sábado, 17 de maio de 2008

Dois pensamentos para este dia



I

“e disse: «Garanto-vos que se… não vos tornardes como crianças, nunca entrareis no Reino do Céu.”
Evangelho de S.Mateus, 18,3
Biblia Pastoral (Edições Paulinas)




II

"Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. Estudem ciências, se estudam ciências; estudem letras, se estudam letras. Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível. Porque só há duas maneiras de se ter razão. Uma é calar-se, que é a que convém aos novos. A outra é contradizer-se, mas só alguém de mais idade a pode cometer."
Fernando Pessoa defendendo os ataques a António Botto e Raul Leal.



17 de Maio
Dia Internacional contra a Homofobia


Porquê odiar sem existir uma razão?




7 comentários:

João Roque disse...

Porquê o ódio, a injúria, a agressão de todas as formas, quando se sabe que tudo isso é uma capa para esconder um desejo?

Special K disse...

Meu caro Sócrates parabéns por trazeres aqui este magnífico texto de Fernando Pessoa. Pessoa e Raul Leal, foram os poucos, ou mesmo os únicos, que na época defenderam o António Botto.
Um abraço.

O Fugitivo disse...

Meu Caro Sócrates daSilva

Como pode um país mudar tão pouco em tanto tempo!

Um abraço em homenagem à Tolerância.

Daquele que agora se dá pelo nome de
Fugitivo

Tongzhi disse...

Os valores da tolerância andam, de facto, muito arredados dos comportamentos humanos... é pena porque a tolerância e um sentimento muito nobre.

Anónimo disse...

Crianças, sem dúvida, porque o mundo é delas e o tudo o que as solidarize e aproxime só fará delas homens e mulheres melhores. Se a hipocrisia campeia nos adultos, se a arrogância e a discriminação pairam por todo o mundo, resta a esperança que as orientações sexuais repudiadas pela heterodoxia dos pais sejam mandadas às malvas pelos filhos.

Mesmo assim, algo está a mudar. No meu prédio tenho dois homens na casa dos 30's (um deles conheço-o de vista desde a juventude), que vivem juntos. Não alardeiam a relação, não brandem estandartes. São homens absolutamente másculos que vivem um amor. É tudo. Pois olha que praticamente toda a vizinhança os respeita, os cumprimenta e simpatiza bastante com eles. Mesmo no café que frequentam - em frente a nossa casa - nunca ouvi uma palavra que fosse que me soasse a repúdio ou a gozo soez. Bom sinal.
Em contrapartida, tenho alguns alunos da noite e de dia (e colegas da escola, já agora), que são de uma homofobia tão colérica que mete nojo (e me leva a pensar em coisas mal resolvidas). Dá-me imenso prazer "abrir-lhes" as cabeças, servindo-me da imagem que eles têm de mim como hetero dos sete costados (já viste a bizarria?), levando-os a meter a mão na consciência e a anuir que os seus "dichotes" carecem de dignidade e que são mais motivados pela expectativa social do que pela convicção propriamente dita. Mau sinal.
Moral incongruente da história: muitas pessoas gostam daqueles que os enganam - algumas pessoas gostam daqueles que não temem ser verdadeiros.

(Provavelmente este comentário vai, muito justamente, arreliar alguém, mas desculpem... veio a talhe de foice para o dia.)

Anónimo disse...

Gosto muito do texto de Pessoa que escolheste! Além disso, concordo com o Pinguim: muitas vezes, quanto maior é a recusa, maior é o desejo de lá se estar. Abraço!

Socrates daSilva disse...

Pinguim,
A psicologia humana é mesmo complexa…
A raça humana é a pior inimiga de si mesma.
Abraço


Special k,
Obrigado, amigo! Já gosto de Pessoa há muito, mas só á relativamente pouco tempo que tomei conhecimento deste texto.
Soberbo na sua simplicidade…
Abraço


Fugitivo,
Boa questão! Por vezes só se muda o que devia ficar…
Viva a saudável e necessária Tolerância, amigo
Abraço


Tongzhi,
100% de acordo!
Outros valores falam mais alto. Infelizmente.
Abraço


Catatau,
Esperemos que sim. Afinal, ser como criança, em muita coisa é regressar a uma pureza possível e a uma simplicidade necessária, livre de tanto folclore desnecessário. O preconceito é dos lixos que bem podia desaparecer.
Esse relato teu é bem verdade. Quantas coisas me lembram! Talvez seja a razão de recentemente uma estatística dizer que 70% dos portugueses eram contra a homossexualidade. Se calhar muitos disseram o que pensavam ficar bem na resposta e não aquilo que realmente pensavam.
Não percebi essa do teu comentário arreliar alguém, mas a mim soube-me muito bem. Venha de lá essa foice…
Abraço

Arion,
Obrigado pelo elogio e pelo primeiro comentário com esse bonito golfinho!
Abraço