quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Em memória de todos os que continuam a acreditar


Tenho pensado no que Oz escreveu recentemente num seu post onde se debruçava sobre se na homossexualidade pode existir lugar para um compromisso duradouro, ou se simplesmente o normal é uma passagem na vida em que se coleccionam aventuras e fugazes prazeres.

Creio que todos temos ideias claras do que nos dá prazer na vida. Algumas podem ser do tipo platónico, outras mais concretas. Que o sexo é uma fonte de prazer é um dado adquirido. Quando alguém sente a sua sexualidade realizada é feliz. Se o seu perfil é sentir-se bem com alguém do mesmo sexo, é normal desejar satisfazer esse desejo. Afinal, a sexualidade é uma necessidade básica da vida. Ponto assente. (Mais palavras para quê?). Mas, não devo ser o único a achar que um grande prazer na vida vem também de se ter alguém com quem compartilhamos espaço, tempo e emoções. Alguém com quem formemos uma espécie de equipa. Aquilo a que Oz chamou um “príncipe”. Creio que encontrar alguém que seja o nosso intimo e forte aliado na desventura que é esta vida, isso é algo impagável. Ter alguém que seja testemunha de nossa existência. Isso é a essência da vida.

Claro que este ideia está muito mais “colada” ao amor heterossexual. Mas, mesmo isso não é linear.
Um homem pode sentir-se feliz por estar casado com a mulher da sua vida e achar que não necessita aventuras extra matrimoniais. Outro pode amar a sua esposa como uma deusa e achar que ter algumas “saídas” é necessário para a sua vida sexual, sem que isso coloque em causa a sua devoção conjugal. Ainda é bem conhecida a vida cheia de amores passageiros que alguns playboys levam, sem nunca “assentarem”. Dizem que assim é que são felizes.

Mas, no caso dos homossexuais a histórica discriminação e perseguição, fez as coisas serem de outra maneira. Imagine-se a possibilidade de no passado tinham de estabelecer uma vida a dois! Bastava fazer uns biscates de vez em quando e “viva o velho”. Aceito que alguns homossexuais continuem a desejar múltiplos parceiros, sem uma ligação emocional. Outros mesmo sentindo-se ligados mais a alguém, talvez tenham essa veia aventureira do prazer pelo prazer. Claro, que o mundo da homossexualidade como tudo nesta vida não é perfeito. Quem em relação a sentimentos é ingénuo está lixado. Coexiste a superficialidade, exibicionismo e relações descartáveis com a nobreza, a dedicação e o espírito de sacrifício. Saber neste campo minado, encontrar as jóias no meio das pedras é o desafio.

O que então, pode fazer alguém feliz? Se se pode ter uma sexualidade realizada e uma relação estável, não é isso o melhor da vida? O sexo é um prazer momentâneo que se alguém poder juntá-lo a uma relação estável é sem duvida um prazer mais duradouro e significativo. Claro que não vivo no pais das fadas em que toda a gente vive feliz para sempre. Como dizia muito bem Oz, “para se saber reconhecer um príncipe de verdade é preciso ter beijado alguns sapos. E que tal como muitos sapos viram príncipes, muitos príncipes também se tornam sapos.” Acrescento, e quando encontrarem um verdadeiro príncipe, saibam mantê-lo, que nada é garantido.
É a vida!

(...)

“I want somebody who cares
For me passionately
With every thought
And with every breath
Someone who’ll help me see things
In a different light
All the things I detest
(…)
And when I’m asleep
I want somebody
Who will put their arms around me
And kiss me tenderly
(…)

Somebody – Depeche Mode

7 comentários:

Special K disse...

Por mais parceiros que possa ter nunca me sentirei completo enquanto não partilhar o meu mundo com alguém. Pelo menos é o que eu penso.
Um abraço.

André Mans disse...

eu acredito no amor e ponto final
eu acredito no casamento, não na instituição em si, mas no conceito... e casamento tem várias formas de ser... o importante são os laços que se formam.

Socrates daSilva disse...

special k,
essa ideia de "partilhar o mundo" é que penso ser o que faz alguem feliz, dentro do que é possivel a um humano. Tento alcançar esse patamar, que ainda me pareçe longe. Torço por todos os que lutam por isso, se calhar com mais determinação do que eu...
abraço

mans,
obrigado pelo teu comentário no meu blogue. Vou em breve dar uma espreitadela ao teu...
Em relação ao casamento e outras instituições existentes, já fui mais crente nelas. Cada vez mais dou mais valor a laços sinceros e baseados em sentimentos reais e não em papeis e compromissos perante a sociedade.
abraço

João Roque disse...

Caro Sócrates
este teu post dava pano para mangas...
Passo por cima do conceito de amor heterossexual, que poderá ser o mais normalizado, mas nunca o experimentei, embora tenha experimentado o sexo, sem grande proveito, acrescento.
No campo homossexual, que conheço bem, há que distinguir entre sexo a amor; não acredito no amor platónico, pelo que amor sem sexo, não chega a ser bem amor; sexo sem amor, pode haver e já usei, com maior ou menor prazer, mas sempre com uma sensação de "carência" de qualquer coisa...
Já tive relações, chamadas "abertas" em que, não sendo um hábito, havia a hipótese de umas "coisinhas" pelo meio, sem mentiras ao parceiro, tudo numa de "relação adulta". Agora que encontrei um amor autêntico, e pese embora com uma separação física prolongada, o que poderia sugerir algum sexo, durante meses de separação, agora, repito, tornei-me profundamente monogâmico e não por imposição ou pedido, apenas por opção: actualmente não concebo o sexo fora do meu parceiro, e tê-lo era uma tripla traição, a ele, à pessoa com quem o tivesse e principalmente a mim próprio.
Mas, nestes casos, cada um tem a sua maneira de ser e nos casos de ligações duradouras, só aos dois envolvidos interessa a forma como resolvem a sua vida, desde que estejam de acordo e sejam felizes.
Desculpa o testamento, amigo.
Abraço.

Socrates daSilva disse...

pinguim,
não tens que pedir desculpa, os teus testamentos, são sempre bem vindos, como sabes. O teu depoimento bate no mesmo ideal que tenho. Havendo sentido, substancia e querer, um relacionamento vale toda a riqueza do mundo (tu tens a prática, eu vou na teoria)
abraço

paulo disse...

Socrates, o Pinguim disse o essencial, com o qual concordo plenamente. Sem o passado de discriminação, as relações homossexuais estariam hoje no mesmo ponto em que estão as heterossexuais: num ponto de normalidade e de estabilidade exactamente igual. O facto de se viverem as coisas numa espécie de clandestinidade propicia muito mais a poligamia, as aventuras, o salve-se quem puder. Apercebi-me disso pela minha própria experiência, do mesmo modo que percebi que partilhando o dia-a-dia com o homem que amo é possível criar laços de extrema cumplicidade, afecto, amizade, isto é, amor. Conheço compromissos duradoiros e cada vez acredito mais que tenho/vivo um com o Zé. Logo, só posso dizer que sim, que eles são possível, existem e estão no mesmo nível dos outros. Basta a sociedade evoluir um pouco mais e tudo seria muito diferente, mesmo no ponto relativo ao sexo fortuito entre homens.
Um abraço

Socrates daSilva disse...

paulo,
O teu depoimento é um raio de luz naquilo que para mim ainda é escuridão. Falo de palpites e muito pensar.
Obrigado mesmo. Abraço.