sábado, 29 de março de 2008

O caso “Carolina Michaelis” – Agora com edição comentada! (Totalmente grátis e em 3D)

Agora já estou mais aliviado. Mas, andei mesmo mal disposto com o que aconteceu na Carolina Michaelis. Ajudou ter desabafado aqui. Os comentários que recebi ajudaram também, pois alguns são de professores e imagino o quanto mais emocionalmente ligados estão a isto.
Os comentários recebidos normalmente são motivo de gáudio por me darem a satisfação de saber que é lido o que escrevo.
Mas, sou beneficiado também de outra maneira. Tenho a noção de que as minhas opiniões em alguns assuntos podem ser um pouco simplificadoras ou não levar em conta alguns aspecto pertinente. Assim, os comentários recebidos, por vezes ampliam o assunto, ou até me corrigem. São uma ajuda para melhorar. Afinal, para julgar é necessário compreender (bem).

(Espero que os companheiros não se importem de usar os seus comentários no meu post. Achei á ultima hora que a sua inclusão, daria mais consistência e clareza ao desenvolver do assunto. Se acharem que foi um abuso da minha parte, escrevam-me que o retirarei.)


Ora, vamos lá:
Astonishing! ( e lembro a minha 1ª prof. de inglês...) Em absoluto.
Ao vivo, a gestão de sala de aula torna-se mais perceptível. E o ponto onde revela o que se foi fazendo sem uma política sólida na educação. Mas a questão tambem é social, mais profunda...
Reabilitar uma sociedade torna-se assim muito mais complicado.
abraço.
JJ

De facto este é um assunto complexo. Aquela situação não foi um caso isolado, nem fruto de geração espontânea. A sociedade também tem corroído valores que os jovens necessitam para a sua formação humana e muitos pais, por exemplo, não estão a educa-los com o tempo e o exemplo necessário. Depois na escola não podem ser uns “santinhos”. Sim, a escola é um pouco o espelho da nossa sociedade.

E como se vai melhorar a sociedade se os próximos cidadãos estão a ser formados nestas escolas e nestes ambientes?


Como ex professor sei quanto é necessário ter autoridade dentro de uma sala de aula; quem não o souber, ou recei -lo em prática nunca poderá ser professor.
Ser professor hoje em dia, já não é apenas uma profissão de responsabilidade, é também e infelizmente, uma profissão de risco.
Também não sou apologista dos velhos métodos repressivos, mas que saudades dos meus professores e até que saudades dos tempos em que o fui e exerci essa autoridade, talvez de uma forma que hoje não pudesse usar...
A minha solidariedade total para com aquela Senhora!
E um abraço para ti, por te indignares tão dignamente.
Pinguim

Este depoimento sobre a necessidade de usar bem a autoridade, fez-me lembrar de uma professora que tive no secundário. No primeiro dia de aulas foi super dura. Impôs claramente as regras de como funcionaria as suas aulas. Sem sorrisos. Todos nós a imaginarmos que aquela seria o pior pesadelo que teríamos naquele ano! Que surpresa tivemos com o passar do tempo. Tornou-se a mais camarada e a mais acessível professora que tivemos. Mas, sempre com respeito. No fim do ano ela confessou-nos que preferia entrar duro no inicio do ano para nos colocar em sentido e depois ir dando confiança conforme a merece-se-mos do que começar muito simpática e depois já não ter mão em nós. Sempre recordo esta lição de saber ter autoridade sem comprometer a simpatia.

Sim, profissão de risco e de que maneira! Mas, a melhor que há, não duvido.


Só quem lá está todos os dias é que vai sabendo... Abraço!
Rato do campo

“Quem está no convento…”. Mas é bom que os “de fora” saibam esses desafios. Não se pode esperar que alguém no telemóvel filme uma cena deplorável. Um abraço e muita força para esses desafios. A minha admiração por essa coragem.


isto é mesmo revoltante, detesto aquelas pessoas que estão sempre a dizer "no meu tempo não era assim" mas vou ter que lhes dar razão. Quando era miúdo nunca me atreveria a tratar um p daquela maneira.
Um abraço
Special k,

É verdade que nem tudo antigo é mau e nem tudo moderno é bom. A falta de respeito pelos mais velhos e, neste caso, pelos professores é uma das coisas que não está bem nestes tempos avançados em tanta coisa. Somos da velha cepa. Nisto, e noutras coisas, não me importo!


Eu só pergunto: mudou alguma coisa? Foi sorte as agendas dos meios de comunicação social estarem desertas quando aquele video caiu. Antes do caso da Carolina Michaellis, todos nós já tinhamos ouvido casos mais graves do que aqueles, onde esteve a indignação antes?? Pois é o que me apetece dizer bardamerda para os sucessivos encolheres de ombros que viabilizam que este tipo de cenas tristes continuem.
Manuel Serrano

A situação da Carolina Micaelis foi de facto uma pedrada “oportuna” no charco. Mas, claro que não foi uma novidade. Já há muito tempo que quem estiver atento ás noticias vê sinais perturbadores, quiçá, inquietantes sobre o estado do ensino público. São os alunos que tratam os professores como colegas e os pais que agridem professores por não estarem satisfeitos com o rendimento dos seus petizes. De facto, como comentou uma professora na televisão, casos como este existem há muito tempo e em grande quantidade, mas nunca foram filmados. A realidade é que hoje as imagens são necessárias para lançar um assunto para o grande público. Não devia ser assim, mas é. Se esta situação melhorar pela exibição deste filme, abençoado seja. “Quem não tem cão caça com gato…”

Bem, vai ser a primeira vez que vou usar um palavrão no meu blogue. Vamos ver se consigo mandar alguém á “bar…”, “barda…”, (vou tentar…) “bardam…” (não consigo). Bem, a quem mandamos para essa parte?
Aos responsáveis pelo ensino que ignoram os sinais que há muito tempo se emitem de falta de respeito pelos professores?
Aos que alimentam a cabecinhas dos rebentos com séries de televisão onde se ridiculariza os professores e se promove o espírito de que ser rebelde sem causa é cool?
Aos pais que em casa não educam os seus filhos sobre o valor do respeito?
Ao bastonário da Ordem dos Advogados que disse estar a ser exagerada intervenção do Procurador-Geral ao propor punir a aluna agressora?
A todos nós por falta de mais indignação clara e visível sobre o assunto?


Eu gostaria de saber que medidas punitivas foram tomadas... Uma vergonha!
Angelo

Perturba-me a falta de objectividade com que alguns responsáveis agem perante estes casos de violência nas escolas. Recordo que já há algum tempo que a RTP emitiu uma reportagem onde inseria imagens captadas nas salas de aulas de uma escola de Lisboa onde os jovens agrediam-se, mostravam desobediência ao professor, andavam em cima das mesas em plena aula. Quando questionados sobre a gravidade desta situação, alguns responsáveis, entre os quais a ministra da educação, divagavam sobre a legitimidade de se ter gravado imagens sem o conhecimento dos alunos e até (pasme-se) criticaram a falta de solidariedade do professor que sabia da gravação e nada disse aos alunos. Incrível! Alunos que pareciam animais. A questão é que o principal estava a ser ignorado por assuntos de lana caprina. Em relação a este caso da Carolina Micaelis, também escutei um director “de não sei o quê” a divagar sobre a inconveniência de se usar telemóveis na sala de aula. Teve o jornalista de insistir no tema da violência contra a professora. Isto mostra que alguns responsáveis têm uma atitude de desvalorizar desde há muito o que está a ser grave nos ambientes escolares. Isso paga-se.

Vamos a ver o que a visibilidade deste caso trará de novo. Parece que desta vez vai existir castigos que pretendem ser exemplares. (ver para crer)


Amigo Sócrates...não estando ao volante, ocorre-me o linguajar rodoviário que me acomete em alturas de stress...
Aquela miúda e aquela turma.....mereciam:
Pelotão!!!!Pontaria....Apontar...Disparar!!!!
Se em algum dia, na minha altura alguém se portava assim com os profs....
Isto revolta-me até ao âmago:////
Abraço:)
Hydrargirum

Não sei se um pelotão de fuzilamento resolveria. As balas estão caras. Eu optava pela tortura. Punha todos a escutar Toni Carreira, Marco Paulo, Ágata e o Toy até os tímpanos arrebentarem. Depois tinham que ler uma estrofe dos Lusíadas sem se enganarem e com a devida acentuação (Ah, queria ver esta…), depois um mês sem verem os morangitos e por fim verem, com os seus próprios olhos, serem tirados os seus telemóveis e oferecidos a crianças carenciadas (suprema tortura!)


Um professor agradece a simpatia deste texto, sobretudo tendo sido escrito por alguém que não pertence à classe. Que seríamos nós sem os professores que tivemos? Que rumo teria tido a nossa vida? Os pais podem dar (ou não) muita educação e conhecimentos, mas é a escola que orienta a maior parte de conhecimento e cria o espírito crítico nos meninos. O que me assusta é quando isso não acontece, quando os alunos não percebem porque têm de estudar, de aprender, de decorar, de raciocinar, de resolver problema, encontrar soluções, porque simplesmente isso dá trabalho e não estão para isso. Cada vez constato mais que os seus conhecimentos são limitados, circunscritos ao seu universo muitas vezes medíocre. Sinto-me absolutamente impotente e a atirar pérolas a porcas. Para quê, se não querem aprender como se o pensamento ocupasse o lugar? Não estão nem aí para o que lhes possa ensinar e isso é tão ou mais desgastante e frustrante que a indisciplina, visto que na indisciplina poria o aluno na rua e a acabou-se (ou não!). A verdade é que os professores começam a ser tão permissivos, numa tentativa de conquista dos alunos ou porque estão simplesmente cansados, que a bola de neve leva a situações-limite e inadmissíveis. Já tive situações interessantes de indisciplina, nem sempre reajo com o sangue frio desejável, mas há coisas que me recuso a fazer: baixar o rabo às faltas de educação, entre eles, comigo, com funcionários ou com qualquer outra pessoa! Também me rendo às evidências: os alunos precisam mais de professores autoritários que possam ir cedendo ao longo do tempo do que professores permissivos que depois não são capazes de controlar os meninos. Eu, por natureza, não sou autoritário, mas aprendi a sê-lo, a criar uma barreira que os meninos não podem passar. Finalmente, ao fim de algum tempo percebem que afinal eu não sou nenhuma besta (este ano, isso começa a acontecer agora, ao sim fim de seis meses de convívio), mas de início consigo assustá-los a sério :))
Obrigado pelo ânimo que me transmitiste! Não cairá em saco roto! Há alturas na vida em que saber que se tem apoio é importante!
Paulo

Sobre o valor do trabalho dos professores estamos absolutamente de acordo. Também me preocupa esta nova “cultura” do facilitismo. (Tudo o que dá trabalho não interessa.) Muitas razões complexas deverão existir para se entender o fenómeno. Mas, penso que é uma tristeza ver o que se perde por não se gostar de aprender, de descobrir, de ter desafios que dão trabalho. Se esta é a geração a quem vamos passar as responsabilidades sobre o mundo, “valha-me Deus!”. Com os problemas que o nosso país e o mundo enfrentam, mais vale dar um tiro nos miolos, que esperar que os jovens de hoje assumam responsabilidades (espero tanto estar enganado…)
Sobre a tua técnica de assumires logo de inicio a autoridade, recordo a história de uma professora que neste post já fiz referencia. Essa é a maneira correcta de assumir a postura de “aqui quem manda sou eu, se querem simpatia conquistem-na”. São jovens a crescer que necessitam de aprender lições de vida. A do respeito e dos limites quando lidamos com os outros é essencial.


Quem aprecia o trabalho dos professores ter que se expressar. Porquê? Lembra-me uma história sobre o Bob Marley contada no filme “Eu sou a lenda”. Esse filme dizia que este famoso jamaicano afirmou que “já que todos os dias existe quem faça o mal, quem quer fazer algo bom não pode fazer menos.” (mais ou menos esta ideia.). Está tudo dito, amigos!


8 comentários:

João Roque disse...

Vieste com este post original dar razão a algo que há pouco temp disse lá no meu blog, de que um texto não "acaba" com a sua postagem; vai-se completando e enriquecendo com os comentários que vão aparecendo e isso é muito bom. Tu acabas de o pôr em prática.
Abraço.

Socrates daSilva disse...

pinguim,
Isso para que vejas como ligo muito ao que dizes :-)
Sem duvida que enriqueço com os comentários. É outra divida que tenho aos meus professores. Ensinaram-me que aprender com os outros é para toda a vida.
Abraço

paulo disse...

Devo dizer-te que fizeste muito bem, Socrates, em pôr aqui os comentários, desenvolvendo-os tu. Sabes, há situações destas todos os dias, às vezes muito mais graves. O que me preocupa é este tipo de bullying tecnológico (neste caso até funcionou ao contrário, os alunos não ficaram impunes). Pode até ser exemplar, mas a violência tem pouca tendência para diminuir, visto que a sociedade tb está a ficar mais violenta. Parece ser o rumo das coisas. Só te digo, tenho pouca paciência para situações violentas e só espero não me envolver em nenhuma. Aguentarão os professores? Porque será o pedido exagerado de reformas antecipadas?

Um abraço

Special K disse...

Só tenho a dizer que para fazeres posts destes podes usar e abusar dos comentários, pelo menos dos meus.
Seria bom que este caso servisse de exemplo para que outros não se repitam.
Um abraço.

Anónimo disse...

Os meus parabéns pela linha que seguiste. Está muito bem. Pela minha parte, usa o que quiseres! Abraço, e boa semana!

Socrates daSilva disse...

paulo,
Essa é também a minha opinião. A escola está a ser o reflexo de toda uma sociedade e seus valores. Mas, já sabes, se te baterem, tu defende-te ;-)
abraço

special k,
obrigado pela generosidade.Amén.
abraço

rato do campo,
obrigado pela avaliação. Também pela tua permissão. Boa semana para ti também.
abraço

Hydrargirum disse...

E começo com o teu terminar....

"Está tudo dito"...pois de facto...entre os nossos comments e a tua inicial reacção e posterior desencadear de resposta que originou este post...está de facto tudo dito...

Fica aqui o meu registo de bom humor face à resposta que me deste em particular...!Realmente Toni Carreira e Toy Ad Seclorum, não deve ser algo fácil de tragar!!!!

Mas entre o estar tudo dito...e o que deveria estar a ser feito...aguardemos...Continuo a achar que a sala de aula deveria ser Re-Sacralizada...de modo a que os esforço dos professores não se torne inglório...

Os Pais demitem-se do papel educativo e depois esperam que a escola e os profs eduquem os miúdos...com os profs fora do caminho...como fica?....

Retomo a ideia do pelotão!!!As balas reusam-se!:)))))

Abraço:))))

PS-Sorry o atraso nos comments...mas andei fora "daqui"....

Socrates daSilva disse...

hydrargirum,
Convenceste-me. Mas, junto com os jovens metes os pais também perante o pelotão de fuzilamento.
:-))
abraço