segunda-feira, 24 de março de 2008

A “Carolina Michaelis” fez-me mal á saúde…

Já há alguns dias que isto anda a remoer…
Sinto raiva. Não será fúria? Não, é mesmo raiva. Uma fúria descontrolada, visceral. Quase me vieram as lágrimas aos olhos ao ver um vídeo em que uma professora foi tratada por uma fedelha (desculpem o termo, mas avisei que estou com raiva!) de uma maneira indigna. Em plena sala de aula. Por a professora exercer a sua autoridade a fim de zelar pelo normal funcionamento da aula.
Já faço outro aviso. Não sou professor. Não conheço aquela professora. Mas, o respeito que como cidadão comum nutro pelos professores não me permitiu ficar indiferente. Ninguém devia ser vítima de tal falta de respeito. Mas nestas circunstâncias este acto é mais grave.
Porquê? Os professores foram a seguir aos meus pais, as pessoas mais importantes na minha vida. Foram e são, porque continuo a querer aprender.

Recordo os meus professores. Desde a primária. Mesmo sentindo mais saudade de uns do que de outros, sei que tenho para com eles uma divida enorme.Graças a eles não sou um analfabeto e um ignorante. Graças á sua arte de ensino fizeram-me gostar de aprender e descobrir. Saber comparar, tirar conclusões, admirar a beleza da escrita, interpretar factos e ideias. Ser responsável. Sim, se estou aqui agora a escrever neste blogue, foram eles que me deram as ferramentas. Uns tinham mais paciência do que outros, uns eram mais comunicativos do que outros. Mas, formaram uma equipa fantástica que continuamente me assistiu. Recordo a alguns que fora do seu horário de trabalho tinham tempo para conversa. Lembro-me dos jantares de fim de ano em que deixavam a sua família para estar ali umas horas connosco. Lembro-me de tanta coisa… Que se os visse novamente nem palavras tinha para lhes agradecer. Ganharam o meu respeito e gratidão para sempre.

Os professores são o que de melhor uma nação têm. É verdade que existem bons e maus profissionais, tal como em todas as profissões. Mas, passar a vida a ensinar é de louvar. O que de melhor se pode deixar a uma geração? Dinheiro? Bens? Nome? Não meus senhores, conhecimento.
São os professores uma classe especial? Para mim, são!
Então e os médicos, os advogados, os políticos, os electricistas e os condutores de transportes públicos? Necessários e absolutamente dignos do nosso reconhecimento. Mas, coloque-se a questão desta maneira: O que seria de tais profissões sem os professores?
Os professores são os que tem transportado de uns para outros “a chama sagrada” do conhecimento acumulado pela humanidade através dos tempos. Quando vamos para a escola, ali iluminam o nosso cérebro sedento. Por isso o dever básico de uma comunidade é zelar pelos seus professores.
(Obrigado Paulo por me teres enviado o artigo de opinião “E se não existissem professores?” de António Vilarigues, no “Público” de 21 de Março. Quando o recebi estava a elaborar este texto e veio dar-me mais “raiva”)

Se tivesse que optar, em desespero de causa, preferia um professor autoritário do que um professor desmotivado por lhe “tirarem o tapete”. É verdade que escuto histórias medonhas de como num passado mais ou menos longínquo alguns tiveram professores muito severos. Mas, surpresa! Esses alunos aprenderam…
Ainda bem que essa utilização abusiva de autoridade terminou! Mas, não podemos ir ao outro extremo de “diálogo, diálogo e mais diálogo” sem o professor ter claramente um papel de respeito e dignidade perante a comunidade e especialmente os alunos.

Assim, ver como fedelhos que nem sabem o que custa a vida porque têm tudo de mão beijada, faltam ao respeito a alguém que lhes está a ensinar, dá-me raiva. Dá-me raiva ver pais que vão discutir com os professores só porque os seus rebentos lhe contam umas queixinhas esfarrapadas para se desculparem da sua conduta infantil ou da sua falta de estudo. Ensinem aquela miúda que o que fez foi errado, foi estúpido, foi degradante. Ensinem-lhe que há limites impostos pelo respeito, mesmo quando pensamos ter toda a razão do mundo. (Não sei se alguma vez ela vai ler esta mensagem. Mas, se calhar com o que ela gosta de aprender não deve gostar de ler mais de duas sílabas. Se calhar até acha que foi muito “cool” o que fez. Acha que já podia ir trabalhar junto com a “geração rebelde” dos morangitos.)
Claro que em miúdo eu também tinha as minhas manias de desobediência. Mas, em casa não se colocava em causa a autoridade dos professores. Nunca vi os meus pais a irem discutir com os professores por causa das minhas manhosas queixinhas. Iam á escola regularmente e informavam-se. Não foram poucas as vezes que a disciplina da escola tinha uma extensão coerente em casa. Abençoados…

Não pretendo com este comentário apenas invocar a questão da avaliação dos professores. Claro que ela também me preocupa. Mas, o assunto é muito mais vasto.
Animem os professores. Digam-lhes que o seu trabalho é valioso. Dêem-lhe a autoridade necessária. Deixem-nos trabalhar com pessoas, não com números. Dêem-lhe estabilidade e boas condições. Se eles já fazem milagres com as condições precárias que têm, imaginem com melhores. Se tiverem que optar por gastar dinheiro em dar um portátil a cada aluno ou investir nas escolas e nos professores, a opção é clara. Os portáteis sem educação não valem nada.

Gostava de dizer àquela professora que aprecio muito o seu esforço de cada dia. Que conquistou a minha admiração por trabalhar naquelas condições e se esforçar a educar aqueles miúdos que se divertiam com a sua humilhação. Gostava de dar um abraço a cada professor e dizer-lhe que tem a mais bela e mais importante profissão do mundo.

Só assim me passava um pouco a raiva…

10 comentários:

Moi disse...

Astonishing! ( e lembro a minha 1ª prof. de inglês...) Em absoluto.
Ao vivo, a gestão de sala de aula torna-se mais perceptível. E o ponto onde revela o que se foi fazendo sem uma política sólida na educação. Mas a questão tambem é social, mais profunda...

Reabilitar uma sociedade torna-se assim muito mais complicado.

abraço.

JJ

João Roque disse...

Como ex professor sei quanto é necessário ter autoridade dentro de uma sala de aula; quem não o souber, ou recei pô-lo em prática nunca poderá ser professor.
Ser professor hoje em dia, já não é apenas uma profissão de responsabilidade, é também e infelizmente, uma profissão de risco.
Também não sou apologista dos velhos métodos repressivos, mas que saudades dos meus professores e até que saudades dos tempos em que o fui e exerci essa autoridade, talvez de uma forma que hoje não pudesse usar...
A minha solidariedade total para com aquela Senhora!
E um abraço para ti, por te indignares tão dignamente.

Anónimo disse...

Só quem lá está todos os dias é que vai sabendo... Abraço!

Special K disse...

isto é mesmo revoltante, detesto aquelas pessoas que estão sempre a dizer "no meu tempo não era assim" mas vou ter que lhes dar razão. Quando era miúdo nunca me atreveria a tratar um p daquela maneira.
Um abraço

Special K disse...

Pesso desculpa pela gralha, onde está só um p deveria estar professor.
Um abraço.

Manuel Braga Serrano disse...

Eu só pergunto: mudou alguma coisa? Foi sorte as agendas dos meios de comunicação social estarem desertas quando aquele video caiu. Antes do caso da Carolina Michaellis, todos nós já tinhamos ouvido casos mais graves do que aqueles, onde esteve a indignação antes?? Pois é o que me apetece dizer bardamerda para os sucessivos encolheres de ombros que viabilizam que este tipo de cenas tristes continuem.

Angelo disse...

Eu gostaria de saber que medidas punitivas foram tomadas... Uma vergonha!

Hydrargirum disse...

Amigo Sócrates...não estando ao volante, ocorre-me o linguajar rodoviário que me acomete em alturas de stress...

Aquela miúda e aquela turma.....mereciam:

Pelotão!!!!Pontaria....Apontar...Disparar!!!!

Se em algum dia, na minha altura alguém se portava assim com os profs....

Isto revolta-me até ao âmago:////

Abraço:)

Socrates daSilva disse...

moi,
pinguim,
rato do campo,
special k,
manuel serrano,
angelo,
hydrargirum
Obrigado pelos vossos comentários. Devido a uma subita falta de tempo avassaladora e também porque as vossas palavras me ajudaram a "amadurecer" este assunto, gostava de vos dar um "feedback" no meu proximo post.
Abraço a todos e obrigado aos que vieram aqui pela primeira vez.

paulo disse...

Um professor agradece a simpatia deste texto, sobretudo tendo sido escrito por alguém que não pertence à classe. Que seríamos nós sem os professores que tivemos? Que rumo teria tido a nossa vida? Os pais podem dar (ou não) muita educação e conhecimentos, mas é a escola que orienta a maior parte de conhecimento e cria o espírito crítico nos meninos. O que me assusta é quando isso não acontece, quando os alunos não percebem porque têm de estudar, de aprender, de decorar, de raciocinar, de resolver problema, encontrar soluções, porque simplesmente isso dá trabalho e não estão para isso. Cada vez constato mais que os seus conhecimentos são limitados, circunscritos ao seu universo muitas vezes medíocre. Sinto-me absolutamente impotente e a atirar pérolas a porcas. Para quê, se não querem aprender como se o pensamento ocupasse o lugar? Não estão nem aí para o que lhes possa ensinar e isso é tão ou mais desgastante e frustrante que a indisciplina, visto que na indisciplina poria o aluno na rua e a acabou-se (ou não!). A verdade é que os professores começam a ser tão permissivos, numa tentativa de conquista dos alunos ou porque estão simplesmente cansados, que a bola de neve leva a situações-limite e inadmissíveis. Já tive situações interessantes de indisciplina, nem sempre reajo com o sangue frio desejável, mas há coisas que me recuso a fazer: baixar o rabo às faltas de educação, entre eles, comigo, com funcionários ou com qualquer outra pessoa! Também me rendo às evidências: os alunos precisam mais de professores autoritários que possam ir cedendo ao longo do tempo do que professores permissivos que depois não são capazes de controlar os meninos. Eu, por natureza, não sou autoritário, mas aprendi a sê-lo, a criar uma barreira que os meninos não podem passar. Finalmente, ao fim de algum tempo percebem que afinal eu não sou nenhuma besta (este ano, isso começa a acontecer agora, ao sim fim de seis meses de convívio), mas de início consigo assustá-los a sério :))

Obrigado pelo ânimo que me transmitiste! Não cairá em saco roto! Há alturas na vida em que saber que se tem apoio é importante!