segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Em memória de alguém que não conheci


Esta é uma música que gosto bastante. Além do som, tem uma letra tocante. Hoje queria dedica-la a alguém que não conheci, mas que a sua história cruzou-se inesperadamente comigo recentemente.


Trata-se de alguém que desistiu. Normalmente não se recorda pessoas que desistem, porque essas são encaradas como o elo mais fraco, as que não deixam nada para lembrar. Mas, como diz a letra desta música, por vezes, por detrás de uns olhos, que podem ser azuis ou não, existe muita coisa que ninguém vê ou dá valor. Nesta história real, o acto de desistir tem, pelo menos para mim, uma enorme carga emotiva.


A história em traços gerais. Um homem conhecido na comunidade como excelente pessoa. Casa. Algum tempo depois, começa um inexplicável percurso de dependência que lhe degrada a saúde e a família. Suicida-se. Após a morte, sabe-se que lutou contra a sua homossexualidade. Fim da história.


Este caso, condenado de todos os ângulos, pelos que o conheciam, tem em mim um espectador silencioso e dolorosamente sensível. Não o conheci por pouca margem de tempo. Mas, se calhar, sei de cor toda a via dolorosa que percorreu, toda a solidão que passou e todo o desespero que acumulou até o triste epílogo.


Quero recordá-lo. Quero dedicar-lhe esta canção. Poderia ser uma melhor, talvez mais digna e imponente para a razão que é. Mas, só me ocorreu esta.



No one knows what it's like
To be the bad man
To be the sad man
Behind blue eyes.


9 comentários:

Anónimo disse...

Cada um sabe dos teres e haveres com que se desenvencilha no mundo, mas posso dizer-te, apesar da "garganta" que tenho e da força que finjo, que sei "what it's like"... Abraço! (Este teu post tocou-me muito.)

Anónimo disse...

Caro Amigo,
"NÃO HÁ RAPAZES MAUS…" dizia o Padre Américo.
Nos tempos modernos devemos afirmar "NÃO HÁ HOMENS MAUS…"
Não estamos sós no mundo. Somos um somatório de muitas influências. Não devemos nutrir sentimentos de culpa por algo que se passa à nossa volta mas não originado por nós.
P.F. Seja feliz
Abraço grande

GRITOMUDO

João Roque disse...

Fiquei tolhido quando li isto e cheio de medo, e tu sabes de quê...
Diz-me que não é quem eu penso, para me sossegares; de qualquer modo é uma imensa tristeza isto que relatas e sei o que sentes. Estou e estarei sempre contigo, incondicionalmente.
Abraço muito forte.

Maurice disse...

É muito forte a situação que referes. E percebo como tudo isso te pode tocar.
às vezes descobrimos tanto em comum por trás de certos "olhos azuis"... Mas cada um tem um caminho único e irrepetível: o que faz, caminhando.
Forte abraço

Socrates daSilva disse...

Arion,
Por isso te estimo e respeito neste mundo da blogosfera. Tu sabes “ what it's like” e sabes o que dizer.
Abraço!


Gritomudo,
Estou a tentar ser feliz, mas o que se passa à minha volta exerce efeito em mim. E por vezes, sentimos as dores, os desapontamentos e as derrotas de outros, que connosco compartilham o caminho. Este caso simplesmente não podia deixar-me indiferente. É um desabafo com um grande suspiro à mistura!
Abraço!


Pinguim,
Creio que já te descansei sobre o sujeito desta situação.
Seja quem foi, a tristeza do caso está colada a mim.
Obrigado pelo teu apoio. Sei que te preocupas intensamente com os teus amigos, compartilhando as alegrias e as tristezas.
Abraço!


Maurice,
Mesmo que cada um tenha o seu caminho e saiba lidar com as situações de maneira diferente, tenho empatia por este caso, como podia ser outro. Provoca auto-reflexões intensas.
Abraço!

Anónimo disse...

Curioso que tenhas escolhido esta versão da música... os críticos dizem que foi a pior de todas já feita, mas para mim é oposto: a música, o vídeo, o Fred Durst, Halle Berry... tudo do melhor!

E a história que contas no post é isso mesmo: mesmo quando toda uma sociedade está contra, nós temos de acreditar naquela pequena fonte de energia que nos dá vontade de viver e de lutar (umas vezes mais outras vezes menos).

Pessoalmente o facto de me ter assumido permitiu-me aceitar tudo aquilo que é diferente e encontrar uma parte da paz que precisava...
E também que tenho de acreditar nessa energia interna, por muito que digam o contrário!

E se da mesma maneira que ficamos tristes ao ler este post, também deveremos ficar com ganas de evitar que a história não se repita.

Socrates daSilva disse...

Enginethrobs,
Compartilho a tua opinião sobre esta versão da música.
:-)

Creio que o assumirmos quem somos nos dá um pouco mais de paz, sem dúvida. Mas, por vezes existem factores que dificultam, e de que maneira, esse processo. Este caso,em particular, entendo-o melhor por algumas razões.
Mas, como o entendo, também acho que não é a saída. Só que se calhar não teve ninguém a assegurar-lhe disso…

Abraço!

Ricardo disse...

Infelizmente à muita gente que pensa que esquece ou esconde quem é verdadeiramente por vergonha, muitas dessas pessoas não têm culpa, quem tem culpa é quem lhes diz o que é errado ser na vida, espero que um dia possa ajudar quem passar por tal situação. Lutar com nós próprios é maior erro que se pode cometer. Corrói-nos.

Socrates daSilva disse...

Pata de Urso,
Esse é um drama que conheço bem de perto. Rever em outros os mesmos problemas, mexe muito. Por vezes, o pior é não ter ninguém com quem falar, é não ter alguém que entenda e diga que pode haver uma saída - fácil ou difícil, não sei – mesmo pequena que seja. Aqui tenho tido a imensa sorte de receber palavras que chegam na altura certa.

Registo uma frase tua, imensa de verdade e dramatismo, recordando especialmente o caso de que falei neste post:
“Lutar com nós próprios é maior erro que se pode cometer. Corrói-nos.”