Às vezes entre a tormenta,
quando já umedeceu,
raia uma nesga no céu,
com que a alma se alimenta.
E às vezes entre o torpor
que não é tormenta da alma,
raia uma espécie de calma
que não conhece o langor.
E, quer num quer noutro caso,
como o mal feito está feito,
restam os versos que deito,
vinho no copo do acaso.
Porque verdadeiramente
sentir é tão complicado
que só andando enganado
é que se crê que se sente.
Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham
folhas caídas que secam.
Fernando Pessoa
(Hoje faz 120 anos do nascimento deste grande poeta. Confesso que andava há muito tempo a tentar escrever um texto para este dia. Nenhuma tentativa me deixou satisfeito. O melhor é mesmo recordar um poema dele. Obrigado Pessoa!)
8 comentários:
Todo nós temos Pessoa na voz (não, não é só Amália...). ;)
A melhor homenagem que se pode fazer é ler o(s) homen(s).
Catatau,
Concordo plenamente! Ler, escutar e saborear demoradamente...
:-)
Abraço
Na voz e na alma.
Um abraço
special k,
Amén!
:-)
Abraço
Não conhecia este poema do Pessoa. É muito ao jeito "popular", gostei.
Tongzhi,
O Fernando tem material para "dar e vender". E todo do bom!
Abraço
e é lindo...
Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham
folhas caídas que secam.
Jasmim,
É, não é?
Bjs
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