o que se lê pode ir ao encontro do que se sente, dizem que quem mais jura mais mente...será?

O excerto acaba com "de que ela tinha a verdade do meu sangue" e sendo o sangue parte vital para seguirmos em frente, há palavras sábias :-)

Um abraço,
Carlos

Socrates daSilva disse...

Carlos,
A raiva nem sempre é negativa. Por vezes é um "alfinete" que se espeta e nos doí fazendo-nos mexer e agir. Em relação à citação do livro é de facto espectacular, sentida e viva.
Abraço!