quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Os primeiros





Ao ver este cartoon lembrei-me dos meus amigos. Os primeiros. Os da rua, os da escola. Que saudades tenho deles!
Saudades das brincadeiras sem horas e sem cansaço, saudades de como começei a conviver em grupo.
Saudades da apanhada, da cabra-cega, do pião, das caricas e dos cromos. Saudades de cair e esfolar os joelhos, de andar á pedrada e fugir dos vizinhos a quem partimos as plantas com a bola.
Saudades da minha infancia.
“Nostalgia de tanta inocência / que tão pouco tempo durou” citando a canção de Luz Casal, “Entre Mis Recuerdos”.
Também recordando a Álvaro de Campos: “Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...”


Que estará a vida a fazer deles?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Amo, desejo, quero


(…)
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

(Álvaro de Campos)

sábado, 26 de janeiro de 2008

Friends, amigos & companhia limitada – parte 2 (as citações)


Há alguns anos li um livro de Miguel Esteves Cardoso cujo nome já não me lembro, mas um dos capítulos com o tema “Os amigos e os amigalhaços” impressionou-me tanto que as fotocópias dessas páginas ainda hoje me acompanham para as reler de vez em quando. Com o devido respeito pelos direitos de autor, vou tomar a liberdade de transcrever algumas passagens:

“...nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar – todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas.”

“O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão.”

“Quando se é amigo de alguém, também se está a dizer «Toma – eis este poder sobre mim». Quanto maior for o poder de fazer alguém feliz, maior também é o poder de magoar.”

“A amizade é uma condição que nunca pode ser excepcional. Tem de ser habitual e eterna e previsível. E a economia dela nota-se mais quando reparamos que, sempre que não estamos com os nossos amigos, estamos sempre a falar deles. É bom dizer bem de um amigo, sem que ele venha a saber que dissemos. E ter a certeza que ele faz o mesmo, pensando que nós não sabemos.”

“A amizade vale mais que a razão, o senso comum, o espírito crítico e tudo o mais que tantas vezes justifica a conversação, o convívio e a traição. A amizade tem de ser uma coisa à parte, onde a razão não conta. Ter um amigo tem que ser como ter uma certeza. Num mundo onde certezas, como é óbvio, não há.”

“Ser amigo sem esforço, sem sacrifício, é ser amigo sem amizade. Gostar das pessoas é fácil. Ser amigo delas não é. Mas, as coisas que valem a pena não podem deixar de ter a pena que valem. É pena não se poder ser amigo de toda a gente, mas um só amigo vale mais do que toda a gente. Porquê? Sei lá. Mas vale”

Ámen

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Fumar (alguem já falou disto?)

Apetece-me falar sobre algo completamente original e que de certeza ninguém se lembraria de dar a sua opinião: A nova lei do tabaco.
Agora que já disse uma piada (seca), dois tópicos.

O primeiro tem a haver com a lei em si. Não fumo, o que me fez naturalmente simpatizar com a lei. Mas, não sou fundamentalista. Não ando a bater nos fumadores ou obriga-los a deixar de fumar. Fumar ou não fumar é uma decisão que cada pessoa toma e que a respeito.
Mas, simpatizo com uma lei que me garante que a minha opção de não ser fumador é respeitada por quem não seja tão consciente dos direitos dos outros.
E aqui entra o meu lamento. Lamento que seja necessário uma lei que “obrigue” a um comportamento que o bom senso e o respeito por outros bastaria. Se um fumador quer fumar, fume. Com a informação que existe, está consciente do risco para a sua saúde. Mas se quer manter o seu habito, ou não consegue vence-lo, está á vontade para o fazer. Mas, deveria saber que os que não fumam e que estão em locais fechados não devem ser prejudicados pela sua opção. Essa mentalidade faria esta lei desnecessária.
Mas, eu devo estar a pensar que vivo num mundo perfeito... (Alguém que me belisque, por favor...)

Outro assunto que me deixou no mínimo especado foi a noticia de que numa aldeia de Trás-os-montes quando é dia de Reis costumam por as crianças a fumar. Os próprios pais. Quando interrogados pela estranha situação a cândida resposta foi: “Isto é uma tradição muito antiga!”. Não sabia se era dia de Reis ou dia 1 de Abril, tal a noticia. Mas, quando olhei para o calendário e a vi a continuação da noticia soube que era mesmo real.

Imaginei que um argumento deste, que baseia na tradição o direito de fazer algo, pode fazer escola e jurisprudência.
Por exemplo, um homem que bata na sua mulher até querer, sempre pode invocar que já o seu avô e o seu pai davam o mesmo tratamento á respectiva cara metade. Isto para não falar nos antepassados que também o faziam poder remontar ao homem das cavernas. Ou então o julgamento da casa Pia pode ficar resolvido com a defesa de que abuso de crianças é uma tradição antiga daquela instituição. Isto junto com o argumento de que em Portugal há alguns séculos que existem pedófilos a estabelecer a “tradição”. Ou então imagine-se a candura de alguém a defender o seu direito a assaltar casa pois está estabelecido a tradição desta actividade nos tempos imemoriais da sua cultura.
A sério, isto não dá para rir. Dá para chorar e perguntar: “Tradição? E o cérebro onde fica?”

As tradições são algo realmente apreciado e fazem parte importante da vida de uma comunidade e de um individuo. Isso é indiscutível. Mas, o nosso conhecimento, o nosso bom senso e a nossa experiência entre outras coisas vão crivando as coisas que vale a pena continuar a fazer e as que mais vale a pena esquecer. Isso é o progresso e desenvolvimento.

Os pais que colocam ás suas crianças um cigarro na boca no dia dos Reis bem que poderiam pensar na tradição de se estar informado, na tradição de zelar pelo bem estar e pela saúde dos filhos e na tradição transmontana de se ser senhor dos seus caminhos e não daquilo que os vizinhos pensam e nos querem impor.
Porque Trás-os-montes é das zonas de Portugal onde me sinto melhor. Genuína, imensa, rochosa e com uma imensa riqueza humana. Tem tradições fortes e significativas. Esta de por crianças a fumar não é uma delas.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Friends, amigos & companhia Lda


Amigos…

Tenho pela amizade uma reverência espantosa.
Se existe algo pela qual vale a pena viver é esta “aliança” entre seres humanos. Pode ser inexplicável, improvável, e imprevisível.
Alguém já me escreveu certa vez num sms que podia suportar a perda de seus amores, mas que enlouqueceria se perdesse todos os seus amigos. Brutal…
É um tema mais que batido, e com pena minha, muito “melado”. Fala-se muito da amizade como se fosse o melhor que há, mas na prática muitos não lhe devotam grande investimento. Lembro-me da musica dos Queen, Friends Will Be Friends em que se canta: “When you’re in need they give you care and attention.” Simples e tremendamente verdadeiro.

Gosto de ter amigos. Não me importo de ter muitos. Importo-me de os ter bons. Ou melhor, importo-me de ser bom amigo para eles.

Hoje a palavra amigo define até aquele que encontramos regularmente no comboio a caminho de casa: “É pá, hoje conversei com aquele meu amigo para o trabalho e ele também concorda que o Paulo Bento deve sair!” Por amor de Deus! Amigo é um nível elevado de existência entre duas pessoas. Envolve tempo, sacrifício e confiança. Dar-se bem com todos é impecável, termos pessoas que gostamos de trabalhar com elas, de tê-las como vizinhos é bonito. Mas, amigos… Esses são como espécies em vias de extinção.

Hoje o desporto on-line é enviar mensagens mais ou menos elaboradas em que se diz coisas bonitas e no fim uma mensagem tipo: “És uma pessoa especial, tipo o meu melhor amigo”. Depois vai-se a ver e a pessoa mandou esta mensagem para as 20.639 pessoas que tinha na sua lista de contactos, inclusive o stand que lhe vendeu o carro e a manicure da mulher. Mas que é isto? Devia ser proibido…

Gostava de cada dia poder aprender a ser melhor amigo. A amizade merece aprendizagem contínua. É sagrada.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Liberdade?

Hoje estou farto. Farto nem sei de quê.
Cada vez que escuto uma retórica “pró-liberdade de escolha” revolto-me. Apetece-me bater em alguém (se calhar em mim mesmo!)

Seremos mesmo livres de escolher o que queremos? Por que escolhemos? Por que somos frustrados quando estamos condicionados?

Por que tenho uma vida que não escolhi? Por que tenho coisas que gostava de mudar em mim e não consigo? Se fosse livre não agia como queria?
Por que tenho que me conhecer e descobrir quem sou e então tomar decisões que me deixem em paz comigo?

Quem definiu as minhas preferências? Alguém quis saber a minha opinião?
Quem escolheu as minhas circunstancias? Quem me deu os dons e os defeitos?
Quem me pregou partidas tão miseráveis?

Liberdade…
Existirá alguém que seja realmente livre?

Existirá é pessoas que podem fazer livremente aquilo que as circunstâncias da vida o programaram a ser. Mas, se isso é liberdade…

Hoje estou farto. Estou farto das circunstâncias da minha vida.
Estou farto de não poder realmente escolher. De ter que me entender e procurar o caminho que devo seguir e não o que queria.

Talvez um dia entenda a minha vida de outra maneira e ache que foi melhor assim. Talvez um dia esteja em paz comigo. Talvez um dia conheça as regras que tenho de seguir para ser feliz e pensar que sou livre.

Hoje não é um bom dia para ser a companhia de alguém. Hoje não é um bom dia para escrever uma pagina de um blog.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Vá para fora, ver o que passa cá dentro...

Estive por trabalho, em terras de "nuestros hermanos" na altura da assinatura do Tratado de Lisboa. Tive curiosidade em ver o espectaculo pelas lentes da TV espanhola. Qua grande surpressa... Era só elogios para a presidencia portuguesa, para a cerimonia, para Portugal em geral. Um dos comentadores chegou a disser: "Eu sou um espanhol muito português". Fiquei a pensar que afinal até somos bons. Por vezes temos a mania de que tudo o que fazemos é mau. Tipo complexo de inferioridade campónio. Eu sou por natureza muito critico da cultura popular tuga. Mas, fiquei com um conceito mais equilibrado, confesso.

P.S. - Obrigado pelos primeiros comentários. Podem crer que significam muito para mim, por mais simples que sejam. É oxigenio para os meus pulmões.