sexta-feira, 13 de junho de 2008

Às vezes entre a tormenta




Às vezes entre a tormenta,

quando já umedeceu,

raia uma nesga no céu,

com que a alma se alimenta.

E às vezes entre o torpor
que não é tormenta da alma,
raia uma espécie de calma
que não conhece o langor.

E, quer num quer noutro caso,
como o mal feito está feito,

restam os versos que deito,
vinho no copo do acaso.

Porque verdadeiramente
sentir é tão complicado
que só andando enganado
é que se crê que se sente.

Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.

E tudo é chuvas que orvalham
folhas caídas que secam.

Fernando Pessoa


(Hoje faz 120 anos do nascimento deste grande poeta. Confesso que andava há muito tempo a tentar escrever um texto para este dia. Nenhuma tentativa me deixou satisfeito. O melhor é mesmo recordar um poema dele. Obrigado Pessoa!)

8 comentários:

Anónimo disse...

Todo nós temos Pessoa na voz (não, não é só Amália...). ;)

A melhor homenagem que se pode fazer é ler o(s) homen(s).

Socrates daSilva disse...

Catatau,
Concordo plenamente! Ler, escutar e saborear demoradamente...
:-)
Abraço

Special K disse...

Na voz e na alma.
Um abraço

Socrates daSilva disse...

special k,
Amén!
:-)
Abraço

Tongzhi disse...

Não conhecia este poema do Pessoa. É muito ao jeito "popular", gostei.

Socrates daSilva disse...

Tongzhi,
O Fernando tem material para "dar e vender". E todo do bom!
Abraço

Anónimo disse...

e é lindo...

Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham
folhas caídas que secam.

Socrates daSilva disse...

Jasmim,
É, não é?

Bjs