sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Um dezembro pessoal



Dezembro.

Para mim é um mês que inflama a vontade de deixar embaciar a janela onde observo o mundo.


Um mês frio, em que só sabe bem estar em casa, enrolado numa manta a praticar desinteressadamente aquele desporto chamado zapping; ou então rever algum daqueles filmes onde já sabemos as falas e em que partes vamos rir ou chorar.


A ler um livro, também. Embora confesse que ultimamente tenho que ler três vezes a mesma coisa, para entender o que leio, porque a minha cabeça teima separar-se da visão e voar para outros mundos.


A fingir que se dorme, porque apetece apenas que não nos digam nada, que não nos façam perguntas, nem nos queiram envolver num diálogo. Talvez porque apenas sabe bem ter os olhos fechados.


Um mês que nos quer impingir dose maciças de alegria em conserva; que quer tecer um mundo imaginário em que existe música no ar, sorrisos nas pessoas, boa vontade e generosidade a abarrotar em cada esquina. Não suporto. Apetece-me subir acima de uma estátua, no meio de uma praça qualquer, e com um megafone questionar, como se fosse um profeta louco: “Onde estão no resto do ano?”

(Raios partam esta celebração que visa apenas apaziguar a nossa consciência colectiva…)


Um mês que nos quer convencer que vamos renascer em breve num novo ano, onde vamos todos, fingindo ingenuidade, dizer: “Feliz ano novo, este ano é que vai ser!”

Como se não soubéssemos que este ritual está gasto de milénios e que é apenas uma maneira de nos continuarmos a iludir num mundo em que ninguém está interessado em mudar nada.




Dezembro, Dezembro…

Mas, sabes que este ano estou a gostar mais de ti?



(foto de Pedro Novo, site do Olhares)

4 comentários:

Tongzhi disse...

Até há uns anos atrás, Dezembro foi um mês muito especial lá em casa. O meu pai era um verdadeiro "doido de Dezembro". Viva o mês do Natal com uma intensidade impressionante... parecia um "puto" na véspera de receber os presentes.
Perdeu, para mim, todo o significado...

João Roque disse...

Para mim o Natal já foi uma enorme festa de família; agora é quase um pesadelo.
Do teu texto, muito bom, retive um certo parágrafo (...)
Abraço.

Anónimo disse...

Dezembro, por razões que já aqui foram apontadas, é, para mim, dos meses mais deprimentes do ano. Mais que Dezembro, só Agosto... Abraço!

Socrates daSilva disse...

Tongzhi,
Entendo muito bem. As coisas valem pelas pessoas que significam muito para nós e por genuínos sentimentos, não por convenções impostas.
Abraço!


Pinguim,
Como decerto compreendes, eu até devia gostar muito do natal!
Também imagino o paragrafo que retiveste…
:-)

Abraço!


Arion,
Dezembro tem, para mim, outra razão para me deprimir...
Assim, que dos dois prefiro Agosto.
Abraço!