Estamos demasiado habituados a representar a experiência gay e lésbica através das figuras da tragédia e da vitimização, por um lado, ou da sublimação pela arte ou pelo prazer, por outro. O gay ou a lésbica internado à força, perseguido e brutalizado por bandos homofóbicos, por um lado; ou a figura de Oscar Wilde ou do hedonista sexual, por outro.
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Mas Milk era um homem normal, que tinha estudado para professor de liceu, lutara na guerra da Coreia, abrira o seu pequeno comércio, combatera os dejectos dos cães enquanto vereador... Como, afinal, o são praticamente todos os gays e lésbicas - homens e mulheres normais. Foi provavelmente essa normalidade que o matou - esse atrevimento de entrar na esfera pública. Tivesse ficado no "gueto", negociando a sua marginalidade, e talvez tivesse vivido para presenciar a débacle da abolição dos casamentos gay e lésbicos na Califórnia no mesmo dia em que Obama - o outro homem da Esperança - foi eleito.
5 comentários:
Li este artigo e vi as intervenções do Miguel Vaz de Almeida. Mudei bastante a opinião que tinha dele, fruto de um jantar onde estivemos os dois presentes.
Acho-o muito mais consciente e com uma argumentação mais cuidada.
Quanto ao discurso do Sean Penn, gostei bastante. Acho que foi um dos melhores da entrega dos prémios!!!
Eu não contava que o Sean Penn tivesse ganho o Oscar, não vi o filme mas acho que o prevalece além da excelente (tenho a certeza que é) performance, há uma mensagem, ou melhor, mais do que uma, quando o Sean Penn receber a estatueta e não tendo problemas em dizer o que ia dentro dele (ele sempre foi o patinho feio de dos bosques luminosos).
*Hugs n' smiles*
Carlos
Sem dúvida que esta perpectiva do homossexual que não se vitimisa e que vive o seu dia-a-dia normalmente aflige muito boa gente!!!
Um beijo
Eu contava que o Sean Penn ganhasse o Óscar por várias razões: só tinha mais um concorrente de peso, o Mickey Rourke, que continua a ser um "maldito", apesar da "mensagem" do "welcome back"...
E representa, neste seu papel de Harvey Milk uma certa personificação da América pós Bush, muito mais open mind...como a Academia gosta de, por vezes, mostrar que está a evoluir...
E Sean Penn é um Homem de convicções e um osso duro de roer; daí o "peso" das suas palavras surpreendentemente bem acolhidas pelo público presente.
Só não percebo como casou este tipo, com a Madonna? deve ter sido erro de casting.
Muito bom o texto do Miguel Vale de Almeida...
Abraço.
Tongzhi,
Fazer com que uma posição minoritária ganhe o respeito de uma comunidade imbuída de preconceito consegue-se por pequenos/grandes momentos como esse. Claro que muitos e persistentes.
Abraço!
Carlos,
O Sean Penn tem feito trabalhos notáveis. É justo este prémio por tudo.
Abraço!
Free_soul,
Tens razão! Enquanto se pensar que são todos uns anormais, a sociedade fica confortável na sua posição de reguladora e punidora; quando se descobre que afinal são gente normal… ui! E agora?
Bjs
Pinguim,
Sim, o Sean Penn mereceu. O caso com a Madonna? Era novo, não pensava…
:-)
Abraço!
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