sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O Natal é quando um homem quiser






Se este ditado é verdadeiro tenho toda a legitimidade em querer estabelecer o espírito natalício em pleno Fevereiro. Mas, já aviso, não é pelas melhores razões. Eu não gosto do natal. Para mim o natal é a festa que estimula o que de pior há na humanidade. (Não me atirem pedras já, decidam só no fim).


Reparemos, quando começa o primeiro sinal do natal? Quando começa a aparecer o pai natal em alguns anúncios ou nas montras de lojas. Inicia-se a época da caça ás prendas. Comprar, comprar e comprar. O que não se pode, para quem, algumas vezes, não queremos e, por vezes, o que não gostamos. Isto perverte o gesto bonito que é oferecer. Uma oferta deveria ser espontânea, sincera e dada a quem queremos por alguma razão afectiva.

Ah! Dizem alguns, e a família? Mas, qual família qual quê! Deixem de fazer uma mesa de consoada bem generosa e vão ver o amor que a família vos tem… Vão vos “cortar na casaca” até lhes doer os dentes. O que deveria acontecer é convidar a família quando desejamos e nos dá jeito. Ou então, nas datas importantes para o clã: casamentos, baptizados, aniversários, etc.

E o menino Jesus? Bem, o coitado já tem 2 000 anos e ainda é bebé. Nunca cresce? Mas, o que me dá graça é a legião de pessoas que durante o ano são ateias ou agnósticas e falam mal que se fartam da religião, que nesta época cantam aleluias e nem sabem porquê.

E alguém me pode dizer onde o pai natal estava no presépio? Disfarçado de vaquinha ou burnho?

E o espírito de natal?
Pois, alguém decidiu, “meus amigos em vésperas de Dezembro sejam bons, olhem com ternura para os pobrezinhos, sorriam docemente para os vizinhos e colegas que normalmente apetece ignorar (e que ignoramos realmente no resto dos 11 meses), e falem na paz entre homens de boa vontade (quem são? Boa vontade para fazer o quê?)”. E nós lá andamos assim, porque alguém nos carregou no botão.

E as musicas que nos entopem os ouvidos? Piedade! Misericórdia! “A todos um bom naaaataaaaal…” A técnica é tão eficaz que até eu as canto contra a minha vontade, mas os meus neurónios não me obedecem perante esta sonoridade repetida até á exaustão em todos os cantos do planeta.


Porque então disse que o natal revela o pior que os humanos têm?
Perante o atrás exposto, mostra que no que diz respeito aos sentimentos mais sagrados que devíamos ter como a solidariedade, a empatia, o espírito de família, a entreajuda e a generosidade, conseguimos fingir como se fosse verdade. Em nome do comércio, mais nada. Isso é assustador. Se conseguimos fingir nisso, que dignidade temos?
Ofendemos o genuíno e espontâneo espírito de generosidade. Colocamos a família num ritual pantagruélico. Os sinceramente crentes comercializam a sua fé.

Estou farto do “faz que toda a gente faz”

Eu em pleno Fevereiro, Abril ou Agosto vou oferecer um presente a quem me apetece, vou convidar a minha família para uma petiscada e vou continuar a fazer serviço voluntário numa instituição carenciada. E se fosse religioso, lembrava-me do meu Deus. (Agora se quiserem podem atirar pedras)

5 comentários:

Special K disse...

Parabéns, foi o melhor post de natal que eu já li em toda a minha vida blogosférica.
Um abraço.

João Roque disse...

A única pedra que me apetece atirar-te é um beijo; não leves a mal, é puro...

Socrates daSilva disse...

special k, pinguim,
pronto! Já me fizeram corar...
abraço

Oz disse...

Eu continuo a gostar do Natal (chamem-me nomes que eu também não me importo... hahahahah), mas nem por isso deixo de te reconhecer alguma razão. Aliás, nestas coisas, eu acho mesmo é que cada um deve fazer o que lhe dá gana. Espírito de Natal em Fevereiro? Vamos a isso, meu caro, um Feliz Natal para ti! :-)
Abraço.

Socrates daSilva disse...

oz,
um feliz natal também. Já agora, o que queres no sapatinho? ;-)
abraço