terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Um dia perfeito

Prólogo

O Pinguim desafiou-me, em Agosto passado, para descrever eventos culturais aos quais eu gostaria de assistir durante um dia de férias. A ideia seria envolver diversas artes e referenciar algumas das coisas que gosto e outras que gostaria de conhecer, e que estão, digamos, em lista de espera. Foi esse o espírito que invadiu a escrita deste meu post. Tive então a ideia de descrever o que para mim seria um dia perfeito em que, ignorando as leis do espaço e tempo, estaria onde desejasse e a fazer o que me apetecesse, qual Jack Bauer. (Apertem então os cintos)


24 – A minha versão

Há que acordar cedo para aproveitar o dia. Também existe a necessidade de preparar o estômago para a maratona. Nada como um substancial e britânico pequeno-almoço. Enquanto preparo ovos com bacon, salsichas junto com cogumelos, tomate e uns feijõezinhos para fazerem companhia a um escuro e aromático café, decido escutar a Sinfonia No. 2 de Rachmaninoff. É o compositor que estou agora a descobrir nas minhas horas vagas. Um pouco nostálgico, é verdade, mas intenso q. b. para o típico inicio entorpecido do dia.

Tenho tempo para ler alguma coisinha antes de sair de casa. Acho que as 896 páginas do livro As Benevolentes de Jonathan Littell não serão um obstáculo neste dia em que o tempo só avança quando eu ordenar. Neste livro fascinou-me a análise da eterna questão dos actos hediondamente cruéis que o ser humano, por vezes, consegue fazer ao seu semelhante. Ainda por cima com a subtil ironia de o relato ser feito por um oficial SS, que é homossexual.

Vou levar mais dois livros, pois no caso de existir algum imprevisto, aproveito o tempo para ler. Sem duvida que levarei As Memórias de Adriano de Margerite Yourcenar e A Sombra dos Dias de Guilherme de Melo. São dois livros que estão na minha lista de espera. Ainda fico a olhar para trás para a poesia de Álvaro de Campos… 

Bem, avisam-me que tenho um avião particular à espera. Próximo destino: Bilbau, Espanha. Museu Guggenheim. Primeiro, tenho curiosidade em observar em primeira mão a arquitectura arrojada do edifício e o efeito conseguido na zona à beira rio. Seguidamente quero ver, quer a colecção permanente, quer a actual exposição temporária de pintura cedida pelo museu Kunsthistorisches Museum de Viena. 

Depois a proximidade do almoço é o pretexto para uma loucura. Vou até Istambul para almoçar, perto da Basílica de Santa Sofia, com vista para o Bósforo. Mas tratando-se de um dia mágico, não pode faltar o meu almoço preferido. Migas à Alentejana, um bom tinto alentejano, e Sericaia (ameixas em calda de Elvas incluídas) para sobremesa. O café é turco. (Isto é meio surrealista, mas o dia é meu…)

Toca a andar para o cinema. Apanho uma sessão tripla aqui mesmo na Turquia. Veria O Último Imperador de Bertolucci, que sempre me fascinou pela música e fotografia; Mystic River, de Clint Eastwood, para chorar um bocado; por fim Making Love de Arthur Hiller, um filme que aguardo com curiosidade.

Ainda a tirar as últimas pipocas do gigantesco balde, aterro em Milão, onde o La Scala está á minha espera com Carmina Burana de Carl Orff. (Acho que a culpa é do antigo anúncio da Old Spice…)

Olha para o programa do dia: segue-se bailado. Não é onde me sinta muito á vontade. Mas vou até Praga, para o belo teatro nacional assistir ao Pássaro de Fogo de Igor Stravinsky. Creio que a minha escolha foi, um pouco inconscientemente, para fugir ao clássico, e assim fui seduzido pela fama deste músico meio revolucionário para a sua época.

Teatro. Vou ao Porto, Teatro Nacional de São João assistir ao Mercador de Veneza de Shakespeare. Como brinde, uma francesinha para o jantar, pois claro!

Hesito o que escolher para os concertos. Tantos cantores e bandas que gostaria de ver ao vivo! Mas, vou deixar sair a minha faceta clássica e romântica. Como é um dia em que tudo é possível, escolho os Madredeus, mas na sua constituição original, ainda com Teresa Salgueiro e Rodrigo Leão, a actuar no interior do Castelo de Belmonte, naquele anfiteatro tão despretensioso e familiar.

Depois, aproveitando o desfasamento horário, vou ainda ao Canadá assistir a um concerto de Leonard Cohen.


Epílogo:

Chá verde com jasmim e… cama.

6 comentários:

João Roque disse...

Meu querido amigo
"tardaste, mas arrecadaste..."
Só dispensava o abominável café turco, substituindo-o pela admirável bica portuguesa.
Afinal sonhar é fácil e o mundo é pequeno!!!
Obrigado pela tua respodta, tão cheia de coisas boas e tão bem "cozinhadas entre si.
Abração.

No Limite do Oceano disse...

Todos nós temos aqueles dias que são perfeitos, que vão desde o acordar até o adormecer.

Esse desafio além de ser diferente é estimulante. Vai ao encontro do que é um sonho e a realidade.

Nunca tinha pensado o que seria um dia perfeito para mim. Será que há dias assim?

Acho que não, mas isso é o meu pessimismo a falar sem pedir licença!

*Hugs n' smiles*
Carlos

Tongzhi disse...

Adorei a maioria das tuas escolhas!
Mas confesso que ainda me sinto cansado de tanto "palmilhar" milhas daqui para ali!!!

Socrates daSilva disse...

Pinguim,
Quando digo que sou um bocado para o lento, nota-se nestas coisas!
:-)
E claro que tinha que incluir coisas relacionadas com comida…
Abraço!


Carlos,
Este dia foi perfeito dentro da proposta que me fizeram. E se calhar amanhã ou para a semana já escolhia outras coisas para ser perfeito.
Mas, dia perfeito, em sentido, digamos, absoluto, talvez a “conversa” tivesse também outros ingredientes. Mas, olha que essa é mesmo uma ideia engraçada para um desafio…

Abraço!


Tongzhi,
Ainda bem que gostaste. A verdade é que “andei” muito…
:-)

Abraço!

Anónimo disse...

Se Richard Branson planeia viagens extraterrestres, algo impensável para muita gente, porque não realizar um dia assim como o que propões?
Assim que houver bilhetes não te esqueças de comprar dois.
Eu vou!

GRITOMUDO

Socrates daSilva disse...

Gritomudo,

O sonho comanda a vida... e as descobertas cientificas!

Fica a reserva feita. Abraço!