quinta-feira, 8 de maio de 2008

Murro no estômago

Fui a uma livraria onde habitualmente vou desfolhar as novidades e rever algum velho conhecido livro. Não é a “minha” FNAC, mas uma modesta livraria de bairro. Em local de destaque estava um livro que imediatamente chamou a minha atenção. “Companheira silenciosa” era o título. As letras mais pequenas explicavam “Afinal o meu marido era homossexual”.


Monumental soco no estômago! A suprema ironia desta situação foi que se passou na hora seguinte a ter tido uma conversa telefónica sobre o assunto. Juro que olhei para cima e pensei: “Se existes, deves estar a rebolar-te de tanto rir com as malditas brincadeiras que fazes comigo…” Peguei nele e desfolhei algumas páginas. Tremi com algumas frases soltas que li a esmo.

Ao chegar a casa quis saber mais. Encontrei 3 matérias muito interessantes acerca deste livro:

Sinopse

Entrevista á autora

Um post no blogue Assumidamente com o tema Um silencio que não mata, mas mói. Uma reflexão tocante.


Para o querido amigo com quem tinha conversado ao telefone nesse dia, não é novidade estar a escrever aqui que este livro deu-me um valente murro no estômago. Para quem ainda não leu algumas das entrelinhas dos meus post’s e comentários, estará agora a pensar: “Então ele é…” Sim, sou.

Por vezes são estas situações incontroláveis que nos fulminam e fazem ter umas decisões repentinas, reflexos de recalcados anseios. Cheguei então á conclusão de que, se algum misterioso e zombeteiro destino colocou este livro á minha frente num dia e hora tão… irónicos - estava fragilizado - é porque chegou a hora de assumir mais claramente alguma coisa aqui; de debitar algumas frases soltas; de divagar.


1
Qualquer mulher que descubra que o seu marido é homossexual tem toda a razão em sentir-se traída. É uma situação destrutiva, imoral, repugnante. Sei-o na pele. Mas, um homem preso num casamento deste não tira propriamente gozo da situação. O espectro dos seus sentimentos oscila desde o pensar no suicídio, fugir, ser sincero, até congelar os seus sentimentos. Ser apenas um autómato. E acreditem, sentir que se está a morrer por dentro é do pior.
Sinto que sou como uma bomba relógio que pode explodir a qualquer instante e que vai sujar a quem estiver á volta. Para alguns, homens assim são uns fracos que não tiveram coragem de assumir-se, para outros são os sacanas de uns pervertidos. Já pensei nisso. Não me considero nem fraco, nem sacana. Apenas fiz o que na altura me pareceu ser a melhor opção, por não ter base para entender melhor o que se passava comigo. Errei e dava tudo para voltar atrás. Não posso. Já basta ter nojo de mim em muitas ocasiões…


2
Já lia os vossos blogues antes de iniciar o meu. Já vos admirava de longe, como um miúdo num concerto da sua banda favorita. Quando comecei a escrever e soube que era lido e mais tarde recebia os vossos comentários, isso foi electrizante. (“...deixaram-me umas palavras…”)


3
Tentei “respirar” aqui. Consegui resgatar emoções que já as pensava perdidas. É pouco, mas muito aprazível. Vocês para mim são neste momento, virtuais, e no caso do Pinguim, voz. Mas, são os meus melhores amigos. Cada vez mais o sei.


4
Por vezes tenho a sensação que me ponho em “bico de pés” para vos acompanhar. Dei por mim a falar do que realmente não sei por experiência, mas imagino. Perdoem-me a minha ousadia, não é por mal. Queria apenas sentir ser parte de algo.


5
Ter escrito hoje de uma maneira mais explícita e não nas dúbias palavras das entrelinhas foi um passo necessário para mim. Estou a ficar agoniado de um mundo de coisas dissimuladas. De ter que pensar se o que digo e escrevo se vai dar a impressão “X” ou “Y”.
Não sei se vou desiludir alguém, ou se vou já para a classificação de “infiltrado”. Mas, pelo menos vou conseguir, um dia, se vos encontrar pessoalmente, olhar-vos nos olhos com a dignidade possível.


This is my December.
These are my snow covered dreams.
This is me pretending.
This is all I need.

And I...
Just wish that I didn't feel.
Like there was something I missed.

(My December – Linkin Park)



22 comentários:

Special K disse...

Sócrates, meu amigo, confesso que não estava à espera desta. Eu compreendo-te bem, por pouco não estaria hoje na mesma situação.
O dilema é terrível, não podes ser quem és não te atreves a magoar alguém de quem gostas.
Não me atrevo a dar conselhos pois eu não saberia o que fazer na tua situação. Tens apenas o meu aopio e amizade.
Um abraço.

Anónimo disse...

Olha, deixaste-me...
Sabes que há cerca de duas décadas estive para me casar por duas ocasiões? Que tentei contrariar o que sentia até aos 33 anos (a idade de Cristo, pois)? Que mesmo depois, durante quatro ou cinco anos me senti completamente perdido, furioso comigo e completamente amargurado pelo que me "acontecera" na vida? Mesmo hoje, sabes que procuro viver com dignidade - no armário, claro - no meio de um ambiente hostil, profundamente homofóbico e ostracizador ao qual me sinto, paradoxalmente, ligado por laços tão puros como o amor e a amizade?
Mas olha, criei defesas. Criei um espaço. Um lugar onde me sinto bem, com a minha masculinidade e com a minha orientação sexual. Sinto-me feliz por poder conciliar o que sou com o afecto de quem não tolera o que sou. Pode parecer-te confuso e se calhar é e provavelmente vais achar este discurso disparatado. Se sou eu? Sou, Sócrates. Sou pois. Nós somos muita coisa e não precisamos de ser iguaais aos outros ou tomar o rumo dos outros.
Toma o teu rumo, rapaz. Tens deste lado um tipo solidário contigo. :)

João Roque disse...

Querido Amigo
se eu tive, na longa e agradável conversa tido contigo, alguma influência na elaboração deste post, fico tremendamente feliz, acredita. Sei que foi um feliz acaso que, logo de seguida te pôs em contacto com o livro em questão, e que acabou por ser o "pé de cabra" que ajudou a dar mais este importante passo na tua complicada, mas consciente e necessária clarificação da vida, neste caso sexual, mas indirectamente, também, em todos os outros aspectos.
Se já encontravas aqui, neste teu canto, um local para te encontrares com os amigos e para, acima de tudo "te encontrares contigo próprio", agora que abriste mais a porta, vais encontrar ainda mais apoio e compreensão; claro que quando há largos meses já, me respondeste à pergunta que te fiz, (ainda por mail, recordas-te?), afirmativamente, eu adivinhava-o, mas é sempre bom saber as coisas pelo próprio.
Gostei muito (não é novidade...)do comentário do Catatau, que te mostra que é possível conciliar dois modos de vida, desde que se seja equilibrado e se tenha sempre a noção do tempo e do espaço; claro que o teu problema é mais vasto e portanto requer muito mais cuidado.
Apenas te peço para deixares de lado certos ditos sobre ti próprio, que compreendo e até posso aceitar, mas que, de alguma forma, podem contrariar o caminho que iniciaste de te encontrares contigo próprio; refiro-me a expressões do tipo "salpicos de nojo2 e outros, que mais não são do que pequenas bolsas de algo que ainda não está totalmente resolvido na tua mente. Será?
O testamento está longo, mas contigo é assim, perco-me...e com muito gosto.
Um forte e muito amigo abraço.

TUSB disse...

Que dizer... bem, em primeiro vou falar da cuja dita senhora, que nada tem de respeitavel, além de ter andado num trio com o marido e o motorista, depois do divorcio queria saber das contas bancárias do namorado do marido (que sempre teve mais dinheiro que o marido dela) para as partilhas... tem piadas giras a miuda... Respeito a sua dor, mas a culpada não é ela nem ele, foi a sociedade, e a vitima não foi SÓ essa senhora...

Segundo, em relação a tua revelação, bem, é dificil dizer alguma coisa. O ser humano é um ser biosociocultural, em que temos um património genético e biológico em interacção com a sociedade e a cultura... com as interacções e choques que isso implica.
Também é preciso errar para crescer, sendo, numa perspectiva Platónica, o conhecimento de nós próprios a maior das sabedorias.
Agora, o importante é saber se consegues ter uma vida feliz na tua situação, ou se só estás a desperdiçar anos de vida porque mais cedo ou mais tarde vais rebentar. E depois de ter tomado essa decisão, acartar com as consequências, porque... não há decisões sem consequências, e tudo tem vantagens e desvantagens.

No meu caso e olhando por exemplo para escala de 1 a 6 de Kinsey, criada atraves de vários estudos, para medir a orientação sexual, sendo 1 completamente heterosexual e 6 completamente homosexual. E eu estando definitivamente no 6 não me poderia encontrar num situação dessas, simplesmente porque não há nenhuma hipotese de que aconteça alguma coisa entre mim e uma mulher.
Mas tenho sempre essa pequena magoa... de que nunca vou ter filhos (em principio, e se a adopção continuar como está).
Nem tudo é preto ou branco, existe uma vasta gama de cinzentos.

De certeza que já sabes o caminho que queres seguir, mas só tu sabes qual é, só tu sofreras as consequências e só tu podes lutar pela tua própria felicidade.

(espero que não me tenha tornado demasiado confuso, eu e textos grandes em comentários, combinamos muito mal haha)

Socrates daSilva disse...

Special k,
Obrigado, muito obrigado pelas tuas palavras. Aqui interagimos com alguns companheiros com mais regularidade do que outros, e tu tens sido dos mais regulares em me comentares os posts e os teus blogues são das minhas visitas diárias. Posso considerar-te um dos bons amigos neste ambiente blogosferico. Se queres que continue a minha sinceridade, estava a sentir-me mal por me estar a “armar”. A tua empatia e apoio significam muito para mim. Sei que esta é um assunto que só a mim me cabe gerir, mas saber que posso falar dele. Está a significar muito. Sinceramente.
Um grande abraço amigo


Catatau,
Também me deixas-te…
Tens sido um comentador muito perspicaz do que vou escrevendo e por esse facto estou grato. Estou a ver que quer o Special K, quer agora tu estiveram também bastante tempo neste “limbo” da incerteza e da indefinição. Quase a dar passos cegos. Não devo ter sido o único a não ter o vosso sangue frio para na hora H não avançarem…
As tuas palavras deixam-me a pensar. Vou relê-las nos próximos tempo. Muito obrigado pela tua solidariedade. Podes crer que é importante para mim
Abraço


Pinguim,
Ó meu amigo, claro que tens “culpa” no assunto! (E fico feliz por isso)
Essa garantia de que este meu passo me vai proporcionar mais apoio e compreensão é muito importante. Não sabia o que ia acontecer. Se seria diplomaticamente ostracizado. (Que raiva, não ser nem de um mundo, nem de outro!) Ainda bem que parece que não vai ser assim. Sou mesmo muito negativo. É como essas “bolsas” que mencionas… Vou tentar melhorar, mas tenho carradas de negativismo acumulado. Sentimentos de culpa, etc e tal.
Obrigado pelo testamento. Obrigado pela paciência. Obrigado por tudo.
Abraço grande e amigo


Unfurry,
Em relação ao livro em si pouco me importa se a senhora foi também uma porca ou não. Não me admirava nada… Mas é a situação tipo que mexeu comigo, como bem entendeste, meu amigo.
A tua análise é muito interessante. Quem me dera estar devidamente informado na altura certa! Se queres que te diga, agora que estou numa de “escancarar as janelas”, tenho a dizer que a sensação que tenho é a de perder o tempo da minha vida. De não estar a viver, apenas a vegetar. Se tinha duvidas, á uns anos, de estar no 1 ou no 6 nessa escala, agora o 6 aparece cada vez mais furiosamente (estou a falar sem conhecer em pormenor técnicos a dita escala)
E essa afirmação de que nada se consegue sem esforço e uma boa dose de sofrimento é bem verdadeira. É algo a sempre levar em conta.
Obrigado também por estares aí. Um grande abraço

1/4 de Fada disse...

Caro Sócrates - é preciso coragem para escolher este nome, nos dias que correm...
Vim cá ter via "Começar de Novo".
Gostei imenso do post, aliás como do conteúdo de todo o blog, pelo que lhe dou os parabéns.
Tenciono regressar.

SP disse...

"Ter escrito hoje de uma maneira mais explícita e não nas dúbias palavras das entrelinhas foi um passo necessário para mim."

Um exemplo apenas para dizer: que bem escrito! Que actual!

Um abraço...

jorgeferrorosa disse...

Que post! Fantático. Gostei do que li. Parabéns pela força com que te expessas e continua a vida e sê feliz.
Abraços
Jorge Ferro Rosa

Socrates daSilva disse...

1/4 de fada,
Obrigado pela visita e pelo elogio! Vou fazendo o que posso com os dilemas actuais da minha vida…
Ah! O nick Sócrates… A razão não é politica. É que desde novo que sempre me fascinou a história da Grécia antiga e as suas personalidades. Este filósofo caiu-me no goto.
Também tenciono fazer uma visita ao teu blogue.
Abraço

Sp,
Estás a brincar ou a falar a sério?
Vindo de ti, “mestre”…
Obrigado e um grande abraço

Jorge,
Obrigado pelo elogio e pelo incentivo.
(Estou a ficar corado!)
Abraço

André disse...

olá sócrates, definitivamente não sei o que dizer, embora tenha estado com esta janelinha dos comentários aberta mais de meia-hora, enquanto visitava outros blogs e ia pensando no assunto. Também, há uns tempos atrás, publiquei um post sobre este mesmo livro, embora só tenha metido o texto de uma sinopse (do site da editorial presença, de que sou subscritor), com um pequeno comentário:

"Publiquei este post pela mera razão de conhecer pessoalmente três homens (amigos de infância e adolescência) - não conheço pessoalmente a mulher de nenhum (conheço duas de vista) - que são homossexuais e estão casados. Um deles é incapaz de assumir para si próprio que é homossexual. Duas das mulheres, pelo menos, sabem da situação - também não são capazes de assumir a verdade perante elas próprias - casos de egodistonia, portanto..."

infelizmente (para todos os envolvidos - directa e indirectamente), num dos casos que a que me refiro - aquele que afectivamente me diz, em parte, respeito - daquele que um dia foi o meu melhor amigo, a quem chamarei para sempre "melhor amigo" (apenas como "título", que não nos vemos vai em breve para uma década, e não nos falamos à mais de três anos) - como dizia, infelizmente destruiu a sua vida e a daqueles que o amavam (alguns dos quais - refiro-me à família - ele inferniza); hoje em dia é viciado em mulheres, alcoól e drogas - com as mulheres a diferença entre aquilo que efectivamente faz e aquilo que diz que faz/pensa que faz, é abismal - mas é um caso grave de egodistonia - fala-se de egodistonia quando não há uma correspondência entre sentimentos, pensamentos, comportamentos e atitudes -

enfim, porque estou a falar aqui disto? como te disse não sei o que dizer; se calhar porque o assunto também me toca - directa e indirectamente - directamente porque por causa de não ter sido capaz de assumir-se quem é, eu perdi para sempre aquele que era como um irmão para mim... mas é uma situação muito mais grave daquela que penso ser a tua... bem, talvez devesse ser capaz de dizer qualquer coisa sobre o assunto, de dar uma opinião, dizer o que penso... mas por vezes quando os assuntos nos tocam demasiado de perto, somos incapazes de verdadeiramente reflectir sobre eles - um dia talvez venha a ter o distanciamento necessário para tal...

qualquer que sejam os passos que venhas a dar, espero que encontres o teu caminho... desculpa esta minha "confissão" junto da tua... um grande e forte abraço...

p.s. e sim, já me tinha apercebido nas entrelinhas, da tua situação - curiosamente nas primeiras vezes que tomei contacto com os teus comentários e blog - neste e noutros blogs - mas depois pensei "não..." Afinal a minha primeira impressão estava correcta...

Socrates daSilva disse...

André benjamim,
Que comentário tão significativo…
Os assuntos quando são vivênciados entranham-se. O caso que mencionas tem realmente muito que se lhe diga.
Posso dizer que o não admitir para mim próprio foi uma fase longa da minha vida. Arranjava todas as desculpas e pretextos para me enganar e justificar a mim próprio. Mas, estava a percorrer um caminho emocionalmente autodestrutivo. Fui tendo consciência que me estava a distanciar dos meus amigos e pessoas queridas. Não era de propósito, ia acontecendo. Isolar-me no meio de outros. Ainda é a situação que vivo.
Um alarme começou a soar dentro de mim. Ou fazia algo ou em breve a situação tornar-se-ia irreversível. Estava a passar para o nível de necessitar de esquecer quem era. Não me admirava que um dia busca-se refúgio em alguma dependência. É que há sentimentos que são insuportavelmente difíceis de viver com eles. Sabia que a outra opção era falar, ouvir, aprender, gritar se fosse necessário. Mas, com quem?

O poder escrever aqui foi a saída possível. Pelo menos sinto que estou a recuperar alguma sensibilidade emocional. Mas, os dilemas tomam outra forma. E de que maneira!
O que vou fazer? Não sei. Caminhar.

Obrigado pelo teu tempo. É uma grande ajuda estas “conversas”.
Um abraço amigo

Maurice disse...

Sócrates,

Estou há que tempos a olhar para esta caixa sem saber o que escrever, mas seguro de querer dizer-te alguma coisa.
Cada um faz o seu caminho como pode e sabe. Tomamos as decisões que julgamos melhores, enveredamos por opções que julgamos mais certas... mas depois a vida vai-nos mostrando que nos enganamos com frequência.
No caso das pessoas homossexuais, julgo poder dizer, sem exagero, que cada uma delas te poderia dar uma lista infindável de erros destes. Porque às contingências comuns a todos os outros seres humanos, somamos todo o complexo entramado de problemas derivados da nossa orientação sexual. E como pesam e se infiltram em tudo o que somos!!
Não te vou dar conselhos, nem receitas. Era o que faltava! :) Mas quero partilhar contigo duas ou três coisas:

1. Embora viva uma situação distinta da tua, parece-me poder compreender muitos dos aspectos que referes. Acredita que não és "raro", nem "fraco", nem "sacana" por viveres o que vives e por sentires o que sentes. E só pelo facto de o reflectires interiormente e teres empreendido um caminho de afrontamento, por tímido que te possa parecer, já fazes mais que muitos "fortes".

2. Não sei o que vais fazer daqui para a frente. Só a ti diz respeito. E serás sempre tu a viver as consequências, boas e más que possam surgir. Mas já que quiseste partilhar connosco esta parte tão sensível da tua vida, não posso deixar de dar-te a minha opinião. Quando começamos a "ficar agoniados de um mundo de coisas dissimuladas"; quando nos sentimos "bombas relógios"; quando a urgência de falar, contactar, dizer e expressar-se se começa a impôr de maneira tão forte... se calhar está na hora de aceitar o inevitável. Porque a alternativa é "morrer por dentro". E sei, de experiência própria e dolorosa, que não há coisa pior que sentirmo-nos, como dizia Pessoa, "cadáveres adiados".

3. Nascemos sozinhos e sozinhos morreremos. E, por muito que nos tentemos enganar de mil maneiras, ninguém vive a nossa vida. Às vezes acomodamo-nos a situações que, mal por mal, podemos controlar, para não tomarmos as decisões que devíamos. É o que eu faço muitas vezes. Mas tenho uma dolorosa lucidez da dimensão auto-destrutiva que isso tem. Nem somos felizes, nem fazemos felizes aqueles em nome de quem às vezes usamos como desculpa.

4. Dizes a certa altura que, pelo facto de teres assumido aqui o que vives "não sabes se vais desiludir alguém". Certamente não serei o único aqui a poder dizer-te que subiste muitos pontos na minha consideração.
Mas também tenho de dizer-te que o facto de desiludires ou não alguém, aqui como em tudo na vida, é irrelevante. Se essa desilusão surgir por se ter acrescentado verdade e autenticidade à existência, então é um "dano colateral" necessário e bem-vindo. Se há coisa que sim, tenho clara, neste campo da vida, é que se a verdade te fecha algumas portas, logo te escancara várias janelas. Sempre mais enriquecedoras para ti.

Com isto tudo, tenho a sensação de ter estado a enrolar-me num discurso errático...:)
O que te quero dizer, no fim disto tudo, amigo Sócrates, é que estou aqui.

Abraço

com senso disse...

Na minha primeira passagem por aqui, deparo com um post "diferente", intimista, inesperado e inesperadamente belo. Um post de um "instantâneo" de uma existência...
Já muito aqui foi dito, e muito bem dito.
Por isso, eu apenas quero dizer que considero este acto de coragem com uma afirmação de liberdade um SIM à vida.
Parabéns e força!

Moi disse...

Parabéns,por ti. Por deixares a verdade subir àtua tona, por te comprenderes e assumires isso aqui.
Os acontecimentos em si não são morais, nós é que os tornamos...
Tudoo resto já foi dito aqui. Um grande abraço. Força (para o que quiseres fazer agora), estamos aqui.

Graphic_Diary disse...

Caro Sócrates, acho que este é o meu primeiro comentário (ando tão cansado que não guardo certezas de nada!) aqui no teu "jardim secreto".
Curioso, que esta tua "confissão" não me trouxe qualquer surpresa, apenas uma confirmação.
Tudo o que te deixo é um grande abraço cheio de boas energias positivas.
Seja de que maneira for, tenho a certeza que acabarás por encontrar o teu próprio caminho.
Felicito-te pela tomada de consciência, pelo teu passo, neste início do percurso que se afigurará difícil, mas superável. O mais importante na tua vida é seres fiel aos teus princípios e à tua natureza. E nada de ir beber cicuta!

Tongzhi disse...

Há tempos que vem germinando na minha cabeça a ideia de contar o meu percurso de vida até à situação que me encontro hoje - assumidamente homossexual. Quando uso a palavra "assumidamente" refiro-me a perante mim.
Esta seria uma óptima "deixa" para o fazer...
Contudo, poderia parecer uma "receita" e, nestas coisas, cada caso é um caso.
No entanto, posso dizer que o que hoje me parece ter sido uma decisão fácil, não o foi de todo.
Mas cada vez me convenço mais que foi o melhor para "todos" os directamente envolvidos na questão.
Um grande abraço com a certeza que encontrarás em ti a melhor forma de resolveres a situação

Anónimo disse...

Ter escrito hoje de uma maneira mais explícita e não nas dúbias palavras das entrelinhas foi um passo necessário para mim. Estou a ficar agoniado de um mundo de coisas dissimuladas. De ter que pensar se o que digo e escrevo se vai dar a impressão “X” ou “Y”.
Não sei se vou desiludir alguém, ou se vou já para a classificação de “infiltrado”.
Como eu te compreendo, embora por motivos diferentes...
Primeiro que tudo, procura ser tu próprio, custe o que custar e a quem custar. Quando fores verdadeiro, darás o passo seguinte.
boa sorte e muita força..

Socrates daSilva disse...

Maurice,
Em primeiro lugar, nem imaginas o que significa ver aqui o teu comentário. O teu blogue foi dos primeiros que eu “devorei” (por via do blogue “Eu confesso…”). Já te disse num comentário lá deixado que é incontornável. Se tenho hoje essa satisfação, então a preocupação que estás a colocar nas palavras deixadas aqui é razão adicional de ter ser muito grato. Podes acreditar que elas não vão cair em “saco roto.”
Tenho a sensação de que pelo teu comentário e o de outros companheiros, vou revisitar esta parte do meu blogue muitas vezes.

Bem, mas respondendo:
1.Obrigado sincero por essa avaliação. É difícil uma auto-avaliação. Ainda mais num terreno “pantanoso” em que estou a caminhar.
2.Creio que tens toda a razão. O desabafar aqui já me mudou alguma coisa. O resto vamos ver.
3.Que verdade!
4.Esse meu receio tem muito a haver com a minha experiência de vida até ao momento. Quando se sobrevive de “fachadas”, calculamos meticulosamente o que nos vai favorecer e o que nos vai prejudicar. Esse calculismo desgastou e privou-me de ser quem eu realmente era. Aqui estava consciente de que era uma espécie de “outsider”, mas sentia-me tão bem… Optei, encorajado, por ser o mais verdadeiro possível. Os comentários recebidos dão-te toda a razão!

O teu comentário não foi nada errático. Foi muito animador e estimulante. Agradeço mais uma vez o teu tempo. Fechas com chave de ouro: Obrigado por me deixares saber que estás aí…
Abraço grande


Com senso,
Em primeiro lugar, obrigado pela visita. Igualmente, pelos elogios. Tentei mesmo ser sincero.
Recebo com muito apreço os teus incentivos. Obrigado.
Um abraço grande


Moi,
Meu amigo, as tuas palavras deixam-me sem… palavras!
Nunca é de mais reafirmar que o teu abraço com muita força está a significar muito. Muito mesmo. Obrigado também por estares aí…
Abraço grande


Graphic_Diary,
Olha que dia para te receber pela primeira vez…
Eu aqui todo exposto e choroso! Bem, pelo visto já estava a ser muito bem observado, seu prespicaz!
:-)
Obrigado também pelo incentivo. E em relação á cicuta, Nã… Isso não resultou muito bem para o meu homónimo. Dizem que ficou muito tempo sem falar… E eu agora tenho muito que dar á língua, e á tecla!
Abraço grande


Tongzhi,
Olha que eu gostava MUITO de saber a tua história. Não para plagiar, mas para me fazer sentir a mim e a muita gente anónima que lê os blogues que as lutas vencem-se. Uma espécie de testemunho de vida. Pensa nisso…
Obrigado e um abraço grande também para ti


Jasmimdomeuquintal,
Obrigado pela compreensão. Sejam qual for a situação de cada um, a tua empatia é uma qualidade notável.
Obrigada pelas palavras de animo. Ser verdadeiro pode ter um alto preço, mas cada vez estou mais convencido de que vale a pena.
Bjs

Angelo disse...

Olha, nem sei o que dizer. Nao sei. Porque nao sei como e ter que me fechar assim que digo "sim". So posso deixar aqui um abraco de apoio e esperar que, como alguem escreveu aqui, econtres o teu rumo. Seja ele qual for.

Socrates daSilva disse...

Ângelo,
Muito grato pelas tuas palavras e pelo teu abraço! Deve ser o abraço que recebo que vem de mais longe. Aproveito para te dizer o gosto que tenho em ver as tuas fotografias e visão do oriente.
Um abraço grande para ti!

O Fugitivo disse...

Meu caro Sócrates da Silva
O meu segundo comentário na blogosfera tinha que ser aqui. Não para colocar as palavras que já escrevi mas tão só para registar, aqui, simbolicamente, um abraço solidário.
Daquele que agora se dá pelo nome de
Fugitivo

Socrates daSilva disse...

o fugitivo,
Quanta honra! Espero ter mais vezes a tua presença...
Conta comigo.
Um grande abraço