quarta-feira, 5 de março de 2008

Remember, remember, and constantly remember

Ainda ando no rescaldo dos Óscares. Sim, sou um pouco para o lento, confesso. Gosto de saborear demorada e pausadamente os acontecimentos (deve ser da minha costela alentejana). Enquanto para o comum dos mortais, o assunto dos Óscares já foi mastigado, entrou no estômago sendo atacado pelo suco gástrico, e foi pelos intestinos directo para… (stop!), para mim o seu sabor ainda vagueia pelas minhas papilas gustativas.

Assim, estou agora focalizado no prémio para o melhor filme estrangeiro, o filme do austríaco Stefan Ruzowitsky “Os Falsificadores”. Que saiba ainda não o vi no nosso circuito comercial, mas fui ver o trailler na net. Gostei. Uma abordagem diferente do que se passou nos campos de concentração nazistas, segundo parece baseado numa história verídica.

Confesso que a segunda guerra mundial é um assunto que faz com que deixe de ter sentido de humor. O holocausto é das coisas mais misteriosas e repugnantes que a história já produziu. Pergunto-me como foi possível a maldade humana chegar a este ponto. Que um homem seja terrivelmente perverso, ainda se imagina. Mas, uma nação compactuar com um sistema de preconceito, morte e aniquilamento, é difícil de entender. Parece que o efeito de massas, faz alienar a simples razão de muita gente. Consigo imaginar o potencial de maldade que cada humano pode ter se alguém lhe souber manipular as teclas certas. Quando eu caminho na multidão, imagino por vezes como é incrível que os nossos piores inimigos podem ser os da mesma espécie e não algum animal feroz ou um ser alienígena.

Isto sem duvida é uma recordação de uma série que quando era pequeno passou na RTP que era “Holocausto”. As imagens dos campos de concentração, de corpos amontoados em camiões e dos fornos crematórios estão nas recordações mais vividas que tenho. Acho que poucos filmes de terror que vi ultrapassam o impacto delas. Os filmes sei que são ficção, aquilo sempre soube que era realidade.

Recentemente, soube de um site com o nome Remember. Existe para informar e para que se recorde o que aconteceu naqueles campos de concentração, existe para que nunca se esqueça o holocausto. Nele se pode fazer visitas virtuais a campos de concentração e ter acesso a documentos sobre factos, testemunhos e detalhes históricos desta mancha na história da humanidade.

Para que necessitamos de ser lembrados disto?
Porque a tendência é esquecer, não aprender as lições da história. Ruanda e Ex-
Yugoslavia estão entre os nomes que me vêem á mente ao falar em assassinos em massa só por causas de raça. Isto décadas depois do fim da segunda guerra mundial. Mas, os exemplos abundam.
Que nunca se esqueça que na Europa em pleno século 20, existiu uma maquina de morte bem lubrificada que exterminou pessoas devido a raça, religião, politica e orientação sexual.

Hoje é fácil dizermos que foi errado. Mas, como teríamos reagido se tivéssemos vivido no meio daquele ambiente, com uma propaganda feita para manipulação de sentimentos? Teríamos claro os princípios correctos?
A pergunta não é simples retórica. É que se continuamos atentos, quanta manipulação existe, quanto preconceito á espreita, quanta incompreensão para aquilo que nos é diferente!

(Caramba, onde se pode chegar quando se começa a falar dos Óscares…)



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5 comentários:

Special K disse...

O mundo esquece fácilmente estas atrocidades, a prova disso é que os crimes de genocídio não se ficaram pelos nazis. Infelizmente o povo de Israel, perseguido e martirizado durante tantos séculos é agora o opressor.
A partir de hoje podes ver "Os Falsificadores" nas nossas salas de cinema.
Um abraço

Hydrargirum disse...

Realmente....onde tu começaste...num assunto tão lighthearted...e onde foste desembocar....

Lá está...assume-se que os posts (tal como as conversas) são como as cerejas...vêm mais...e diferentes:)

Abraço:)

Socrates daSilva disse...

special k,
Obrigado pela informação. Vou mesmo vê-lo. Em relação a estes crimes, impressiona-me como a vida humana vale tão pouco perante interesses politico/economicos. Tanta evolução para quê?

hydrargirum,
Tenho constatado que me perco muitas vezes a desenvolver um assunto. Por culpa da associação de ideias. (Meu Deus! Agora apercebo-me das "secas" que devo dar a alguns...)
abraço :-]

João Roque disse...

Falar sobre o holocausto é sempre oportuno; e já agora, pegando no que se tem visto sobre o assunto no cinema, que tem sido muito e quase sempre bom, além dos conhecidos e oscarizados "A vida é bela" e "A lista de Schindler" queria relembrar uma média metragem impressionante de Alain Resnais ( "A noite e o nevoeiro") e uma cena que sempre recordo com uma lágrima: a cena fabulosa de Meryl Streep em "A escolha de Sofia", em que ela tem que optar por um dos filhos para ir para se separar dela.
Abraço.

Socrates daSilva disse...

pinguim,
De facto, existe muito onde as pessoas podem reflectir sobre certos aspectos tenebrosos da história humana para se aprender uma lição, e a nivel pessoal desenvolver certos principios. Recordo "A vida é bela" como também uma lição do que fazemos quando amamos alguém. Do que é o sacrificio para os seres amados serem poupados do pior. Confesso que "A noite e o nevoeiro", bem como "A escolha de Sofia" não os vi. Vou aceitar as tuas sugestões...
abraço