Hoje estou com esta música na cabeça. Não sei se foi por a escutar na rádio e colou-se, por motivos óbvios, aos meus neurónios. Embala-me. Provoca-me a agridoce sensação de olhos húmidos.
Hoje devia ter nomeado algum facto da blogosfera para o meu “prémio” PorQueMeApeteceum. Mas, não consegui. Foi um mês sem margem de manobra, sem concentração, sem bússola. Assim, hoje apetece-me esta música. E, divagar um pouco.
Se alguém não tiver paciência para ver o vídeo, pela razão que seja, destaco aqui uma parte da letra.
(…)
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada
(…)
Começo pelo Abrunhosa. Quando este senhor começou a sua carreira, embirrei com ele. Tendo um estilo que trouxe alguma originalidade ao panorama musical português, no entanto, demonstrava alguns tiques irritantes de pedantismo. Mas, com o tempo fui dando conta que começava a gostar de escutar com muito prazer algumas das suas músicas, quer pelos seus poemas, quer pela melodia lenta e envolvente. Algumas delas tornaram-se incontornáveis mesmo.
Esta diz-me muito. Porque eu vivo com fantasmas. Porque durante muito tempo esperei que alguém um dia mos levasse embora e eu depois apenas pagava a conta pelo serviço prestado. Agora sei que não existe esse tipo de prestação de serviços quer nas páginas amarelas, quer em algum ShoppingCenter. Tenho que fazer o trabalhinho pessoalmente. Com o meu tempo, com a minha habilidade e com as minhas ferramentas. Ou faço eu o trabalho ou aprendo a viver com os fantasmas e não me queixo.
Quando muito posso perguntar, refazendo a pergunta da canção, quem assiste a eu tratar da saúde aos meus fantasmas?; ou quem me conta como despachou os seus fantasmas?; ou ainda quem me apoia enquanto eu trato da saúde aos meus fantasmas? Apenas isso. E, deixem que vos confesse, já essas hipóteses são muito boas.
Depois há o vídeo (antigamente dizia-se o teledisco). Mexe com um dos meus mais profundos medos. Retrata rostos de sem-abrigos da cidade do Porto. Um dos meus piores pesadelos é ao cuidar dos meus fantasmas, corroer os laços que me unem à sociedade e acabar assim. Só. Arriscar e perder.
(…)
Apetece-me escuta-la mais uma vez.
De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?
(lá, lá, lá, lá... - sou eu a fazer coro)
6 comentários:
Fiquei quedo e mudo!!!
É comovente, mesmo...
Mas, fantasmas todos temos, amigo e acho exagerada a tua comparação de num futuro, os teus "fantasmas" te levarem a situações destas...
Tu tens a força da tua convicção.
Abraço muito grande.
Pinguim,
É um vídeo muito bem pensado. Simples e intenso na mensagem. Sem espinhas!
Os fantasmas…
Às vezes o medo é bom porque nos faz ser prudentes, embora, por vezes é difícil de estabelecer a linha divisória com a cobardia.
Abraço grande!
Cobardia é uma palavra muito forte. Há todo o contexto de vida que condiciona muitos dos nossos comportamentos, mesmo daqueles que desejamos ter para "abalar" os nossos fantasmas. Há a prudência, a segurança, o respeito pelos que connosco caminharam e tantos outros.
Mas é bom numa reflexão ser um pouco "radical" nos atributos!
Abraços de boas vindas
Tongzhi,
A avaliação do que realmente nos move só vem ao de cima com o tempo. Por vezes nem eu mesmo me entendo a mim mesmo, nem sei o que quero, nem sei para onde estou a ir. E quanto a ser “radical”… bem, por vezes é a melhor maneira de aclarar as coisas.
Obrigado e abraço!
não vives nada com fantasmas! melhor, vivemos todos! o vídeo é forte. só é pena não ser outra pessoa a cantar que não o Abrunhosa! força!
Paulo,
Existem por ai fantasmas para dar e vender…
:-)
Deixa lá o Abrunhosa, já foi pior! Claro que há vozes melhores.
Abraço!
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