terça-feira, 4 de novembro de 2008

Será?...

"Salva-me, ó Deus, pois a água

já me chega ao pescoço.


Estou a afundar-me no lodo profundo,

sem nada que me segure;

vou-me afundando no mais fundo das águas,

e a corrente vai-me arrastando...


Esgotei-me de tanto gritar,

a minha garganta arde

e os meus olhos consomem-se,

esperando pelo meu Deus."

Salmo 69, Antigo Testamento, Bíblia Pastoral


Neste salmo alguém suplica a Deus auxílio perante uma ameaça. Sente-se impotente, sem saída e ninguém o pode ajudar. Na continuação da leitura sobressai a ideia de que a ajuda divina, numa perspectiva de fé inabalável, inevitavelmente chegará. Penso neste tipo de situações. Ter fé.


A vida, à partida, dá condições, oportunidades e trunfos desiguais a cada um. Logo no inicio, sem termos dado sequer um pio! Depois no decorrer da vida, os imprevistos... Quantas pessoas com um bom carácter, e mesmo alguns génios, foram suplantados por autênticas nulidades. Quantos excelentes seres humanos, alguns até grandiosos no seu humanitarismo, tiveram um percurso insignificante, comparado com outros que só em toneladas se podia medir a sua mesquinhez ou até mesmo a maldade.

Perante estas incongruências da vidinha, quando em aflição, não podemos limitar as soluções aos nossos recursos pessoais. Apelamos a quem passa, a quem imaginamos que tenha poder e a tudo o que esteja à mão. Valorizando as nossas emoções, gritamos, se for necessário, a plenos pulmões, prometendo até o impossível em troca de uma ajuda.

Não se trata de discutir se Deus existe ou não. Trata-se de algo mais; chamemos-lhe esperança, espírito de luta, acreditar no triunfo final da justiça ou outra terminologia qualquer. Perante um problema que parece ultrapassar tudo o que somos e temos, acreditarmos que teremos ajuda de alguma força superior, deve ser tremendamente importante! Quando, por vezes, observo pessoas que veementemente asseguram ter na sua vida esse tipo de apoio, invejo-as, no bom sentido.


Pessoalmente não simpatizo com conceitos estremados. Por conseguinte, não creio que tudo depende de nós; mas também não espero exclusivamente que as coisas "caiam do céu". Mas, confesso que já tive o meu tempo de esperar um milagre…
Terei sido menos digno de ajuda do que outros?

Agora quero ver onde as minhas forças me levam para ter respostas, nem que as tenha que arrancar à picareta.

Mas, a algumas horas penso.

Será que alguém estava à espera desta minha atitude para me dar finalmente as respostas?


3 comentários:

João Roque disse...

Só o facto de expores a tua dúvida, já lhe estás, de certa forma a responder; nós temos capacidades, se temos "fé" em algo, que porventura desconhecemos; mas não podemos, como bem dizes, ir para dois tipos de situações: esperar que tudo aconteça por si, e não nos lembrarmos só de Santa Bárbara quando troveja.
Abraço.

Tongzhi disse...

Sem "acreditar" em algo para além de nós, não me parece que se vá a algum lado...
O que é esse "algo"?
Isso já são "outros quinhentos"!!!
Todos temos também o direito à indignação, que, à falta de melhor, atiramos para esse tal de "algo". Contudo, por vezes, somos mesmo nós que não "lutámos" o suficiente para obter o que queremos!

Socrates daSilva disse...

Pinguim,
Primeiro, BEM VINDO!

É de facto interessante como a fé, se para alguns é um factor paralisante, fazendo-os esperar apenas que algo aconteça, para outros serve como uma alavanca para erguer vontades e espírito de luta. A fé em certa medida é crer no que ainda não chegou ou, do que não podemos ter provas físicas. Faz falta… faz falta…
Abraço!


Tongzhi,
É mesmo uma questão base. Existe algo, mas o quê? Em que medida é que influencia a nossa vida? Será como nós queremos?
Mas, cada vez mais entendo que na nossa determinação está a chave. Podemos não ter o que queremos, mas que ninguém nos acuse de ter tentado com tudo o que temos à mão.
Abraço!