terça-feira, 23 de junho de 2009

Próximo

“ Mas, o especialista em leis, querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?»

Jesus respondeu: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de salteadores, que lhe roubaram tudo e o espancaram. Depois foram-se embora e deixaram-no quase morto. Por acaso, um sacerdote descia por aquele caminho; quando viu o homem, passou adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu, e passou adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele, viu, e teve compaixão. Aproximou-se dele e fez-lhe o curativo, derramando azeite e vinho nas feridas. Depois colocou-o no seu animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou em duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando:”Toma conta dele. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais”».

E Jesus perguntou: «Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?» O especialista em leis respondeu: «Aquele que usou de misericórdia para com ele». Então Jesus disse-lhe: «Vai e faz a mesma coisa».”

Evangelho de Lucas, 10, 29-37, Bíblia pastoral, Edições Paulistas


Citação da nota de rodapé: “O próximo é aquele que eu encontro no meu caminho. O legalista estabelecia limites para o amor: «Quem é o meu próximo?» Jesus muda a pergunta: «O que fazes para te tornares próximo do outro?».


8 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Precisamente. Bela citação bíblica. Não fazer juizos de valor, nao ir atrás da aparência, nao julgar, nao apressar o que penso sem cuidar do todo... e ir ter com om meu proximo, que nao tem de ser aquele que pensa como eu, que vive como eu, que diz o que quero ouvir...

É uma reflexão de uma vida, de um modo de vida, onde a autocritica e o sentido de ajuda, mais do que os estereotipos que possamos ter de quem é meu proximo, valem por tudo...

abraço

João Roque disse...

Há muito que conheço esta passagem dos Evangelhos; e ela é tão simples e significativa, que não necessita grandes retóricas para ser percebida ou explicada...
Abraço amigo.

Socrates daSilva disse...

Daniel,
«Vai e faz a mesma coisa».

(Não o digo com mais nenhuma intenção senão a de salientar que coloquei este post numa espécie de homenagem para aqueles que, durante a minha vida, me têm tratado como próximo e, numa perspectiva introspectiva, incentivar-me a querer ser assim, a manter este alvo, que convenhamos não é fácil.
É que a tendência que tenho – creio que temos todos! – é de pensar em quem posso “encaixar” certos pensamentos correctivos, quem merecia “levar o recado”, quando afinal deveria ser eu o destinatário das mensagens que leio. Deveria ser eu a tentar melhorar. Perante os erros de outros, perante a incompreensão de outros, recordo muitas vezes, de mim para mim, aquela maravilhosa frase em que Cristo diz para primeiro olharmos para a trave que temos no nosso olho, antes de olharmos para o argueiro que está no olho do outro.)


Pinguim,
É das passagens mais conhecidas, sem dúvida. Um dos grandes trunfos dos evangelhos é a sua simplicidade. Cristo conseguiu tocar nos assuntos humanos, desde os mais simples aos mais complexos, e falar deles de tal maneira, que os tornou acessíveis, compreensivos e práticos. Sem estar a entrar no campo da teologia, apenas em termos de convivência humana, contêm lições fabulosas.
Abraço!

No Limite do Oceano disse...

Já folheei a Bíblia mas já foi há muitos anos, e pouco ou nada ficou. Talvez o meu desinteresse de hoje é bem diferente do passado.

Fechas o post com uma pergunta para a qual no meu caso não tenho a resposta.

Abraço,
Carlos

Violeta disse...

O que fazes para te tornares próximo do outro?».
Eis a grande questão amigo Sócrates...

Daniel C.da Silva disse...

Sócrates

O teu pensamento,a tua sensibilidade (e quem ama Cristo é necssariamente sensivel sem demerito de quem nao creia n'Ele) e a humildade que revelas na resposta, fazem de ti aquele ser que preconizo num dos meus ultimos posts, salvo erro o penultimo.

O olharmos para dentro de nos, o nao vermos o defeito no outro sem primeiro o vermos em nós... E Jesus foi um grande pedagogo.

Permite-me um especial abraço por me pareceres tao rico nos ultimos posts (ou talvez eu simplesmente nao te conheça bem).

Obrigado pelas palavras. Pessoalmente tento o mesmo que tu, na limitação que tenho mas também na força espiritual que ajuda quando a mente e o intelecto tentam explicar e psicanalisar o que nao tem a ver com nada a nao ser com um estado de "aqui estou..." de "Fiat... faça-se"... sem preconceitos nem pre-julgamentos.

Gostei muito da tua resposta.

Obrigado porque ao reflectires tambem levas os outros a reflectir, e mais do que isso, dás o exemplo. Eu escrevi no penultimo e outros posts sobre a autocritica que acho sempre muitissimo importante. Curiosamente Jesus diz o mesmo por outras palavras, e tens toda a razao no que escreves.

Socrates daSilva disse...

Carlos,
Não pretendi na citação fazer alguma espécie de “evangelização”. Pretendi, por uma razão particular, relembrar uma história, que mais que à Bíblia, pertence à história universal, pertence ao património daquilo que é importante cada humano possuir, seja qual for o seu credo. Se queres que seja franco nesta minha reflexão, tenho que admitir que já vi mais pessoas assumidamente agnósticas a vivenciarem este princípio do que algumas – passe a expressão popular - “beatas”.
Creio que terás a resposta à pergunta. Não tens é que a colocar aqui…
:-)
Abraço!


Violeta,
É mesmo A questão! Tão confortavelmente instalados estamos nos nossos círculos de conhecimentos e interesses que por vezes passa-nos despercebido muitas coisas. Coisas simples e eficazes que fariam toda a diferença. E não falo da “caridade”, da dádiva que damos a alguém na rua ou a uma instituição. Essa pode, e em muitos casos será, suprir reais necessidades. Falo daqueles com quem lidamos, daqueles que estão ao nosso alcance, daqueles que não precisam de dinheiro, daqueles com quem podemos viver em paz se entendermos que temos o direito a pensar diferente. Enfim, cara amiga, do que fazemos para mudar algo. É mesmo a grande questão!
Bjs


Daniel,
Agradeço as tuas palavras. É verdade que tendo uma formação de raiz cristã, muitas coisas ficam. Já tive mais fé, já fui mais forte na crença no que vejo e no que não vejo. Desanimei, entre outras coisas, por ocasionalmente ver pessoas muito religiosas a serem desumanas nos seus tratos com outros.
Pessoalmente, não me revejo como exemplo, apenas tento encontrar o meu caminho, sabendo que vivemos em comunidade.
O importante é mesmo sabermos viver respeitando e sendo respeitados. Uso como um pilar da minha vida algo parecido ao que Cristo também disse: “Faz aos outros aquilo que queres que os outros te façam”. Sempre penso na parte proactiva da expressão: faz. Não é simplesmente “não faças mal”; é: age, toma a iniciativa, se possível, torna melhor o dia dos que te cercam. Claro que com o equilíbrio necessário. Procuro não ser ingénuo; essa história de dar a outra face não faz muito o meu estilo quando lido com pessoa manhosas e sacanas.

Daniel C.da Silva disse...

Sócrates

"essa história de dar a outra face não faz muito o meu estilo quando lido com pessoa manhosas e sacanas."

Subscrevo inteiramente e disso tenho dado provas expondo-me de peito aberto. Se há coisa que mexe comigo é o sentido de justiça. Ha muita gente com pele de cordeiro mas que nao deixam de querer comer carne como os lobos, parafraseando alguem.

Insinuam-se e sorriem, quando no fundo estão cheios de ódio, desprezo e raiva.

Oura coisa que gostava de dizer e que retiro do que escreveste, é o facto de teres falado na fé. Sócrates, ser-se crente é amar alguém, e existem crises de fé. Isso nao diminui ninguém em nada. Apenas fortalece, quais desaires da vida, o relacionamento com o Transcendente. São desertos da alma. Também tenho enormes crises de fé. Mas nao me fecho àquilo que posso não conhecer, como se fora detentor de pseudo-razoes que fazem sorrir e mostrar dentes de leite quando sao garras de leao.

Abraço