sexta-feira, 31 de outubro de 2008

PorQueMeApeteceum (virado para a comida)

Este mês andei a dar uma atenção mais detalhada a blogues de culinária. São tantos e tão bons...
O que se aprende; como se olha para a cozinha com um ar sonhador; como se usa o fogão com alegria; como os amigos nos visitam mais; como reclamam connosco por causa da louça que sujamos!

Bem, este mês destaco "Elvira's Bistrot". Um blogue com receitas variadas, onde é fácil de seguir as instruções e com um toque pessoal de inovação.

Fiquei indeciso entre as muitas sugestões que apresentou este mês. Mas destaco duas: Carne de porco com castanhas e Batatas Anna. (Mas vale a pena consultar todas...)

Bon Appétit!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Impar

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O acre sabor da doce procrastinação



(…)


Hoje quero preparar-me,

Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...

Ele é que é decisivo.

Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...

Amanhã é o dia dos planos.

Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;

Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...

Tenho vontade de chorar,

Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.

Só depois de amanhã...


(…)


Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.

Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.

Só depois de amanhã...

Tenho sono como o frio de um cão vadio.

Tenho muito sono.

Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...

Sim, talvez só depois de amanhã...


O porvir...

Sim, o porvir...


Fragmentos de “Adiamento” – Álvaro de Campos


sábado, 25 de outubro de 2008

Já vão cinco...



Faz cinco aninhos este local de tantas emoções!

(Vai este post dedicado a três "lampiões" assumidos: Pinguim, Fugitivo e Fernando)

Adenda: Afinal, este post tem mais um a compartilhar a dedicatória, o André Benjamim.



sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Seria bom, não seria?


É um dos mais inteligentes anúncios a que assisti nos últimos tempos.

Que bom seria se as pessoas realmente tivessem essa perspectiva!


(E a propósito, gosto muito do programa em causa...)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Guernica, inovação e memórias

Já tive oportunidade de escrever sobre o meu encontro com este quadro de Pablo Picasso. Recentemente, encontrei um filme em que este quadro é transformado numa animação em 3D. O resultado é fantástico e permite entender melhor os pormenores e toda a envolvência da pintura.




Por causa deste filme dei comigo a reviver as aulas do meu primeiro professor de filosofia. A história tem que ver não só com este quadro, como ponto de partida, mas, com o cubismo como movimento artístico. Explicando o contexto, eu confesso, que de inicio encarava as aulas de filosofia com preconceito. Achava que os filósofos eram todos uns totós que só complicavam o que era simples e debatiam ad infinitum coisas sem o mínimo valor prático. Entrei assim naquela disciplina com a mente fechada e uma vontade tipicamente adolescente de gozar.


Já não me consigo lembrar do nome do professor, mas ainda recordo nitidamente a sua postura nas aulas. Calmo, conversador, a fazer perguntas, e escutar. Normalmente começava por escrever na ardósia o sumário e questionava a turma acerca do que achava sobre o dito cujo. Esse era quase sempre o ponto de partida.


Eu durante algum tempo observava, desconfiado, sem falar muito. Mas, quando certo dia o tema foi a arte moderna, eu achei que tinha ali os meus cinco minutos de fama; tinha uma oferta de mão beijada para ridicularizar a filosofia, a pretexto daquelas borradas que algumas pessoas queriam chamar arte. Vai daí e, armando-me em bom, afirmei que o que era realmente arte era a pintura realista, que essa sim exigia esforço e saber; que os bons eram o Leonardo da Vinci, o Rafael e os mestres da Renascença; que o Picasso e amigos eram uns trafulhas.


Mais tarde entendi que com este comentário, o professor tinha-me onde ele queria. Envolveu-me no tema, não só naquela aula, mas nas seguintes. Eu comecei a gostar, sim, a desejar aquelas aulas cada vez mais. O professor na sua técnica: escutava e depois, com perguntas, fazia-nos pensar. O resultado foi não só gostar de “Guernica”, porque a entendi, mas como bónus, entender a lógica por detrás de definição de arte, mesmo quando ela não é a mais convencional ou popular. Esse professor fez mais do que derrubar o meu entrincheirado mundo de certezas aleatórias, deu-me a chave para abrir escancaradamente a porta da minha curiosidade. Ensinou-me, naquele ano, o quanto ganhamos por não depender de ideias preconcebidas, mas que por observar, questionar e escutar, enriquecemos.


“Ó stor! Este post é para si, esteja onde estiver agora. Mesmo que ande atafulhado nas avaliações, saiba que já mexeu nas cabecinhas de uns miúdos e mudou algo neles!”


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Metafonia



O dia de hoje marca o regresso dos renovados Madredeus, com o disco intitulado «Metafonia». Não podia deixar de dar destaque a um dos grupos portugueses que mais aprecio. Depois do anúncio, feito em Novembro ultimo, em que se comunicava a saída de três elementos, entre os quais a maravilhosa voz de Teresa Salgueiro, pensei que seria o fim deste espectacular projecto musical. Assim, estou na expectativa deste disco, com as mudanças anunciadas.

Começa no alargamento a nove elementos e o uso de instrumentos novos como a bateria e a guitarra eléctrica. Devido a esta formação mais alargada, o uso do nome «Madredeus e a Banda Cósmica». Igualmente estou curioso da aposta em duas novas vozes femininas. A única coisa que me faria mais feliz seria o regresso de Rodrigo Leão!

Enquanto não se saboreia este disco na sua totalidade, pode-se escutar uma melodia aqui. Gostei!


domingo, 19 de outubro de 2008

Always look on the bright side of life

Quando os ânimos andam mais em baixo, costumam existir duas músicas cujas letras animam-me. Escuto-as, normalmente apenas uma de cada vez, e depois ando a cantarolar para reaprender a ser mais positivo perante as adversidades que, seja lá porque razão, não estão no poder imediato da minha mão mudar.

Esta é uma delas.




Ai este filme…
(Este é um dos filmes que se fosse para uma ilha deserta decerto levava comigo dentro da mala de viagem. Bem, mas este filme tem “pano para mangas”. Fica para outra altura…)

Esta música hoje é dedicada a quem me ajuda a ver sempre "the bright side of life” quando preciso. Podemos não poder mudar os problemas, mas podemos encará-los de outra maneira.

I mean - what have you got to lose?
You know, you come from nothing
- you're going back to nothing
What have you lost? Nothing!

Always look on the bright side of life


Have a nice day!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sustentabilidade



Ainda tenho que continuar a escrever sobre o assunto do post anterior. O desistir de lutar.

(Não sei se escrever é um acto libertador, ou simplesmente masoquista, em que se mexe na ferida até não doer mais. Mas por vezes sinto que a dor serve como purgante. Se essa ideia não é verdade, então está muito bem entranhada.)


Quando alguém desiste de viver existe o lamento, veraz, de que se perdeu uma vida. Que se abdicou de um bem precioso, inigualável e irrepetível. Penso que é mesmo assim. Igualmente, fica um vazio atroz para quem amava essa pessoa. Quem desiste, pode não pensar nisso, mas é muitíssimo importante para alguém, mesmo com os seus complexos problemas.


Mas, a questão é: será que quem quer morrer está a sentir que deita fora a sua vida? Será que a sua vida, num certo sentido, ainda existe? Ou estará somente a desejar terminar as funções vitais que mantêm um corpo a funcionar? O que é a vida?


Posso falar apenas do que sei pelo que vivo e do que sinto. Não tenho nenhuma outra presunção. Não me cabe analisar o assunto pela visão das ciências humanas. O meu reles testemunho é dizer que sei o que é acordar e amaldiçoar o dia emergente; sei o que é invejar a notícia de que alguém morreu e não termos sido nós. Digo-o com apatia. Nunca tentei o suicídio, mas desejei, em algumas alturas, que a morte chegasse pelos seus próprios meios. E porquê? Porque achava que não vivia, apenas tinha um corpo a funcionar. “O sonho comanda a vida”, diz António Gideão. Se não existe um sonho, somos um exército sem comandante, condenado à debandada perante a batalha da existência do dia-a-dia. Perdemos inevitavelmente.


Lembro-me, ao andar nestes devaneios, quando era pequeno e ia à quinta dos meus avós. Eles tinham um cão amarrado a uma casota; nunca estava à solta. Era alimentado, bem cuidado, mas estava sempre preso a uma curta corrente. Como gostava muito de animais, ia frequentemente para junto dele fazer-lhe festas. Ainda tentei ir passear com ele, mas recebi um forte aviso para não o fazer. Assim, compensava-o por passar algum do meu tempo com ele. O bichinho quando me via aproximar já entrava em êxtase. Delirava cada vez que lha passava a mão na cabeça. Eu pensava, ao olhar para ele nesse estado, como seria horroroso viver assim. Passar a vida preso, embora com o necessário para sobrevivência física. Para a minha mente infantil essa situação era horrível.


Isto para chegar ao ponto anterior. O que é a vida? Considero a vida mais do que o existir. Tem que existir um sentido, algo que a sustente. Se o corpo deve receber nutrientes saudáveis para funcionar bem, a vida, ou chamemos a alma, também. Tenho que saber porque acordo toda a manhã, tenho que saber que contribuo para a felicidade de alguém, tenho que sentir que faço algo, mesmo que pequeno seja, para este mundo ser melhor. São frases comuns e banais, mas incontornáveis. Tenho que sonhar, desejar, ansiar, ter vontade de lutar. Saber quem sou e agir em harmonia com esse conhecimento. Se não for assim, sou um autómato.


Reconheço que a vida nos coloca “correntes” para nos tornar eficientes e parte de uma sociedade cinzenta e produtiva. (Produtiva para quê, a propósito?) Reconheço que quem sonha é incómodo aos demais, com a sua inquietação e delírios. Reconheço que areias movediças da memória, vez não vai, puxam para a auto comiseração. Assim, luto para sentir-me vivo. Para sonhar um pouco. Sem destruir a vida de outros.


No caso que referi, não sei o que aconteceu. Possivelmente ele chegou à conclusão que não tinha margem para sonhar, para caminhar, ou então que o preço ia ser incomportavelmente elevado. Parece que na vida existe por vezes uma espécie de contabilidade. Existe uma coluna para o que faz querer desistir e outra para o que faz querer continuar; uma espécie de ter e haver emocional. Quando as razões positivas são suplantadas pelas negativas, alguns acham que deixa de existir razão para sustentar um corpo. Sim, um corpo, porque sentem que a vida já não existe. Por outro lado, quando existe uma razão para viver, mesmo o mais letal perigo é enfrentado com a força de um titã. Existe fé, razão, sonho, vontade. Isso é a vida. Sem um alicerce assim, por mais pequeno que seja, é dificil existir força.