sábado, 26 de abril de 2008

Guernica




A primeira vez que observei bem este quadro foi num livro de História do 9ºano, se a memoria não me atraiçoa. A curiosidade por uma obra de arte que fugia do conceito realista tradicional fascinou-me. A mistura de desenhos abstractos, intensos e expressivos agarrou-me. Muitas vezes vagueei mentalmente durante algumas aulas mais aborrecidas, a olhar para ele. Confesso que também lhe fiz alguns rabiscos por cima (era um vicio mais forte do que eu…); assim como também o tentei reproduzir, para ter a frustração de descobrir de que nunca ia ser um Picasso.

Há algum tempo atrás tive um momento histórico relacionado com este quadro. Digo histórico porque me diverte solenizar certos momentos da minha vida. Este foi um deles. No Museu Rainha Sofia, em Madrid, finalmente encontrei-o. A este quadro. O enorme e original. Sem nada entre mim e ele. Finalmente estávamos cara a cara. O quadro que tanto olhei, repintei e interroguei. Por isso digo que fiz história. A minha. Estive com um ar tão extasiado e demorado, que acho que os seguranças ainda me devem ter observado com suspeita. Mas, eu queria apenas saborear pachorrentamente o meu momento. (seria perfeito se pudesse tocá-lo)

Ironicamente, a razão de Picasso ter pintado este belo quadro é uma história bem feia.

O dia 26 de Abril de 1937 é dia de mercado na cidade basca de Guernica. Às quatro e meia da tarde surge sobre os céus a silhueta solitária de um avião de combate alemão. Começa a largar as primeiras bombas de uma longa série de ataques, que se prolongam até ao cair da noite. O ataque reduz a cinzas e escombros a pequena cidade de menos de dez mil habitantes. Fala-se em 1600 mortos e 900 feridos. O centro da cidade foi totalmente destruído, as ruas e praças envoltas em chamas, devido em larga medida ao facto de as construções serem maioritariamente de madeira. Do panorama desolador que fica do ataque alemão, salvam-se os símbolos da liberdade basca – um carvalho centenário e a medieval Casa dos Foros - que escapam à destruição, por se situarem longe do centro da cidade. A velha árvore só em 2005 morrerá de doença, sendo substituída por uma nova, nascida das sementes da primeira. A herança deste bombardeamento maciço será, mais tarde, a sua generalização durante a II Guerra Mundial, com devastadora eficiência, sobre alvos europeus e alemães, de que a acção anglo-americana sobre a cidade alemã de Dresden, em Fevereiro de 1945, é o exemplo máximo.

9 comentários:

João Roque disse...

Caro Sócrates
conhecia a história que originou a célebre tela de Picasso, e já estive inclusivé em Guernica, como que numa homenagem, mas desconhecia a data.
Quanto ao que referes da tua sensação quando te viste defronte do quadro, tive uma sensação semelhante quando me vi perante a estátua do David de M.Ângelo, em Florença: comecei a ficar com "pele de galinha".
Abraço amigo.

Anónimo disse...

Esta tela tem uma força irreprimível. É um manifesto, uma denúncia aos horrores da guerra - todas as guerras!
Também fiquei assim (como tu e o Pinguim), perante o Cristo Morto de Mantegna.

Anónimo disse...

Caro Sócrates
Este foi um quadro que sempre me aterrorizou, devido à expressão de sofrimento que vejo nele. Mexe mm comigo...
bom fim de semana

Socrates daSilva disse...

Pinguim,
Que “inveja”! Estar em locais como Guernica deve mesmo fazer pensar. E também estar perante o David. Itália é um país onde ainda não fui, mas acho que quando lá for, vou ter uma série enorme de “momentos históricos” pessoais.
Abraço amigo

Catatau,
Desde cedo senti uma força enorme nesta tela. Sendo motivada pela crueldade de um massacre, transmite sentimentos intensos de sofrimento. Benditos os génios que nos sabem tocar nos sentimentos.
Abraço

Jasmimdomeuquinta,
A arte nem sempre é agradável de ver. Este quadro atraiu-me por ser dos primeiros em que entendi a arte abstracta, depois quando soube a razão da sua elaboração, senti que este terror que transmitia era importante senti-lo para que odiássemos a guerra – como escreveu o catatau – todas as guerras. Se mexe contigo, isso diz muito da tua sensibilidade…
Bom fim de semana também

Anónimo disse...

Não sabia que tinha sido a 26 de Abril. Quanto à Guernica (quadro), é um épico! Não conheço outro quadro com aquela força devastadora face à impotência e à inocência das suas vítimas. Abraço!

Moi disse...

Também no meu livro de história do 9º, também a canção do post anterior, também a violência (e agora a data) deste acontecimento pelo picasso. Só me apetece desligar aquela luz... Mas aconteceu e está aqui! Abraço grande

Special K disse...

Um quadro que exprime todos os horrores que o ser humano consegue inflingir aos outros.
Sabes que já estive naquela sala enorme do Rainha Sofia, ia com uma enorme curiosidade de ver o quadro e acabei por ficar mais fascinado com o pormenor dos esboços que com o quadro em si.
Um abraço.

paulo disse...

Também senti uma sensação de esmagamento quando vi o quadro, e que acontece perante qualquer grande obra. Guernica tem ainda o peso de ser mesmo grande em tamanho.
Abraço

Socrates daSilva disse...

rato do campo,
Senti o mesmo desde o inicio. Como ás vezes as imagens "falam" mais do que as palavras.
Abraço

Moi,
Aconteceu mesmo. E o terrivel é que coisas do tipo continuam...
Ele há seres humanos que nunca vão aprender, para a desgraça de outros.
Abraço

special k,
Bem lembrada a excelente colecção que circunda o quadro. Também a adorei e me fez entender melhor o original.
Então, se lá estiveste e viste um "cromo" feito estatua a babar-se perante o quadro, era eu!
(LOL)
Abraço

Paulo,
É mesmo grande em todos os sentidos.
(O ser grande em tamanho inviabilizou a minha ideia de o levar discretamente para casa...)
Abraço