quinta-feira, 30 de julho de 2009

Casca

Sempre acreditei que são as coisas que não escolhemos que nos tornam aquilo que somos.

A nossa cidade.
O nosso bairro.
A nossa familia.

...as pessoas orgulham-se dessas coisas. Como se fossem feitos seus.
Os corpos que envolvem as suas almas. As cidades em torno delas.

(Filme "Gone Baby Gone", de Ben Affleck)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Porque o contador chegou aos 10 000!


Dedicado aos que paulatinamente fizeram aparecer este número. É muita visita!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Intervalo para publicidade




Bem pensado e divertido!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Prémio FJ


O Blogue Felizes Juntos generosamente atribuiu um prémio ao meu castelo. Junto com a bonita imagem, dedicou estas palavras exclusivas:

"pelos espinhos e pela certeza de se ser."

E apreciei o facto de estar incluido na secção

# e ainda... #
Todos os outros com quem aconteceu ainda não nos termos cruzado, mas que muito gostaria que acontecesse.

Muito agradeço a distinção. Ainda mais quando recordo que foi do Paulo e do Zé que recebi o primeiro prémio de todos, ainda andava eu com um hesitante e timido caminhar na blogosfera. Muita água passou por baixo das pontes e a vida avança. Com espinhos e certezas; com rosas e dúvidas, também.
Abraço!


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Refleões sobre uma frase solta

“Quis mudar o mundo, mas acabei por começar a mudar-me a mim.”

Esta foi a essência da frase que ontem escolhi para o meu post que, num blogue judaico, tinha chamado a minha atenção. Possivelmente na sua génese foi pensada para criar um efeito que, se calhar, não foi aquele que agarrei. É assumidamente uma frase meio dúbia, daquelas que ficamos a olhar para ela e a pensar: “mas onde é que esta menina quer chegar?”

Para mim a leitura foi clara. Eu, na origem, tentei mudar o meu mundo. Mal. Ignorei-o na sua genuinidade e quis pintá-lo com as cores do meu desejo.

(“Meu desejo?” Mas o que é que estou para aqui a escrever? Devo estar parvo…)

Quis maquilhá-lo, quis transvertê-lo como os cânones – o desejo, mas dos outros - mandavam.

Por isso mais do que mudar o mundo de uma maneira idílica, quis adaptar-me acriticamente ao que ele queria para mim. Quis ser o azulejo de Nossa Senhora de Fátima na parede da vivenda; quis ser o naperon em cima da televisão; quis ser a couve viçosa no quintal.

Quis mudar assim o meu mundo. Aquele mundo interior e de secreto sentir. Mas não consegui. O meu mundo imobilizou-se apenas. Fingiu estar em coma. Armou-se numa estátua onde conviviam e defecavam os pombos. A sua grande vingança foi que afinal hibernou. E quando apanhou a jeito a mais ténue e irregular luz, sentiu-se aquecido e mexeu-se. Cada vez mais determinado. Imparável. Revoltado até pela injusta reclusão.

Por isso, não consegui mudar o mundo, nem nada que queria ter mudado em nome de uma normalidade defendida pela ditadura da maioria. Resta-me mudar a mim. Se calhar, sendo muito rigoroso, nem estou a mudar nada, estou afinal a ser quem sempre fui. Mas, prontos, dentro desta legitimidade pseudo-gramatical tal acção pode considerar-se uma mudança.

Por isso perdoe-me o rabino que pensou e escreveu aquela linda frase, por a estar a usar desta maneira tão minha, mas as frases são como os balões de hélio. Soltamo-los e depois cada corrente de ar faz com ele o que quer.


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Por onde começar

“Quando eu era jovem, queria mudar o mundo. Tentei, mas o mundo não mudou. Tentei mudar a minha cidade, mas a cidade não mudou. Tentei mudar a minha família, mas a minha família não mudou. Então, eu soube: primeiro, eu deveria mudar a mim mesmo.”

(Lido aqui)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Paraíso

Estar numa varanda.

Ver o dia a nascer.

Descascar e comer uma laranja em jejum.

Ter á frente a planície alentejana.


Sentir a frescura da noite que se despede da terra e, trazida pela brisa, afaga-me a cara antes de se dissolver no alto; ver a luminosidade do dia a piscar os olhos, ainda sonolentos, ao mesmo tempo que inunda todos os reguinhos do solo.


O paraíso existe. Está na planície alentejana.

(Meu Deus, como tinha tantas saudades tuas, terra da minh’alma!)


quarta-feira, 1 de julho de 2009

Vertigem (ou coisa parecida)


Nesse início de dia, a auto-estrada parecia feita apenas para mim. Os poucos carros que encontrava nem faziam a diferença. O sol bem que tentava impor-se no horizonte, mas o ar meio enevoado não lhe dava acesso ao protagonismo que ele tanto gosta. O ambiente, a certa altura, fazia lembrar um filme. Um filme qualquer, naquelas partes lentas, em que, embora tudo seja previsível e artificialmente arrumadinho, ficamos encantados com o magnetismo doce da cena; qualquer frase mais ou menos rebuscada, que é dita num contexto assim, soará a máxima que nos marcará a vida como um ferro em brasa na pele.

Pois eu estava assim. Parvo e deslumbrado. Com vontade que a auto-estrada não tivesse fim, e a gasolina também não. Flutuando no alcatrão.

Eis que no CD chega a vez de Creep. Pois, faltava a música! Alto, mais alto.

A música, a estrada, a paisagem. Fiquei tonto. Algo em mim ultrapassou a fronteira do corpo. A música, embora tentasse estilhaçar-me os tímpanos, era minha aliada numa forma estranha de simbiose. Envolveu-me. Tentou pôr-me fogo nos olhos; insistiu em chegar a algo que está dentro. Só me apeteceu dar com a cabeça em alguma coisa para ser congruente. O esporádico arranhar de notas na guitarra eléctrica provocou-me uma breve convulsão.

I don't care if it hurts
I wanna have control

Por fim terminava. Olhei para o ponteiro da velocidade e nem sei como lá tinha chegado. Baixei o som. Voltei a colocar a música no princípio – faixa 4 – e preparei-me para escutá-la outra vez.

Decididamente.

What the hell am I doing here?
I don't belong here
I don't belong me.